Economia encolhe, previsões pioram e cresce pressão por juros baixos
Apesar do aprofundamento da recessão, que ameaça até uma recuperação em 2017, o Banco Central optou por um recuo tímido na taxa de juros, agora fixada em 13,75%. No cenário de desemprego em alta, investimentos e confiança em declínio e acentuado grau de endividamento, as previsões começam a ser revistas para pior. E crescem as pressões para que a autoridade monetária acelere a queda da Selic, que continua sendo a mais elevada, em termos reais, do mundo.
Publicado 01/12/2016 17:55
Se antes o governo parecia blindado pela mídia e visto com benevolência pelo tal “mercado”, agora as queixas e as previsões negativas vêm de todas as partes. Analistas do mercado, comentaristas da grande mídia e economistas mais ortodoxos já apontam a tragédia alimentada pela paralisia de Michel Temer, que não apresenta medidas que possam tirar a economia do fundo do poço. De Miriam Leitão a Armínio Fraga, todos reconhecem que as iniciativas propostas até então não serão capazes de reverter o quadro atual.
Na avaliação do economista-chefe da Santander Asset Management, Ricardo Denadai, o resultado ruim do terceiro trimestre – que expôs a sétima retração seguida do PIB – tornam o processo de retomada mais longo e mais distante.
Para ele, se há um lado positivo nessa história, "é que temos um ambiente muito propício para maior desinflação da economia”, o que deve “abrir um espaço muito grande para corte de juros", afirmou, em entrevista ao Valor Econômico.
Juan Jensen, economista-chefe da 4E Consultoria, avalia no mesmo jornal que não é só a política monetária que está emperrando a atividade. "Não é simplesmente que a retomada tenha sido postergada. A avaliação é que não há ainda um contexto de retomada econômica", diz ele, que aponta a crise política como responsável pela incerteza.
Com o governo Michel Temer na corda bamba – em meio a denúncias que já fizeram cair seis ministros e à possibilidade de cassação do mandato do presidente pelo TSE -, a instabilidade política se acentua a cada dia. E se soma à falta de uma agenda do governo que seja capaz de retomar não só a confiança, mas os investimentos e a economia.
Por enquanto, a pauta da equipe econômica de Temer só bate em duas teclas: PEC 55 e Reforma da Previdência, medidas que retiram direitos sociais, amarram a atuação do Estado, mas são incapazes de tirar o país do buraco. Inclusive, porque mesmo do ponto de vista fiscal, só devem ter impacto mais à frente.
Jensen avalia que os indicadores antecedentes de outubro e novembro deixam pouco espaço para otimismo e que o PIB do quarto trimestre terá nova retração. A 4E revisou para queda de 0,2% a estimativa para a atividade no ano que vem, o que antes era uma projeção de alta de 1%.
Na reportagem do Valor, Daniel Silva, economista da Modal Asset, disse que crise atual surpreende pela duração e pela intensidade, sem comparação com outros períodos recessivos. Segundo ele, o país só deve recuperar o nível de PIB observado em 2010, em 2020 – isso se as projeções de crescimento de 3% em 2018 se confirmarem, ressalta.
“No cálculos do Goldman Sachs, o PIB per capita no Brasil encolheu 10,3% nos dez trimestres que já duram a recessão, mais do que a queda observada durante a década perdida”, afirma o texto.
Na avaliação do Bradesco, o consumo das famílias que tem motivado projeções mais pessimistas. "O consumo das famílias continua apresentando contração, refletindo o esfriamento maior do que o esperado no mercado de trabalho", diz o banco. Em resumo, o aumento do desemprego, que já atinge 12 milhões de brasileiros, é um vilão. E, no que depender das iniciativas apresentadas até então pelo governo, não há sinais de mudança no horizonte.
"Diferentemente de 2015, quando parte relevante da queda do consumo se deveu a um aumento precaucional da poupança, é o mercado de trabalho, hoje, que tem mais pesado sobre as decisões dos consumidores", diz o Bradesco.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE vai na mesma direção. “Indicadores do mercado de trabalho continuam ruins e os juros continuam altos. E isso continua a afetar negativamente o consumo das famílias.
O economista Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Ibmec (Cemec), defende, em outra matéria do Valor Econômico, que uma aceleração na queda da taxa de juros poderia acelerar ajudar a recuperação.
“Ele afirma que o patamar elevado de endividamento de empresas e famílias, a escalada do desemprego, o nível alto de capacidade ociosa em todos os setores, o custo alto do crédito e as taxas de retorno cada vez menores do investimento em capital não justificam uma expectativa de retomada consistente da atividade”, escreve o Valor.
Segundo o economista, se, num primeiro momento, houve um choque favorável de expectativas, no início da gestão Temer, mas isso não foi acompanhado pelo desempenho da economia. E, em função dos resultados muito ruins da economia real, as expectativas começaram a se reverter, chegando a situação atual.
Para ele, a taxa real de juros está extremamente elevada. “Acredito, com os dados disponíveis sobre as expectativas, que existiria espaço para queda mais veloz da taxa. Isso significaria redução do custo de capital, de um lado, e uma facilitação desse processo de renegociação de dívidas e de desalavancagem de famílias e empresas”.
O ex-ministro das Comunicações de Fernando Henrique, Luiz Carlos Mendonça de Barros, também defende a queda de juros. "Se ele [o Banco Central] não agir direito, pode transformar a recessão profunda que nós temos numa depressão", diz.
Para o economista, o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria ter acelerado o ritmo de corte da Selic na reunião de ontem, baixando os juros em 0,5 ponto percentual, e não em 0,25 ponto, como já havia feito no encontro de outubro.
“Para Mendonça de Barros, a inflação está em baixa e pode encerrar o ano em 6,5%, o teto da banda de tolerância da meta, devido à monstruosa folga de recursos na economia – no mercado de trabalho, por exemplo, há 22 milhões de pessoas que estão desempregadas, trabalham em tempo parcial ou deixaram de buscar emprego por desalento. O consumo das famílias amarga uma queda de quase 10% e o investimento, de quase 30%, afirma ele”.
Trabalhadores e empresários
Logo após o Copom anunciar que reduziria a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, trabalhadores empresários se pronunciaram, criticando o conservadorismo da decisão. O presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, avaliou que a iniciativa do Copom é insuficiente para destravar a economia.
Segundo Araújo, o Brasil precisa crescer, mas a atual política monetária, em aliança com as políticas fiscal e cambial, tem sido o grande obstáculo à realização deste objetivo nacional. "Não é possível avançar no desenvolvimento do país e contemplar as demandas do nosso povo por mais saúde, educação e transporte de qualidade, nos marcos desta orientação", declarou.
Para a Força Sindical, a queda nos juros também foi "tímida" e o Copom perdeu ótima oportunidade de sinalizar ao setor produtivo que o país "não bajula mais os especuladores e o rentismo".
"O novo governo precisa entender que a taxa de juro em patamares estratosféricos tem sido uma ferramenta pouco eficaz no combate à inflação, pois, além de encarecer o crédito para o consumo e para investimentos, causa mais desemprego, queda de renda e piora o cenário de recessão da economia", diz a Força, em nota assinada pelo presidente da central e do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força.
O presidente da Federação da Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaff – um aliado do governo Michel Temer -, foi duro ao criticar o BC. “É muita recessão para um corte pífio de Selic. Não há dúvida de que são necessários cortes mais agressivos da taxa de juros. Ao optar por cortes de 0,25 pontos percentuais, o Banco Central sabota a retomada de crescimento da economia, condenando-a à estagnação para os próximos anos e produzindo a ampliação no número de desempregados, que já passa de 12 milhões”, afirmou.