Publicado 09/02/2017 16:13
Porque não há vergonha maior do que ver mãos gatunas defendendo o respeito ao processo legal diante de “mãos limpas” que só fazem agredi-lo.
Cunha reclama que está preso indevidamente, porque não existem as condições para que ele destrua provas e se valha de seu poder para representar ameaça à ordem pública, porque não tem mais poder algum.
É tão verdadeiro quanto dizer que esteve solto por um ano inteiro em que pôde fazer isso: como presidente da Câmara, tinha poder para isto e para muito mais, como provou deflagrando e conduzindo o processo de impeachment que, depois, pela inércia da manada parlamentar em marcha, tornou-se irreversível.
Pode ter toda a razão legal a nossa Corte Suprema em querer agir com muita prudência, não prendendo ou cassando mandatos sem que haja outra alternativa.
Não há, porém, nenhuma razão moral para que se aja assim quando ela tolera, permite e homologa o “prende todo mundo e enfia na cadeia até que diga o que a gente quer” praticado em Curitiba, nas suas barbas.
É como a santidade daquela imagem de Nossa Senhora, banhada de luz mortiça, que se punha nas pilastras e paredes dos bordéis do passado: desde que se preserve a sacralidade do nicho supremo, faça-se a reverência da vela acesa, do copo d’água e da rosa posta a seus pés, estão abençoadas todas as trampolinagens em torno dele.
Vergonha suprema para nosso país e para a sua Justiça que a razoável e equilibrada aplicação da lei tenha de ser defendida por um bandido como Eduardo Cunha, enquanto os santos homens violam, profanam e façam mofar no cárcere – o de grades e o da humilhação pública a outros que, segundo seus próprios critérios ou desejos, possam ser matéria prima para sua volúpia de poder e de vingança política.
A verdade, mesmo quando ela sai de uma boca imunda como a de Cunha, é sempre clara e luzidia em sua crua nudez.
Quem pode discordar do que ele diz ao escrever que a legalidade “tornou-se mero detalhe em Curitiba, já que basta prender para tornar o fato ilegal em consumado”?
Ou que a pressão exercida pelas “alongadas prisões”, do dizer de Gilmar Mendes são o azeite da confissão dirigida, inclusive com a transferência a um presídio, daqueles “que não aceitam se tornar delatores, transformando a carceragem da Polícia Federal em um hotel da delação”?
Eduardo Cunha pode ser um rato nos desvãos da corrupção, uma serpente peçonhenta nas salas do poder, mas quando a verdade sai da boca de um porco e não da dos homens de toga, só os cúmplices ou imbecis podem dizer que ela é mentira pela lama do seu focinho.
A prisão de Eduardo Cunha, meses atrás, quando foi pedida pela Procuradoria, já diante do mesmo rol de provas que se tem hoje, poderia ter evitado a destruição de provas e, com toda certeza, preservaria a ordem pública de nada menos que um golpe de Estado e a entrega da Nação a uma camarilha de réus, denunciados e investigados por corrupção, o que Dilma Rousseff nunca foi.
Agora, porém, ela se presta apenas a atender ao compreensível clamor público por punição a um ladravaz cínico. E, sobretudo, para dar ao país a impressão pública de que temos uma Justiça “erga omnes”, igual para todos.
Há esperança para Cunha. Os porcos são muitos e estão no poder. Com direito, inclusive, a colocar no nicho a imagem que quiserem.