Privatizar a UERJ e salvar a Oi. Essa conta não fecha!

No último dia 9, o Conselho da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, comunicou em carta endereçada ao governador Luiz Fernando Pezão que "as suas atividades ficarão impossibilitadas nas diversas unidades acadêmico-formativas e administrativas" devido ao atraso no pagamento, desde novembro, dos salários, bolsas e verbas de custeio.

Por  Por Tati Pansanato e Thanee Degasperi, no Mídia Ninja

No Rio, estudantes e funcionários fazem ato em defesa da Uerj - Agência Brasil

"A Uerj tem funcionado muito precariamente, às vezes sem luz, sem internet funcionando, o serviço de limpeza pago é com atraso, segurança, restaurante universitário, tudo com atraso. Mas, principalmente, com atraso nas bolsas dos estudantes. São mais de 9 mil cotistas que têm a bolsa-permanência, que é uma verba do governo federal para permanência de quem tem baixa renda comprovada, além dos alunos bolsistas dos projetos da universidade que também estão sem receber desde novembro", afirma a sub-reitora de Graduação, professora Tania Maria de Castro Carvalho.

A UERJ se recusa a participar do desmonte da educação pública e da saúde pública no estado e no país. Essa é a posição inabalável da nossa universidade.


Privatizar é bom pra quem, cara pálida?

No sábado, 15 de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, defendeu em artigo publicado no jornal O Globo um modelo de financiamento privado das universidades públicas do Brasil, baseando-se nos moldes norte-americanos de ensino, usando como exemplo a situação da UERJ, praticamente abandonada pelos governos Federal e Estadual. O artigo gerou incômodo e, rapidamente, especialistas e acadêmicos entraram na defesa do ensino público e de qualidade.

É evidente que esta proposta se desdobra da PEC 55: Trata-se de liquidar o ensino superior público, universal e gratuito e sua autonomia pedagógica diante do grande capital. Trata-se de submetê-lo radicalmente ao mercado, sobretudo quando a lei de cotas impõe a presença de 50% dos alunos vindos de escola pública – resumiu o Professor da UFRJ, Carlos Eduardo Martins, em matéria publicada pelo site Justificando.
Quanto custa?

Segundo Tânia Maria de Castro Carvalho "A folha de pagamento dos docente e técnicos administrativos ativos e inativos é de R$ 80 milhões por mês e a verba para manutenção e custeio de todos os campi da universidade é de R$ 23 milhões."

Jandira Feghali participa do abraçaço na UERJ. Foto: Marcelo Rocha / Mídia NINJA

A UERJ tem maior parte de seus recursos provindos inicialmente do Tesouro do Estado – verba Federal – e como disse Eduardo Beniacar, professor universitário, "O Governo Federal quer dar 65 bilhões pra Oi [empresa de telecomunicação]. O orçamento anual da UERJ é de 430 milhões. O presente que o Governo quer dar pra Oi sustenta a UERJ por 120 anos."

A responsabilidade dos pagamentos destinados à universidade é da Secretaria da Fazendo do Estado do Rio de Janeiro, porém, sem previsão de data, a Sefaz diz que “os repasses serão regularizados tão logo haja disponibilidade de recursos em caixa”.

Resposta das ruas

Servidores, docentes e discentes reagem ao desdém do Estado e contra o sucateamento do ensino público e vão às ruas. Na tarde de ontem, 18, centenas de pessoas caminharam até o Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio, para denunciar o descaso do Pezão e exigir o pagamento dos salários em atraso para que a situação possa ser normalizada. São inúmeras pessoas que estão sofrendo com isso. Aluguel, comida, contas a pagar, água, luz, telefone, internet, financiamentos, empréstimos: tudo em atraso! Sem falar nos mais de 9 mil cotistas que dependem desse dinheiro, que era depositado mensalmente para custear seus estudos. É o verdadeiro ataque ao direito à educação, aos pobres, aos professores.

Na tarde de hoje UERJ recebeu mais de 4 mil pessoas que foram até a universidade realizar um ato simbólico de solidariedade: um 'abraçaço' na UERJ! Sevidores, professores estudantes, movimentos sociais, incluindo o deputado estadual professor de história, Marcelo Freixo (Psol), e a deputada federal, Jandira Feghali (PCdoB), que lutam para manter os programas sociais estabelecidos nos últimos governos e o caráter público da UERJ.

Milhares de pessoas de mãos dadas, fizeram o 'abraçaço' dar duas voltas no campus de 1300 m². O ato pediu a regularização dos salários em atraso e a defesa de uma UERJ pública e de qualidade, dizendo não à possível privatização.

"Eu estudo aqui desde 2012, e nunca vi a universidade se mobilizar dessa maneira, é muito significativo ver a comunidade se esforçando pra manter essas portas abertas. E mais ainda pra quem vai entrar que possa ver isso, e possa permanecer com a qualidade histórica da UERJ." – George Torno, 25, coordenador geral do DCE – UERJ.

Educação não é mercadoria!