Luciano Siqueira: Duas pedras no caminho
Na luta política, dois erros crassos são recorrentes: a leitura “voluntarista” da realidade e o desrespeito a opções discrepantes adotadas por aliados, e consequências danosas. Em consequência, ocorrem derrotas e se fragilizam as possibilidades de recuperação do terreno perdido. É o que acontece na atual fase de vacas magras que atinge duramente as forças políticas de esquerda e do campo progressista.
Publicado 31/01/2017 16:37 | Editado 04/03/2020 16:55

Ora, se sofremos uma derrota histórica e de cunho estratégico — um ciclo de transformações que durava 12 anos foi interrompido —, do que menos se precisa nesse instante é de arroubos hegemonistas, bravatas e presunção de verdade absoluta.
A recomposição das forças momentaneamente derrotadas há que acontecer no curso da resistência ao golpe institucional e às políticas regressivas e implica compreensão exata da correlação de forças real e, portanto, percepção aguda do que é possível, no sentido da acumulação de forças para uma contraofensiva futura.
É o que traduz a aspiração a uma ampla frente de defesa da democracia, de direitos e conquistas ameaçados e da retomada do crescimento econômico em bases soberanas, com valorização do trabalho e inserção social.
Proposições e “fórmulas” experimentadas na conjuntura anterior não cabem na realidade atual.
Forças que exerceram, com méritos, papel destacado podem ou não cumprir desempenho semelhante agora. É a roda da vida – e da luta política.
O fato é que, com o impeachment da presidenta Dilma, um ciclo foi interrompido e outro ciclo, de natureza diametralmente oposta tem lugar.
Compreender o que se passa é indispensável. Abertura, flexibilidade e, sobretudo, respeito às opiniões das demais correntes políticas do campo progressista são pressupostos do bom diálogo, efetivamente produtivo.
Em nada ajuda a postura de metralhadora giratória, destinada atingir indiscriminadamente adversários e aliados.
Muito menos ajuda rotular este ou aquele partido, grupo ou personalidade. Vale a posição de cada um em relação a agenda atual e, com base nela, a busca de pontos de convergência que se superponham a divergências circunstanciais.
Às correntes políticas de matiz popular cabe, nesse sentido, uma responsabilidade estratégica, em razão do papel histórico que têm a cumprir.
E na História não há registro de transformações sociais de envergadura sem a conjugação de forças heterogêneas e sem alianças tão avançadas quanto possíveis.
Fora disso, resta a inconsequência.
Publicado originalmente no Blog da FolhaPE.
(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.
Leia mais:
lucianosiqueira.blogspot.com * https://www.facebook.com/luciano.siqueira.35912?fref=ts * https://www.facebook.com/LucianoSiqueira65/?pnref=story * Twitter: @lucianoPCdoB *