Mãos sujas: o grito dos estudantes na nova ordem educacional
Escrever um artigo por semana, o que no início me parecia algo difícil, pela falta de experiência, hoje é insuficiente para comentar a conjuntura, que muda a cada dia. E, no período eleitoral que vivemos até domingo passado, mudava em questão de horas.
Por Dr. Rosinha*
Publicado 04/11/2016 10:12
A conjuntura, na fase preparatória e agora na condução da concretização do golpe de Estado em nosso país, sofre solavancos a todo instante, bem como aparecem atores novos quase que cotidianamente.
Os usurpadores do governo atuam de maneira acelerada para levar o Brasil não à década de 50 deste século 21, mas à década de 50 do século passado. E uma das ações para este retrocesso é na educação. Fazem o discurso da educação sem partido, como se nossa escola pública fossem cursinhos de formação politica partidária.
Ao completar 80 anos de idade, Luiz Alberto Moniz Bandeira – que os adeptos da escola sem partido, na sua grande maioria, tenho certeza, não sabem quem é - tem recebido várias homenagens e dado várias entrevistas. Dia 29 passado, o jornal A Tarde publicou uma das boas e oportunas entrevistas com Moniz Bandeira.
Moniz é baiano e, perguntado sobre a Bahia, como parte da resposta, ele diz: “Na Bahia, recebi uma educação humanística, desde o Colégio da Bahia, até o primeiro ano, na Faculdade de Direito, no Portão da Piedade, o que me valeu para toda a minha vida e carreira acadêmica, como cientista político e historiador. Nas duas instituições de ensino tive excelentes professores, dos quais guardo as melhores recordações”.
É justamente este tipo de educação, humana, solidária e libertária que os usurpadores do governo querem botar fim com o discurso da escola sem partido.
Os “intelectuais”, liderados por Alexandre Frota, que defendem a escola sem partido não conseguem sequer fazer um debate aberto e franco com os jovens que agora ocupam, em defesa da educação publica de qualidade, as escolas. Há muitos exemplos da incapacidade destes políticos e intelectuais. O simples fato de buscar a “reforma” através de uma medida provisória é uma fuga ao debate.
Outro exemplo está no Paraná. Na falta de argumento, o governador Beto Richa (PSDB) contratou os “inteligentes” militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) para atuar como milícia. Na falta de argumentos, usa-se força bruta.
Outro exemplo da incapacidade do debate está na postura do deputado Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, e de parte de seus pares, que, embasbacados, assistiram à estudante Ana Julia de 16 anos perguntar de quem é a escola. Não sabendo dar resposta a essa e outras questões levantadas pela jovem estudante, tentou-se dar uma “cala boca” na inteligente garota.
O pretexto para dar o “cala boca” foi quando ela comentou o assassinato de Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos, dentro de uma das escolas ocupadas e disse que os deputados estavam com as mãos sujas de sangue. O sentido da frase é figurado, mas até que ponto muitos dos atuais usurpadores do governo não têm as mãos sujas, mesmo que indiretamente, de sangue? Ao não aplicarem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), contribuem para a violência. Muitos criticam o ECA, mas sequer o leram.
Na semana em que se debate se os jovens brasileiros terão a possibilidade de vislumbrar, através de uma educação de qualidade, um futuro promissor, foi divulgado o 10º Anuário de Segurança Pública. Informa este anuário que ao menos nove pessoas morrem por dia por intervenção policial, enquanto na Grã-Bretanha, para alcançar este mesmo numero de mortes, demoraria 25 anos.
Na Inglaterra e no País de Gales, foram dados 55 disparos fatais entre 1990 e 2014. No Brasil, não tenho números oficiais, mas provavelmente é o número mensal de tiros fatais.
É inequívoco, hoje, o recrudescimento do autoritarismo e da violência institucional, dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Muitos continuarão sujando as mãos.
Ana Júlia Ribeiro participou, na última segunda-feira (31), de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Em seu discurso, ela disse que os parlamentares que defendem a PEC do teto de gastos estarão com as “mãos sujas por 20 anos”.