O fascismo manifesta-se no Congresso: a indiferença é também cúmplice
A manifestação fascista no interior do Congresso coloca em evidência a fragilidade das instituições democráticas brasileiras e sublinha a ideologia fascizante dos grupos que, aproveitando a porta aberta pelo PMDB (de Cunha, Jucá e Temer) e pelo PSDB, procuram instaurar uma nova ordem política de direita, no único modelo que reconhecem: a ditadura militar.
Por Alexandre Weffort*
Publicado 17/11/2016 10:50
O argumento é o mesmo que levou a direita, então disfarçada de movimento popular, a promover as manifestações que instauraram o clima pró-impeachment contra Dilma e de perseguição a Lula. O dispositivo judiciário, numa versão ideológica tipo “justiceiro”, conduz uma campanha que em que se emaranham atos de combate à corrupção e de destruição do próprio Estado democrático.
Os sinais surgiam como que aleatoriamente, num certo folclore de pendor fascista que foi interpretado por muitos como coisa momentânea. O entusiasmo pueril da direita com os sucessos conseguidos a nível interno, no Brasil – o derrube do governo de Dilma e a derrota eleitoral da esquerda, particularmente do PT – é agora ampliado com a situação internacional.
Vimos em muitos lugares (São Paulo, por exemplo) a vitória eleitoral dos candidatos com o discurso da “anti-política” (que é também uma forma disfarçada, e talvez mais perigosa, de discurso de direita, que facilmente resvala para o fascismo). A vitória de Trump nos EUA não é certamente alheia ao entusiasmo daqueles que invadiram o Congresso no Brasil. O espetáculo é mais uma vez degradante, de instituições que nem sequer conseguem garantir o controle da porta de entrada, quanto mais, de cumprir com a função representativa do poder democrático.
Os deputados que assistiram à usurpação da tribuna do Congresso por um grupo de manifestantes fascistas são, também, os mesmos que se prestaram ao episódio circense que foi a primeira votação do impeachment. Os partidos que hoje ocupam o poder – do centro à direita mais retrógrada – abriram a porta aos atropelos de um governo simultaneamente cúmplice e refém de uma agenda totalmente virada para o passado.
A indiferença é também cúmplice. Os deputados e senadores que praticaram o atropelo à democracia, destituindo Dilma Rousseff, muitos até com passado político de engajamento contra a ditadura militar de 1964, participaram assim da degradação política que o episódio da manifestação fascista representa.
A resposta possível, a resposta imprescindível, é a que é dada pelos movimentos políticos e sociais que lutam por um Brasil sem medo, empenhados na construção de uma frente ampla democrática, popular e progressista. Pela ação política organizada.
*Alexandre Weffort, residente em Portugal, é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura
**Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho