Ataque a comboio humanitário na Síria foi encenação, dizem analistas
O ataque contra o comboio humanitário da ONU e Crescente Vermelho Árabe Sírio de 19 de setembro na Síria foi uma "encenação bem preparada", diz-se no relatório preliminar do grupo de investigadores independentes do Grupo Internacional de Apoio à Síria.
Publicado 05/10/2016 15:37
Os especialistas realizaram uma análise das fotos e vídeos do ataque divulgados na mídia e analisaram um vídeo gravado pelo drone da Força Aeroespacial russa que acompanhava o comboio. O vídeo mostra claramente "um carro com um reboque onde é possível ver um morteiro de grande calibre", que "seguia sob a cobertura do comboio humanitário", destacaram os especialistas.
"Se observarem as informações de 19 de setembro, verão que nesse local e nessa altura os militantes da Frente al-Nusra realizaram uma ofensiva de grande escala em direção de Alepo apoiada por fogo massivo de artilharia, tanques e sistemas de lançamento múltiplo de foguetes", diz-se no relatório.
Ao mesmo tempo, os especialistas afirmaram que a análise das fotos indica que se tratou de uma encenação, uma simulação de ataque contra o comboio.
Em particular, a cabina de um dos carros permaneceu intata e "não tem marcas da explosão que acorreu muito perto — marcas de impacto dos fragmentos ou mossas, somente a carroçaria ficou queimada".
Além disso, as bordas das brechas nos caminhões danificados estão cobertas com ferrugem. A estrada ficou intacta, sem marcas de impacto. Se se tivesse tratado de um ataque aéreo "toda a superfície da estrada teria tais marcas", sublinharam especialistas.
O dano observado nos caminhões do comboio não corresponde ao efeito de um ataque aéreo — a onda de explosão, pelo menos, teria virado os caminhões e as cargas; a explosão de uma bomba teria deixado fragmentos nas paredes das casas em redor.
Como mostram as fotos, os caminhões perderam somente a lona que os cobria, as jantes ficaram sem marcas, as caixas de cartão permaneceram em seus lugares e as paredes das casas próximas não apresentam quaisquer brechas.
Uma das caixas tem marcas de pedras pequenas, que podem ter sido resultado de explosão de um pequeno projétil não-encamisado (usado geralmente em pistolas e fuzis).
Os especialistas também consideram estranha a cratera que alegadamente foi resultado de um ataque aéreo. "A parte central como que atraiu os objetos que estavam em volta ao invés de dispersá-los", como seria normal.
"Fazendo um resumo desta análise preliminar é possível concluir que se tratou de uma encenação bem preparada ou um ataque simulado", diz-se no relatório.
Os representantes norte-americanos já expressaram a sua discordância em relação aos resultados da investigação.
Há que lembrar que, na noite de segunda para terça-feira (20), o comboio humanitário do Crescente Vermelho Árabe Sírio e de organizações humanitárias da ONU foi atacado perto da cidade de Alepo.
A passagem da coluna foi coordenada com Damasco e a oposição armada. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha informou sobre a morte de um dos funcionários do Crescente Vermelho e pelo menos de 20 civis.
Tendo estudado as gravações do local do ataque, os militares russos declararam não ter identificado o projétil que alvejou a coluna. O vídeo mostra somente os vestígios do fogo, que coincidiu com o começo da ofensiva da Frente al-Nusra contra Alepo.