Jô Moraes: Somos todos Chapê

“Creio que quando a gente enfrenta uma tragédia da dimensão da ocorrida com a Chapecoense, com mortes de atletas, de integrantes da equipe técnica e de profissionais da imprensa, de repente surgem na sociedade os melhores valores: os clubes já pensam em emprestar jogadores para que Chapecó retome a sua história, a sociedade já imagina que precisa crescer a adesão ao clube. E uma multidão imensa, durante apenas esses dois dias, que se transformou em sócia da Associação Chapecoense de Futebol.

Jô em Medellín, na Colômbia, durante homenagens à Chapecoense

Por que eu digo isso? Porque é na tragédia que nós conseguimos os melhores valores. O que representa Chapecó? Representa exatamente aquele time que sai da série C e vira campeão. Chega à série B, vai para a série A e, no momento em que estava construindo as possibilidades de vitória, vê suas chances interrompidas com a própria vida”. As declarações são da deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) durante pronunciamento na tarde desta quinta-feira (1º/12) da tribuna da Câmara. Ela desembarcou no final da noite de ontem em Brasília, vinda de Medellín, na Colômbia, onde representou a Câmara de Deputados na homenagem aos atletas da Chapecoense e demais integrantes da delegação do clube e profissionais da imprensa mortos no acidente aéreo na última terça-feira (29).

Simbólico

Da tribuna, Jô Moraes relatou a emoção vivida ontem no estádio Atanasio Girardot, quando 25 mil pessoas vestidas de branco, trazendo a mensagem “Nada nos separa mais” com os símbolos da Chapecoense e do Atlético Nacional de Medellín, time com o qual os brasileiros iriam disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, reverenciaram os mortos.

“Nós sentimos um estádio inteiro gritando Somos todos Chapê, somos todos Chapê, integrando-se ao sofrimento da população de Chapecó, integrando-se ao sofrimento dos familiares, mas, sobretudo, mostrando ao mundo que é necessário, diante da tragédia, tirarmos lições”. Entre as lições a serem apreendidas ela destacou “a solidariedade e também a capacidade de união em torno de um objetivo comum, a paz”.

Jô Moraes também fez um paralelo entre o que ocorria na Colômbia naquele momento – a união da população em solidariedade às vítimas da tragédia aérea – e o que ocorria em Brasília. “Enquanto isso, no Brasil, nós víamos esta praça aqui em frente ao Congresso tomada por explosões de bombas, com agressões absolutamente inaceitáveis a estudantes. É simbólico. A cidade de Medellín, na Colômbia, constrói um acordo de paz histórico, prolongado, que sinaliza Para nós não adianta a guerra, não adianta a repressão, não adianta a perseguição. É preciso construir um momento de paz”, ponderou.

Eis a íntegra do pronunciamento da deputada federal Jô Moraes:

“Senhor Presidente, eu queria que neste momento, após a tragédia com o time da Chapecoense, a sociedade brasileira pudesse aprender a lição que a população de Medellín ontem deu para o mundo. Estive, pela Câmara dos Deputados, acompanhando a homenagem no Estádio do Atlético Nacional de Medellín aos jogadores da Chapecoense.

Era um estádio onde 25 mil pessoas estavam inteiramente de branco, um estádio onde a maioria dos jovens trazia esta mensagem Nada nos separa mais, com o símbolo da Chapecoense e o símbolo do Atlético Nacional. Nós sentimos um estádio inteiro gritando Somos todos Chape, somos todos Chape, integrando-se ao sofrimento da população de Chapecó, integrando-se ao sofrimento dos familiares, mas, sobretudo, mostrando ao mundo que é necessário, diante da tragédia, nós tirarmos lições.

Enquanto isso, no Brasil, nós víamos esta praça aqui em frente ao Congresso tomada por explosões de bombas, com agressões absolutamente inaceitáveis a estudantes.

É simbólico. A cidade de Medellín, na Colômbia, constrói um acordo de paz histórico, prolongado, que sinaliza Para nós não adianta a guerra, não adianta a repressão, não adianta a perseguição. É preciso construir um momento de paz.

Digo isso porque, na conversa com jovens que estavam também em grandes contingentes do lado de fora do estádio, eles diziam: Mas, deputada, será que a lição que aprendemos com a tragédia vai diminuir a violência que enfrentamos nos campos de futebol? Será que essa lição de solidariedade entre o Atlético Nacional de Medellín e o time de Chapecó vai servir para nos ensinar que vença sempre o melhor, mas que jamais troquemos agressões?

Evidente que o mundo todo e principalmente nós estamos preocupados em saber as causas do acidente, não com uma lógica de perseguição, mas para que se possa evitar novas ocorrências.

Creio que quando a gente enfrenta uma tragédia da dimensão da ocorrida com a Chapecoense, com mortes de atletas, de integrantes da equipe técnica e de profissionais de imprensa, de repente surgem na sociedade os melhores valores: os clubes já pensam em emprestar jogadores para que Chapecó retome a sua história, a sociedade já imagina que precisa crescer a adesão ao clube de Chapecó. E uma multidão imensa, durante apenas esses dois dias, que se transformou em sócia da Associação Chapecoense de Futebol.

Por que eu digo isso? Porque é na tragédia que nós conseguimos os melhores valores. O que representa Chapecó? Representa exatamente aquele time que sai da série C e vira campeão. Chega à série B, vai para a série A e, no momento em que estava construindo as possibilidades de vitória, de repente vê suas chances interrompidas com a própria vida.

Por isso que eu quero que nós tiremos daqui uma lição para o Brasil, para tirar o Brasil dessa crise econômica, dessa crise institucional, dessa desestabilização do Estado Democrático de Direito. E aprendamos com aqueles jovens de Medellín, com aquela multidão que ocupou o estádio: que nada nos separe, sejamos todos solidários, que é a grande lição que trazemos neste momento.

Toda a solidariedade à população de Chapecó, aos familiares dos atletas falecidos.