OIT aponta queda nos salários e maior desigualdade
O crescimento dos salários em todo o mundo tem desacelerado desde 2012, caindo de 2,5% para 1,7% em 2015, o menor nível em quatro anos. Se a China, onde o crescimento salarial foi mais rápido do que em qualquer outro lugar, não for considerada, o crescimento dos salários globais caiu de 1,6% para 0,9%, de acordo com o Relatório Global sobre Salários 2016-2017 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Publicado 04/01/2017 14:14
Em grande parte do período que seguiu a crise financeira de 2008-09, o crescimento dos salários mundiais foi impulsionado por um crescimento relativamente forte nos países e regiões em desenvolvimento. Mais recentemente, no entanto, esta tendência sofreu uma desaceleração ou se reverteu.
Entre os países emergentes e em desenvolvimento do G20, o crescimento dos salários reais caiu de 6,6% em 2012 para 2,5% em 2015. Por outro lado, o crescimento dos salários entre os países desenvolvidos do G20 subiu de 0,2% em 2012 para 1,7% em 2015, o índice mais alto dos últimos dez anos. Em 2015, os salários cresceram 2,2% nos Estados Unidos, 1,5% no Norte, Sul e Oeste da Europa, e 1,9% nos países da União Europeia.
“O crescimento mais rápido dos salários nos Estados Unidos e na Alemanha explica uma parte importante dessas tendências. Ainda não está claro se um desenvolvimento tão encorajador será sustentado no futuro, à medida que os países desenvolvidos enfrentam uma crescente incerteza econômica, social e política”, disse a Diretora Geral Adjunta de Políticas da OIT, Deborah Greenfield. “Num contexto econômico em que uma demanda mais baixa leva a preços mais baixos (ou deflação), a queda dos salários poderia ser fonte de grande preocupação, pois poderia aumentar a pressão para a deflação”.
Com o tema Desigualdade Salarial no Local de Trabalho, o relatório observa grandes diferenças regionais entre as economias em desenvolvimento. Por exemplo, em 2015, o crescimento dos salários manteve uma taxa relativamente robusta de 4% no Sul e Leste da Ásia e no Pacífico, enquanto diminuiu para 3,4% na Ásia Central e Ocidental e foi estimado provisoriamente em 2,1% nos Estados Árabes e em 2% na África. No entanto, em 2015 os salários reais caíram em 1,3% na América Latina e no Caribe e em 5,2% no Leste Europeu.
Desigualdade salarial fica abrupta no topo
O relatório também analisa a distribuição dos salários dentro dos países. Na maioria dos países, os salários sobem gradualmente, mas saltam de maneira acentuada ao chegar nos 10% dos salários mais altos. Além disso, esse aumento é ainda mais drástico para o 1% final, que representa os trabalhadores mais bem pagos.
Na Europa, os 10% dos trabalhadores mais bem pagos recebem em média 25,5% do total dos salários pagos a todos os empregados em seus respectivos países, o que é quase o mesmo que os 50% que recebem os salários mais baixos (29,1%). A parcela recebida pelos 10% mais bem pagos é ainda maior em algumas economias emergentes, como o Brasil (35%), a Índia (42,7%) e a África do Sul (49,2%).
A desigualdade salarial é ainda mais acentuada para as mulheres. Embora a diferença salarial geral por hora entre homens e mulheres na Europa seja de cerca de 20%, a diferença salarial entre homens e mulheres no grupo dos 1% de trabalhadores mais bem pagos chega a cerca de 45%. Entre homens e mulheres que ocupam cargos de diretores executivos e estão entre o 1% de trabalhadores mais bem pagos, a diferença salarial entre homens e mulheres é acima de 50%.
Papel das desigualdades salariais entre e dentro das empresas
Pela primeira vez, o Relatório Global sobre Salários analisa a distribuição dos salários dentro das empresas, examinando em que medida a desigualdade salarial geral é resultado de desigualdades salariais entre empresas e desigualdades salariais dentro das empresas.
A desigualdade entre empresas tende a ser maior nos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos. Enquanto nos países desenvolvidos os salários médios dos 10% mais bem pagos nas empresas tendem a ser entre duas e cinco vezes mais altos do que os dos 10% com salários mais baixos, esta taxa sobe para oito no Vietnã e até 12 na África do Sul.
“Em média, em 22 países europeus, a desigualdade dentro das empresas representa 42% da desigualdade salarial total, enquanto o resto é devido à desigualdade entre as empresas”, disse a economista da OIT e uma das autoras do relatório, Rosalia Vazquez-Alvarez.
Ao comparar os salários dos indivíduos com o salário médio das empresas nas quais trabalham, o relatório constatou que, na Europa, cerca de 80% dos trabalhadores recebem menos do que o salário médio da empresa em que trabalham. No grupo de 1% das empresas com salários médios mais elevados, o 1% dos trabalhadores com salários mais baixos recebe em média 7,1 euros por hora, enquanto o 1% dos trabalhadores com salários mais altos recebe em média 844 euros por hora.
“A extensão da desigualdade salarial dentro das empresas – e sua contribuição para a desigualdade salarial total – é muito grande, o que indica a importância de políticas salariais dentro das empresa para reduzir a desigualdade global”, disse Greenfield.
O relatório destaca políticas que podem ser usadas e adaptadas às circunstâncias de cada país para reduzir a desigualdade salarial excessiva. Os salários mínimos e a negociação coletiva desempenham um papel importante neste contexto. Outras medidas possíveis incluem a regulação ou a autorregulação da remuneração dos executivos, promovendo a produtividade de empresas sustentáveis e abordando os fatores que levam à desigualdade salarial entre grupos de trabalhadores, incluindo mulheres e homens.