Publicado 13/01/2017 18:16
Longe do fim. Esse é um resumo da perspectiva para a crise da economia brasileira neste ano que apenas se inicia. A “promessa” de que, após a derrubada do governo Dilma, a situação do país iria melhorar, não passou de palavras ao vento por parte dos setores que apoiaram o impeachment. As projeções mais recentes sobre crescimento da economia, do emprego e da renda apontam para a continuidade e até piora no quadro de recessão. Ao mesmo tempo, as medidas adotadas pelo governo Temer, além de não enfrentarem os problemas estruturais do país, vão agravar as condições de vida da população mais pobre e até da classe média, além de rebaixar a qualidade de serviços públicos essenciais como saúde e educação, que já sofrem historicamente com investimentos insuficientes.
A reportagem do Brasil de Fato levantou alguns dos principais indicadores econômicos divulgados recentemente e que ajudam a compor o quadro de perspectivas para 2017. Crescimento econômico quase nulo, desemprego, aumento da pobreza e cortes de direitos estão entre os sintomas mais dramáticos desse cenário. Os brasileiros terão muitos motivos para se indignar. Confira:
Desemprego
O número de desempregados aumentou em mais de 2 milhões de pessoas ao longo de 2016, atingindo a marca de 12 milhões de brasileiros sem trabalho. Para 2017, a expectativa é de que a situação piore ainda mais. Dos atuais 11,8% de desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as projeções dos agentes econômicos indicam que o ano vai terminar com 12,7% ou até 13% da população fora do mercado de trabalho. Se esses números se confirmarem, serão pelo menos mais um milhão de pessoas desempregadas neste ano. O Brasil só deve recuperar o estoque de vagas que tinha em 2014, quando o país vivia situação de pleno emprego, entre os anos 2020 e 2021.
Economia estagnada
O Brasil amarga dois anos consecutivos de queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB), que é o indicador de crescimento da economia. Em 2015, foi 3,8% e em 2016, as projeções indicam algo em torno de 3,5%, situação que beira uma verdadeira depressão econômica. Para 2017, as expectativas já foram revisadas pelo menos dez vezes pelos agentes econômicos, sempre para baixo. Agora, estipula-se que o país voltará a crescer, no máximo, 0,5%, uma situação de estagnação econômica. Isso se os cenários nacional e internacional não influenciarem negativamente a economia. Internamente, a crise política pode piorar com a revelação das delações premiadas de executivos da Odebrecht, o que poderia resultar na disparada do dólar, com graves consequências para a retomada da atividade econômica. Externamente, a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos ainda causa apreensão. As medidas econômicas do bilionário podem forçar o Banco Central norte-americano a aumentar a taxa de juros, o que também acarretará uma fuga de dólares do Brasil, prejudicando os investimentos.
Cortes e investimentos
Até agora, as principais respostas do governo Temer para a crise foram a aprovação da PEC 55, que congela os gastos públicos por 20 anos, e a tentativa de aprovar a reforma da previdência. As duas medidas, na opinião de economistas, tem pouco efeito para diminuir o déficit fiscal no curto prazo e ainda pioram as condições de vida da população que depende dos serviços públicos. Por outro lado, segundo a professora Laura Carvalho, do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP), o governo se recusa a enfrentar o grave problema da isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que beneficia acionistas de grandes empresas. Só esta medida faz com que o Brasil deixe de arrecadar mais de R$ 40 bilhões por ano. “Só isso já abriria espaço para a retomada dos investimentos públicos em infraestrutura, que têm reconhecida capacidade de indução do investimento privado”, escreveu a professora, em recente artigo publicado em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo.
Aumento da pobreza
Outro dado preocupante é o aumento da extrema pobreza no país, que não ocorria desde 2009, segundo dados do IBGE. A quantidade de famílias com rendimento inferior a 25% do salário-mínimo subiu em 2015, de 8% para 9,2%. O aumento de famílias em extrema pobreza só não foi maior por conta de pensões e benefícios do INSS que tem aumentos atrelados ao salário mínimo e aos programas sociais de transferência de renda. Porém, essas conquistas estão ameaçadas pela reforma da Previdência, que deverá acabar com a vinculação entre salário mínimo e benefícios, além de reduzir o número de pessoas atendidas. Ao mesmo tempo, os cortes de programas sociais também vão atingir a população mais pobre, que depende dessas iniciativas até mesmo para não passar fome.