ONU desmente supostos prêmios de ministros de Temer
Há quase sete anos, José Serra (PSDB), atual ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer, foi enganado ou fez enganar sobre ser homenageado com um prêmio da ONU sobre sua atuação frente às políticas públicas de saúde no Brasil. O reconhecimento era, entretanto, de uma ONG que não representava as Nações Unidas. Agora, mais uma ministra de Temer divulga em sua biografia um título da ONU que também não existe.
Publicado 17/02/2017 10:12
A desembargadora aposentada Luislinda Valois foi nomeada para o recém Ministério dos Direitos Humanos. Em nota divulgada, o Palácio do Planalto ressaltou que a nova ministra tinha o título de “embaixadora da paz da ONU em 2012”.
A Folha de S. Paulo foi verificar junto às Nações Unidas se a informação era verdadeira. Em resposta, a ONU teve que desmentir a informação, completando ainda que o posto de “embaixadora da paz” da organização sequer existe.
Na verdade, a homenagem foi de uma ONG chamada UPF, que significa Federação para a Paz Universal. É apenas uma das mais de três mil entidades que prestam serviços de consultoria não ainda para a ONU, mas para um dos braços econômicos e sociais das Nações Unidas, a Ecosuc.
“Nenhuma instituição ou empresa está formal ou legalmente autorizada a representar ou a falar em nome das Nações Unidas, ou de qualquer departamento do Secretariado da ONU”, disse a organização, em resposta.
Não é a primeira vez ou o primeiro caso. Em 2009, o tucano José Serra saiu alardeando nas redes sociais que, a caminho da Suíça, estava cansado, mas ainda precisava preparar seu discurso para receber a homenagem da ONU.
Á época, assim como agora fez o Planalto, o governo de São Paulo divulgava em seu portal a notícia oficial: “Serra recebe homenagem na sede da ONU, em Genebra”. O release foi repercutido nos grandes jornais e imprensa, destacando o título recebido pelo então governador do estado, José Serra.
Mais uma vez, a própria ONU foi obrigada a desmentir a publicidade. O escritório da ONU no Brasil escreveu uma nota de esclarecimento, informando que a homenagem era de uma Organização da Família, que era ONG, e mais uma das 3 mil associadas ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.
“A World Family Organization (WFO) não é uma entidade da Organização das Nações Unidas. Trata-se de uma Organização Não Governamental (ONG) associada ao Conselho Econômico e Social da ONU (…) As ONGs associadas não representam a ONU nem podem, em qualquer hipótese, falar em nome da Organização”, desmentiu.
Soube-se que era apenas uma entidade que fazia serviços voluntários para a ONU. E, ainda, não seria nem preciso ir à Suíça para receber o prêmio, porque a fundadora era uma médica brasileira e a sede fica em Curitiba, no Paraná, Brasil.
O “discurso” formulado pelo então governador de São Paulo foi feito dentro de uma sala da ONU. Outras duas homenageadas na mesma ocasião – uma princesa do Kuwait e a ex-primeira-dama do Reino Unido – nem se deram o trabalho de comparecer ao local para receber o prêmio.
O enaltecimento divulgado pelo Planalto, agora, em 2017, pode ser assim descrito: o mesmo prêmio recebido pela nova ministra de Temer foi concedido também à banda baiana de forró Flor Serena, ao ex-candidato a prefeito João Bico (PSDC/SP) e a outros líderes religiosos.