Ana Júlia, jovem que encantou o país: Ocupação é aprendizado de vida
O Brasil se emocionou com a estudante secundarista, que, com lágrimas nos olhos, discursou na Assembleia Legislativa do Paraná nesta quarta-feira (26), defendendo a legitimidade das ocupações de escolas contra a Medida Provisória da Reforma do Ensino Médio e a PEC 241. O Portal Vermelho conversou nesta quinta-feira (27) com Ana Júlia, que contou como estão sendo os dias de resistência, no maior movimento de ocupações da história do movimento estudantil brasileiro.
Por Laís Gouveia
Publicado 27/10/2016 14:42
Discreta, a estudante de apenas 16 anos conta como se sentiu durante a exposição na Assembleia Legislativa. “Os parlamentares não entenderam, em nenhum momento, o meu discurso, tanto que interromperam a minha fala quando eu citei que as suas mãos estavam sujas de sangue [a estudante estava se referindo ao estudante Lucas Eduardo Araújo Mota, assassinado em um colégio ocupado na segunda-feira] mas, mesmo assim, consegui somar forças para descriminalizar o movimento em minha fala, a opinião pública precisa saber que as ocupações são sérias e organizadas”, explica a estudante.
Ana Julia, que estuda no Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães, explica que teme pela exposição, pois a ideia não é personificar o movimento de ocupações em uma só pessoa, mas sim dar o caráter geral, onde milhares de secundaristas possuem o seu protagonismo. “Tudo aqui é baseado na opinião coletiva”, afirma.
Quando indagada sobre o apoio dos pais dos alunos sobre as ocupações, Ana considera que muitos apoiam e outros não, mas o importante é o diálogo, “vamos explicando o valor de reivindicarmos nossos direitos e de lutarmos em defesa da educação, aos poucos eles vão percebendo a importância da nossa luta”, enfatiza Ana Júlia.
“Aprendizado para a vida”
A jovem, que conversa bastante com seus pais enquanto está ocupada no colégio, inclusive contando com o apoio deles para permanecer no local, fala sobre a importância da ação. “Esse movimento no Paraná é uma aula de cidadania. Com certeza, o que eu vivi ocupando meu colégio servirá como aprendizado para toda minha a vida”, salienta.
A secundarista afirma ainda sua preocupação em demonstrar a não partidarização do movimento, pois esse fator é ponto estratégico da grande mídia para desqualificar as ocupações. “O nosso movimento é apartidário, aqui somos a gente pela gente, não recebemos nenhum centavo de ninguém, assim como não existe apoio de partidos políticos ou parlamentares”, conclui Ana Júlia.
Ocupações
Os estudantes paranaenses ocupam mais de 800 escolas em todo o estado. Em assembleia realizada nesta quarta-feira (26), os jovens definiram que irão continuar ocupados até que o governador Beto Richa (PSDB-PR) revogue a Medida Provisória de Reforma do Ensino Médio no estado.