Sem Terra sofrem atentado a bala em Santa Helena de Goiás
Mais um episódio de violência por parte do latifúndio tensiona a disputa em torno das terras da Usina Santa Helena, em Santa Helena de Goiás-GO. Na última quarta-feira, dois seguranças fardados da empresa, ligada ao grupo Naoum, efetuaram disparos contra o acampamento Leonir Orbak, ameaçando e assustando as famílias que ali vivem.
Publicado 09/01/2017 13:39
Numa ação miliciana, os atiradores fugiram deixando cair um pente carregado de munição, que foi prontamente encaminhado à delegacia para denúncia. O tratamento recebido pelos acampados que tentaram efetuar a denúncia na delegacia evidencia o atrelamento entre Capital no campo, Polícia e Justiça/Ministério Público, no estado de Goiás.
Mesmo sendo vítimas de um atentado violento com arma de fogo, os agricultores foram hostilizados na delegacia de Santa Helena pelos policiais, que não lavraram a entrega do pente de munição e demonstraram claro descaso pelo ocorrido. É esse mesmo consórcio em favor do latifúndio que tem encampado uma verdadeira caça às bruxas aos militantes do MST em Goiás, criminalizando a luta por Reforma Agrária.
Leia a denúncia do Movimento no estado:
A direção do MST-GO denuncia o atentado praticado pela Usina Santa Helena contra o acampamento Leonir Orbak. Nesse último dia 4, no final da tarde, dois vigilantes fardados da Usina se aproximaram do acampamento e efetuaram vários disparos de pistola. Os tiros foram efetuados em direção a um grupo de famílias onde, inclusive, havia crianças. Após mobilização dos acampados, os atiradores fugiram, mas deixaram cair um pente de munição.
Imediatamente ao ocorrido a direção do acampamento se articulou com o Núcleo de Direitos Humanos de Rio Verde e Região e se dirigiu à delegacia de Santa Helena para efetuar o Boletim de Ocorrência e cobrar providências. Houve claro descaso com a denúncia, não sendo lavrada a entrega do pente de munição e até o presente momento o delegado da região não deu qualquer informação, tampouco providenciou diligências para conseguir outras provas do atentado.
O conflito com a Usina Santa Helena, integrante do Grupo Naoum, devedor de R$ 1,1 bilhão aos trabalhadores e à União, vem ocorrendo desde 2015, quando mais de 4 mil famílias do MST ocuparam diversas áreas que foram arrecadadas pela União junto à Usina. O juiz da comarca, Thiago Boghi, e o Ministério Público Estadual da região já demonstraram seu total comprometimento com os interesses da usina, iniciando inclusive a perseguição aos militantes do MST na região, que resultou na prisão, no dia 14 de abril de 2016, de Luis Batista Borges, que continua preso, e na prisão de José Valdir Misnerovicz, que ficou 143 dias preso, sendo solto via habeas corpus expedido pelo STJ. O mesmo processo também busca prender Natalino e Diessyka, exilados da luta pela reforma agrária.
Em denúncia contra a perseguição ao MST e reivindicando a desapropriação da Usina, as famílias sem terra ocuparam a fazenda Ouro Branco, próxima à área industrial da Usina, no dia 31 de julho de 2016 e lá permanecem graças a decisão do Tribunal de Justiça de Goiás, que suspendeu a reintegração de posse emitida pelo juiz Thiago Boghi. Em homenagem ao lutador Sem Terra Leonir Orbak, tombado na luta no centro-oeste do Paraná em 2 de abril deste ano, o acampamento recebeu seu nome, e já está produzindo grande variedade de alimentos agroecológicos.
Reafirmamos o nosso compromisso com a transformação do latifúndio da Usina Santa Helena em assentamento da Reforma Agrária e resistiremos a qualquer tentativa covarde de impedir nossa luta.