Futebol das minas não é espaço de caridade para gestores incompetentes

No início deste mês de novembro, a CBF anunciou a mudança no formato do Brasileirão Feminino com adaptação das sugestões formuladas pelo Grupo de Trabalho do Comitê de Reformas.

Por Lu Castro*

Cerimônia de lançamento do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino 2017 - CBF

A avalição feita pelo grupo abordava as edições anteriores e, especialmente, sobre a qualidade dos jogos apresentados ao longo da competição. Alguns dos jogos transmitidos mostravam claramente o abismo futebolístico entre as equipes em campo, que ia de placares elásticos a “uniforme resto” do time masculino.

A ideia das divisões no Brasileiro Feminino abraçava especificamente o nível do futebol, que significa equipes que atuam em alto rendimento e equipes com estrutura deficiente, logo, estas últimas, com futebol aquém do que se entende por alto rendimento e cujas possibilidades de fazer frente e proporcionar bons jogos, eram praticamente nulas.

A fórmula para determinar os participantes da Série A1 do Brasileiro Feminino de 2017 ficou algo “interessante”, se adotarmos como parâmetro a necessidade de inserir clubes de camisa no universo do futebol feminino. Há sempre uma tentativa de participa-los na modalidade com o argumento de que será possível agregar a torcida. Já defendi este argumento, mas diante da inexpressiva presença da torcida em jogos do feminino, parei.

Vejamos trecho da matéria no site da CBF: “Os participantes da competição serão definidos da seguinte forma: uma vaga será para o campeão da Copa do Brasil de Futebol Feminino 2016, o Audax/Corinthians; outra para o vencedor do Brasileirão deste ano, o Flamengo/Marinha; além de oito para os oito primeiros colocados do Ranking Nacional de Clubes de Futebol Feminino de 2017 e seis para os seis primeiros da classificação final do Campeonato Brasileiro Masculino da Série A 2016. Se ainda houver vagas, serão preenchidas pela sequência da classificação da Série A e depois da Série B do Brasileiro Masculino 2016. Caso necessário ainda assim, o Ranking Nacional de Clubes de Futebol Feminino de 2017 voltará a ser utilizado como critério.”

Desconfio que muito do que se pretende com a inserção dos clubes do masculino na competição, passa pela Lei do Profut, que cita o futebol feminino uma única vez, sem detalhamento, sem um aprofundamento necessário e com regras que beneficiem de fato o jogo das mulheres. A desconfiança tem fundamento: a utilização das palavras na lei.

“Art. 4o Para que as entidades desportivas profissionais de futebol mantenham-se no Profut, serão exigidas as seguintes condições:
X – manutenção de investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino…”
 

Notem que “investimento mínimo”, neste caso, é bem entendido pelos clubes como “cessão do direito de utilização do escudo do time”, “utilização eventual do campo de jogo”, “utilização eventual dos aparatos médicos” e outros quetais. E quando isso acontece, não é regra, é exceção.

Fica a pergunta: Por que raios deve o futebol feminino estar de algum modo condicionado ao futebol masculino? Quais são as efetivas vantagens em destinar colocações no ranking do próximo Brasileiro, para os seis clubes melhor qualificados no Brasileiro Masculino? Me expliquem, como se eu tivesse 4 anos de idade, o que “investimento mínimo” e “desenvolvimento” tem em comum usando o dicionário como parâmetro – não me subestimem, eu já chequei.

Se demos um passo adiante com a modalidade, com premiações – e já acendo a luz de alerta porque sei que a premiação não chegar às mãos das atletas, é risco grande que se corre –, divisão em duas séries com a intenção de melhorar o que será exibido às pessoas que desconhecem a modalidade, com a escolha da primeira mulher técnica da seleção principal, criação de um departamento de futebol feminino na Federação Paulista de Futebol com a coordenação da ex-atleta Aline Pellegrino, continuamos dando aqueles dois passos para trás quando as pessoas insistem em aparelhar o futebol das mulheres ao dos homens.

O espaço das minas não é espaço de caridade para gestores incompetentes.