Arruda Bastos: O pato brasileiro e os brasileiros patos
“Parte dos brasileiros se deixou levar pelo pato da Fiesp, mídia golpista e partidos políticos reacionários e envolvidos em todo tipo de falcatrua. Eles iludiram os incautos e os transformaram em ‘patos’. Hoje, esse grupo encontra-se arrependido e entendem que todos nós vamos ‘pagar o pato’ com as reformas trabalhista, previdenciária e a terceirização irrestrita promovida por esse governo ilegítimo".
Por *Arruda Bastos
Publicado 24/03/2017 17:39 | Editado 04/03/2020 16:23

Resolvi, na minha crônica de hoje, falar de um belo espécime que está, no momento, em evidência no Brasil: trata-se do lépido e fagueiro pato. Ele foi inspiração para diversas campanhas publicitárias da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) e elas responsáveis por transformar uma grande quantidade de brasileiros em “patos”.
Pato é uma ave da família “Anatidae”, geralmente menor que os anserídeos (gansos e cisnes), encontrado em água doce e salgada. Eles alimentam-se de vegetação aquática, moluscos e invertebrados. Algumas espécies são migratórias. O pato é um dos poucos animais que andam, nadam e voam; é o único que consegue dormir com metade do cérebro e manter a outra em alerta. O pato da Fiesp é assim, não dorme de touca.
Na culinária, ele é muito apreciado e em várias regiões do nosso país é destaque no cardápio de restaurantes e da cozinha popular. Podemos destacar receitas utilizando a apetitosa ave com laranja, assado, cozido, o tradicional arroz de pato, com tucupi e o insuperável peito de pato com figos assados e batatas ao roquefort. Vou parar, pois já estou desejando traçar o pato da Fiesp.
Na música, ele é inspiração e encontra-se presente em várias páginas do nosso cancioneiro. Quem não lembra a letra “Lá vem o Pato / Pata aqui, pata acolá. / Lá vem o Pato / Para ver o que é que há / O Pato pateta / Pintou o caneco / Surrou a galinha / Bateu no marreco / Pulou do poleiro / No pé do cavalo / Levou um coice / Criou um galo… Comeu um pedaço / De genipapo / Ficou engasgado /Com dor no papo / Caiu no poço / Quebrou a tigela / Tantas fez o moço / Que foi prá panela”. É o que está acontecendo agora com o da Fiesp.
No cinema, ele é astro de primeira grandeza na obra de Walt Disney: tio Patinhas, Pato Donald, seus sobrinhos e muitos outros. Em filmes adultos ele também está presente, sempre com grande desempenho. É querido por espectadores de todas as idades e super premiado no Oscar e em outras cerimônias de Hollywood. Como o da Fiesp, ele é mesmo bom de comédia.
Na linguagem popular, o pato sempre está presente. A expressão mais conhecida é “pagar o pato”, que significa fazer o papel de tolo, pagando por aquilo que não deve. “Pagar o pato” é de origem portuguesa e proveniente de um jogo que era praticado no passado. Ela é utilizada para rotular a pessoa que leva a culpa por algo ou arca com as consequências de determinada ação realizada por outra. Foi o que os iludidos pelo pato da Fiesp acarretaram.
Para concluir, digo que infelizmente uma parte dos brasileiros se deixou levar pelo pato da Fiesp, mídia golpista e partidos políticos reacionários e envolvidos em todo tipo de falcatrua. Eles iludiram os incautos e os transformaram em “patos”. Hoje, esse grupo encontra-se arrependido e entendem que todos nós vamos “pagar o pato” com as reformas trabalhista, previdenciária e a terceirização irrestrita promovida por esse governo ilegítimo.
Agora só nos resta, com espírito cristão, dizer como Jesus: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34) ou apelar para o texto judaico que diz: “O arrependimento é a chave que abre qualquer fechadura”. Vamos, então, lutar juntos, “patos” ou não, para a volta da nossa democracia. Antes tarde do que nunca!
*Arruda Bastos é médico, professor universitário, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, radialista, ex-secretário da saúde do Ceará e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.
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