Hélio Leitão: Novos tempos na cena mundial?
“Recai sobre o agora futuro ‘árbitro do mundo’ a expectativa de enfrentamento dessa que é considerada a pior crise humanitária do século. Nada menos que 65 milhões de pessoas deixaram seus países de origem apenas no ano passado.
Por * Hélio Leitão
Publicado 14/11/2016 10:42 | Editado 04/03/2020 16:24

À unanimidade a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas elegeu o português Antonio Guterres para o cargo de Secretário-Geral da entidade. Posse em janeiro. Cinco anos de mandato. A escolha do estadista lusitano é dotada de grande carga simbólica e suscita muitas expectativas.
Iniciou Guterres sua trajetória política em meio à efervescência da Revolução dos Cravos, movimento político pacífico que pôs fim ao salazarismo e às guerras coloniais da África. Passou a formar então nas trincheiras do nascente Partido Socialista. Anos depois se tornaria primeiro-ministro de Portugal.
Católico, de sólida formação intelectual, nos anos de 2005 a 2015 foi o responsável pela ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, tendo ganhado larga projeção internacional pelo trabalho que desenvolveu no período. Seria o prenúncio do fortalecimento dessa política humanitária nestes tempos de grave crise migratória? O tempo dirá…
Recai sobre o agora futuro “árbitro do mundo” a expectativa de enfrentamento dessa que é considerada a pior crise humanitária do século. Nada menos que 65 milhões de pessoas deixaram seus países de origem apenas no ano passado. Em regra, tangidas por guerras e perseguições políticas, a maior parte delas proveniente do continente africano e do Oriente Médio.
O desafio, de si gigantesco, assume dimensões ainda maiores em razão da onda conservadora e xenófoba que atinge vários países da velha Europa, às voltas com a grave crise econômica.
De outro lado, é enorme a pressão sobre o mercado de trabalho, serviços públicos e benefícios sociais que o desembarque de tamanho contingente de refugiados exercerá, o que gera esperável resistência dos governos dos países potencialmente receptores.
Vamos ver como o velho socialista sai dessa.
*Hélio Leitão é Secretário da Estado da Justiça e Cidadania