Lava Jato prende Cunha e golpistas dizem que é o fim da seletividade
Eduardo Cunha, que foi peça-chave para articular o golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, foi preso nesta quarta-feira (19) em Brasília, pela Polícia Federal que fez busca e apreensão em sua casa no Rio de Janeiro.
Publicado 19/10/2016 15:36
Réu em processos da Operação Lava Jato e com cinco contas na Suíça não declaradas, Cunha está com o seu processo que sob os cuidados do juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que expediu na ordem de prisão nesta terça-feira (18), além do bloqueio de bens de Cunha no valor de R$ 220.677.515,24.
Para justificar a prisão, os procuradores disseram que a liberdade de Cunha representava risco à instrução do processo, à ordem pública, como também a possibilidade concreta de fuga em virtude da disponibilidade de recursos ocultos no exterior, além da dupla nacionalidade (Cunha é italiano e brasileiro).
Preso, por prazo indeterminado, Cunha foi levado para o hangar da PF no Aeroporto de Brasília e embarcou para Curitiba, no Paraná. Sem algemas, Cunha entrou tranquilamente na aeronave. Quando se tratava de presos ligados ao PT, as algemas eram regra de conduta dos policiais.
Motivos para a prisão de Cunha não faltavam. Diferentemente de outros investigados, contra Eduardo Cunha há mais do que convicções. A Procuradoria Geral da República sustenta que o ex-deputado recebeu mais de R$ 5 milhões em propina por viabilizar a aquisição de um campo de petróleo em Benin, na África, pela Petrobras.
No entanto, como presidente da Câmara, Cunha tinha papel fundamental para garantir o avanço do impeachment e ficou solto, mas as denúncias foram enfraquecendo o seu peso político levando a sua cassação. Mas isso só aconteceu depois que ele aprovou a a admissibilidade do pedido de impeahcment.
Sem mandato, Cunha representava uma ameaça para o governo de Temer. Em entrevistas, Cunha se limitou a dizer que não faria delação, mas escreveria um livro sobre os bastidores do impeachment.
Com o anúncio da prisão, Temer decidiu antecipar seu retorno de Tóquio, no Japão, onde estava em visita oficial. A assessoria do Planalto não informou o motivo da antecipação da data da volta.
Ainda que seja um avanço, a prisão de Cunha revela um cenário nebuloso. Se para alguns a prisão dele pode representar uma ameaça de delação que pode implodir o governo usurpador, por outro lado, pode também ser uma cortina de fumaça para justificar a teses que a Lava Jato é "contra todos".
Certamente, o discurso dos golpistas no poder será que a prisão de Eduardo Cunha é uma demosntração de que o governo não interfere no andamento das investigações e, portanto, as denúncias de seletividade da Lava Jato cairia por terra. Resta saber se essa prisão vai envolver outros integrantes da cúpula peemedebista ou vai continuar se limitando a membros que não estão no governo.
No momento em que delatores da Odebrecht mencionam vários ministros do governo Temer, entre eles Geddel Vieira Lima e Moreira Franco, além do ex-ministro Romero Jucá, a prisão de Cunha parece ser apenas mais uma cena desse espetáculo midiático da Lava Jato.
O líder do DEM na Câmara, deputado Pauderney Avelino (AM), diz que "a prisão de Cunha abre caminho para a prisão de Lula".