Paulo Mindêllo: PEC 241, a PEC da enganação
"Costumo dizer que meia verdade engana mais que a mentira. Assim, a famigerada PEC é cheia de meias verdades, capaz de enganar e distorcer os seus objetivos”.
Por *Paulo Mindêllo
Publicado 24/11/2016 10:42 | Editado 04/03/2020 16:24

A PEC 241 (numeração da Câmara) ou 55 (número do Senado), a chamada PEC do teto dos gastos, é uma verdadeira enganação. Costumo dizer que meia verdade engana mais que a mentira. Assim, a famigerada PEC é cheia de meias verdades, capaz de enganar e distorcer os seus objetivos.
A principal delas é a de ter aparência de um controle fiscal. Controle fiscal é quando você dispõe de mecanismos que possam gerar equilíbrio entre despesas e receitas. Ora, se se congela a despesa durante 20 anos e se por acaso o País e suas receitas crescerem daqui a dois anos e se a despesa em termos gerais é congelada, o País fica engessado, perdendo a sua capacidade de investir, já que a população e as suas necessidades crescem. Imaginem isso em 20 anos, em que o gestor fica impossibilitado de gerar políticas públicas impactantes.
Assim, a referida PEC colide com as Cláusulas Pétreas da Constituição por impedir que a gestão governamental se desenvolva por meio de políticas públicas impactantes. A PEC 241 também altera os critérios da Constituição Cidadã quanto à saúde e à educação.
Temer perguntado em entrevista se o País voltasse a crescer em curto prazo, o que seria feito? Respondeu com essa “preciosidade”: se faria uma nova PEC, como se mudar a Constituição fosse uma brincadeira e não fosse exigido um fórum qualificado.
Várias entidades já denunciaram essas contradições: a CNBB, o Conselho Federal dos Economistas, o Conselho Federal da OAB, dentre outras. Acho, inclusive, se a PEC for aprovada, haverá entidades ou partidos que entrarão como uma Adin, arguindo inconstitucionalidade.
Precisamos, sim, controlar os gastos do governo, mas essa PEC é imperfeita, incompleta e nada inteligente. Estrangula o desenvolvimento e o crescimento da renda, congelando o desemprego e contrariando as teses keneysianas de fazer do Estado indutor do desenvolvimento, retornando a ficção do “laissez-faire” e da “mão invisível”, do liberalismo clássico.
Na verdade, essa PEC foi feita para geral superávits financeiros e beneficiar os bancos, de quem Henrique Meireles é legítimo representante, tanto é que não existe teto para as despesas financeiras.
*Paulo Mindêllo é economista e pós-graduado em Métodos Quantitativos
Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.