A morte de Teori: Faça parecer um acidente!
Uma simples pesquisa no Google revela quantas vezes a frase “faça parecer um acidente” foi usada na literatura ou por cineastas para se referir aos criminosos nas mais diversas situações em que se tentou encobrir um “crime perfeito”.
Por Paulo Pimenta*
Publicado 24/01/2017 10:33
É absolutamente natural que o país esteja acompanhando com perplexidade os desdobramentos das investigações sobre a morte de Teori Zavaski, ministro do STF e relator da Lava Jato. Afinal de contas, enquanto as probabilidades matemáticas quase impossíveis tornam difícil acreditar que tenha ocorrido um acidente, a conspiração para eliminar uma figura tão importante no cenário político do país torna-se quase unanimidade.
Um aplicativo recentemente lançado, chamado “Am I going down?” (Eu vou cair?) demonstra que a chance de acidente em um voo comum é na ordem de 1 para 2,8 milhões. Imagine esta probabilidade, considerando-se, apenas os onze ministros do STF.
Agora, imagine esta probabilidade em relação a um ministro do STF, o relator do processo da operação Lava Jato. Além dessa equação, cabe destacar que o “acidente” ocorreu um dia após o ministro anunciar que tornaria públicas as 77 delações da Lava Jato que atingiriam o núcleo central do governo golpista de Michel Temer.
Pesquisas revelam que mais de 80% da população brasileira não acredita na tese de um acidente. Por quê? Além das probabilidades descritas e da gama de interesses em escamotear as revelações do relator, o responsável pelas investigações é justamente o ministro da justiça, Alexandre de Moraes, cogitado e defendido pelos governistas como possível sucessor do ministro morto.
Teori Zavascki era responsável por um processo que revelaria fatos capazes de derrubar o governo Temer, assim como ficaram expostas as negociatas que levaram à derrubada da presidenta Dilma Rousseff, bem como os esquemas criminosos vinculados a interesses econômicos poderosíssimos que envolveram o Golpe de 2016.
Qualquer investigação de um crime começaria com a pergunta: Quem teria interesse que o crime ocorresse? Ou seja, é relevante saber quem seriam os beneficiados com a morte do ministro do STF.
Outra questão preliminar é saber é sobre as ameaças que o ministro vinha sofrendo, “houve investigação?”; “quais resultados?”. Nesse caso específico, além dessas questões que não foram respondidas ainda, é imprescindível fazer os seguintes questionamentos: “Por que o ministro estava viajando sem seguranças?”; “por que a aeronáutica decidiu não remover o avião do fundo do mar?”; “por que o avião que caiu teve 1.885 consultas no site Jet Fotos, no dia 3 de janeiro, e quem fez essas buscas?”; “por que a identidades das duas passageiras que estavam com eles no voo só foi revelada quase 24h depois da queda?”; “procede a informação de que uma das passageiras pediu socorro por quase uma hora?”; “quanto tempo demorou a chegada de socorro ao local, e por que a passageira não foi imediatamente resgatada?”.
É bastante estranho entender a relação do ministro do STF com o empresário dono do avião e da ilha para onde se dirigiam em Parati, uma vez que o empresário era réu no STF e sócio de um banqueiro investigado pela Lava Jato. Em que pese tais interrogações, para elucidação de um possível crime cabe ainda indagar qual frequência de visitas do ministro Teori à ilha de Parati, se ele já havia viajado nesse avião e quem conhecia essa programação.
Por que um ministro do STF, detentor de informações tão comprometedoras, viajou sem segurança? À medida que estava sendo ameaçado, que estava às vésperas de homologar e tornar públicas as delações de corrupção envolvendo figuras chaves do governo, custa-se acreditar que nenhuma medida de segurança tenha sido adotada.
O governo brasileiro deve uma explicação à população que espera respostas convincentes, resultantes de uma investigação isenta e realizadas por uma equipe plural, que contemple a participação de organizações não governamentais que atuam no país e também organismos internacionais. Uma investigação séria deverá se pautar por procedimentos e mecanismos capazes de impedir a pressão por parte de quem possa se interessar por uma não elucidação dos fatos.