Obama: “Austeridade contribuiu para desacelerar crescimento na Europa”
Em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fala sobre a recuperação econômica durante seu mandato, as políticas de austeridade na Europa, a assinatura do TTIP (Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, na sigla em inglês) e a crise dos refugiados.
Publicado 18/10/2016 18:46
Obama concedeu a entrevista durante a visita do premiê italiano Matteo Renzi à Casa Branca, realizada nesta terça-feira (18), destacando também, entre outros assundos, a importância da política para com os refugiados na Europa.
O diário italiano levanta a bola para Obama, ao comparar o fraco crescimento estadunidense pós-crise com a estagnação na Europa.
Confira partes da entrevista, republicada no El País:
No começo do seu primeiro mandato, as economias norte-americana e europeia estavam imersas numa profunda depressão. Desde então, a economia dos Estados Unidos desfrutou de sete anos de crescimento, ao passo que a europeia continua padecendo de um crescimento baixo e um desemprego elevado. Chegou a hora de rever a função da política fiscal, do investimento público, e o modo que poderiam restaurar o crescimento econômico? Em outras palavras, as políticas de austeridade fracassaram?
Acredito que a experiência dos Estados Unidos durante os últimos oito anos deixa evidente o nosso ponto de vista. Pouco depois de me tornar presidente, aprovamos a Lei de Recuperação para estimular a economia. Nós nos apressamos em resgatar a indústria automobilística, estabilizar os bancos, investir em infraestrutura, agilizar os empréstimos às pequenas empresas e ajudar as famílias a manterem suas casas.
Os resultados estão claros. Nossas empresas criaram mais de 15 milhões de novos postos de trabalho. A taxa de desemprego caiu pela metade. Reduzimos drasticamente o déficit. Finalmente os salários dos trabalhadores começam a subir. A renda cresceu e o índice de pobreza diminuiu. Ainda resta muito trabalho por fazer para ajudar os trabalhadores e as famílias a se recuperarem, mas vamos num bom caminho.
Alguns países adotaram uma proposta diferente. Como eu já disse outras vezes, acredito que as medidas de austeridade contribuíram para desacelerar o crescimento na Europa. Em alguns países, os anos de estancamento agravaram a frustração e a angústia econômica que vemos em todo o continente, sobretudo entre os jovens, que têm menos chances de encontrar trabalho.
Questionado sobre o TTIP (Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, na sigla em inglês), Obama fala sobre o protecionismo e enumera várias platitudes sobre a "superioridade" do capitalismo em "gerar riqueza". É evidente que ele não aprofunda também o papel do capitalismo em aprofundar de maneira grotesta as diferenças sociais, cada vez mais palpáveis e muito evidentes no próprio país do qual é administrador, mas reconhece timidamente que os trabalhadores foram atingidos com a globalização.
"A globalização pode debilitar a posição dos trabalhadores, tornar mais difícil que ganhem um salário decente e causar a transferência de fábricas para países com mão de obra mais barata. E já adverti a respeito de um capitalismo desumano que só beneficia alguns poucos que estão acima de tudo, que agrava a desigualdade e separa ainda mais ricos e pobres", responde, após fazer uma pregação sobre as "qualidades" do capitalismo.
Sobre a crise dos refugiados na Europa, após elogiar a Itália como "a nação que melhor recebeu os migrantes no continente", Obama diz que "é de interesse estratégico para os Estados Unidos garantir que a crise migratória que atinge a Europa seja solucionada".
"É um interesse estratégico por causa da terrível perda de vidas que nós vemos quando as pessoas tentam chegar à Europa, mas também por conta dos efeitos de distorção que essa crise pode ter na política europeia", explicou o presidente americano, prometendo que o seu país fará o possível para ajudar seus parceiros europeus a encontrar uma solução."