Queda em índices de confiança deixa governo sem discurso
Ao contrário do que tem dito o presidente Michel Temer e sua equipe econômica, a situação da economia real não melhorou e mesmo as expectativas estão em queda livre. Os índices de confiança da indústria e dos serviços pioraram e se somam a vários indicadores negativos. Apostando todas as fichas na tal volta da confiança, o discurso do governo fica cada dia mais vazio. Diante desse cenário, analistas já põem em dúvida, inclusive, a possibilidade de recuperação em 2017.
Publicado 01/11/2016 18:31
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) brasileira registrou queda de 1,6 ponto em outubro e chegou a 86,6 pontos, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgados nesta segunda-feira (31).
O resultado foi influenciado tanto pela queda de 1,8 ponto do Índice da Situação Atual (ISA), para 84,9 pontos no mês, quanto pelo recuo de 1,4 ponto do Índice de Expectativas (IE), a 88,4 pontos.
“A sondagem retrata uma evidente perda de fôlego em relação à aceleração produtiva que se desenhava entre março e julho passados”, apontou em nota Aloisio Campelo Junior, superintendente de Estatísticas Públicas da FGV/IBRE. A produção industrial do Brasil caiu em agosto 3,8% sobre julho, o pior resultado em quatro anos e meio.
Já o Índice de Confiança de Serviços (ICS) do Brasil teve queda de 1,7 ponto, atingindo 78,9 pontos, com uma perda do Índice de Expectativas (IE-S) de 4,3 pontos, para 86,7 pontos.
“O resultado de outubro parece apontar para o início de uma fase de ajuste, para baixo, nas expectativas empresariais", afirmou Silvio Sales, consultor do FGV/IBRE, em nota. O volume do setor de serviços brasileiro voltou a cair com força em agosto, 1,6%, nos piores resultados para o mês na série iniciada em 2012, segundo o IBGE.
As expectativas do mercado financeiro também não estão nada boas. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda (31), a estimativa de queda do PIB passou de 3,22% para 3,30%. Em relação a 2017, a expectativa de crescimento diminuiu 0,02 ponto, para 1,21%.
Desconectado da realidade, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, declarou, nesta segunda (31), a confiança na economia brasileira está aumentando e há indicações de retorno do crescimento em 2017. Os números e as análises dizem o contrário.
Em seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas, a economista Sílvia Matos defendeu que, em 2016, haverá contração de 3,4% e que o próximo ano começará com queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB).
“Acho difícil imaginar uma saída tão rápida dessa recessão. Uma recessão longa, profunda, similar à dos anos 80 e, sem dúvida, baixo crescimento neste ano”, disse Silvia, que é coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, estudo mensal que contempla estatísticas, projeções e análises dos aspectos mais relevantes da economia brasileira.