No Conselhão, Temer pede socorro para garantir governabilidade

Durante 42 minutos na cerimônia de abertura do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, Michel Temer (PMDB) fez o discurso dos traidores. Como está há seis meses no governo e não produziu o mundo colorido que prometia antes do impeachment, Temer culpou a presidenta Dilma Rousseff, do qual era vice, pelas mazelas do Brasil e disse que o pior ainda está por vir.

Conselhão Temer - Beto Barata/PR

Usando o mesmo termo usado por Romero Jucá (PMDB-RR) – senador e agora líder do governo no Senado, que foi flagrado em gravação com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, afirmando que precisava “estancar a sangria da Lava Jato” –, Temer disse que é preciso acabar com a ideia de que basta mudar o governo e todos os problemas estarão resolvidos.

“Precisamos estancar a ideia de que bastou mudar o governo e tudo se transformou em um céu claro”, disse. “Três fases são indispensáveis: o combate à recessão, o crescimento e, como consequência, a retomada do emprego”, completou.

A solução apresentada por Temer é a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista e da PEC 55, que tramita no Senado e prevê o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos. Ele disse que “por muito tempo o governo gastou mais do que podia”, e ainda atacou o governo Dilma afirmando que, desde que assumiu, há seis meses, não encontrou apenas um deficit fiscal, mas também um “deficit de verdade”.

Temer admite que as reformas que pretende encaminhar ao Congresso causam “muita angústia” aos trabalhadores, principalmente as mudanças na Previdência, mas disse que sem a reforma previdenciária, seria preciso “fechar as portas do país para balanço”.

“Se nós não tivermos coragem para fazer isso, não vale a pena estarmos aqui”, declarou.

Como as suas propostas não encontram respaldo da sociedade e sabendo que vai enfrentar protestos com as propostas que pretende fazer na Previdência e na legislação trabalhista, Temer aproveitou a reunião para pedir apoio político. “Precisa ter governo, precisa ter apoio político e precisa ter apoio da sociedade”, pediu.

Desde que foi criado, em 2003, o Conselhão era composto por diversos setores da sociedade, entre os quais representantes dos movimentos sociais. Agora, a versão Temer inclui, em sua maioria, integrantes do setor empresarial e entidades alinhadas à gestão federal. O motivo da mudança de perfil entre os integrantes é passar a ideia de apoio da sociedade ao governo.

“Nesse conselho teremos canal privilegiado para interlocução com diversos setores”, afirmou ele, ressaltando que o grupo atual é mais “representativo”. Disse ainda que os conselheiros “serão os agentes da governabilidade”.

O Conselhão é integrado por empresários como Abílio Diniz (BRF), Claudia Sender (TAM), Jorge Gerdau (Gerdau), Luiza Trajano (Magazine Luiza), Robson Braga (Confederação Nacional da Indústria) e Paulo Skaf (Fiesp), este último, um dos financiadores das manifestações pelo impeachment.

Depois de atacar Dilma, Temer fingiu buscar a pacificação do país e disse que “não pode haver uma cisão raivosa entre os vários brasileiros”.

Geddel não deu as caras

Apesar de ser o ministro responsável pela articulação política do governo Temer, o chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, não participou do encontro nesta segunda.

O ministro da Cultura Marcelo Calero pediu demissão do governo e disse que a sua saída foi por conta da pressão de Geddel para liberar a construção de um empreendimento imobiliário em Salvador, embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e no qual o titular da Secretaria de Governo comprou um apartamento.

Ao final da primeira parte da reunião, Temer ofereceu um banquete aos integrantes do Conselhão no Palácio da Alvorada. Parte da economia do ajuste.