Universidade do Rio Grande do Sul adia votação sobre cotas
A pressão feita por centenas de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que ocupam o prédio da reitoria desde a tarde de quinta-feira, surtiu efeito. Os alunos protestam contra uma proposta de alteração na política de cotas da instituição, que seria votada na manhã da última sexta-feira pelo Conselho Universitário (Consun). Com a ocupação e os protestos, no entanto, os planos mudaram, e a universidade decidiu adiar a votação. O parecer será apreciado amanhã, às 8h30min.
Publicado 29/09/2016 10:52
O Parecer nº 239/2016 sugere a alteração da Decisão nº 268/2012, que implementa o Programa de Ações Afirmativas da Ufrgs. A proposta é que o cotista, quando se inscrever no vestibular, concorra exclusivamente às vagas reservadas. Atualmente, se o candidato egresso de escola pública atingir o coeficiente necessário, ele entra na graduação por acesso universal, e a vaga reservada vai para outro cotista com coeficiente menor. Esse foi o caso de 419 pessoas no vestibular de 2016.
Segundo a coordenadora-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ufrgs, Kassiele Nascimento, de 21 anos, a reitoria recebeu representantes do movimento "Balanta – Nenhum cotista a menos" e prometeu uma proposta para as reivindicações do grupo. "Queremos a retirada do parecer e a criação de uma comissão especial, da qual participemos, para discutir qualquer questão envolvendo cotas. Por enquanto, não tivemos acordo em relação a isso", relata.
Para a estudante de Psicologia da Ufrgs Andressa Amaral de Moraes, de 23 anos, a proposta envolve uma retirada de direitos. "A universidade propõe que o estudante concorra ou aos 50% da reserva de vagas ou aos 50% de acesso universal. Esse é um retrocesso, pois, por exemplo, neste ano, mais de 60% de alunos que entraram na instituição eram oriundos de escolas públicas", observa. Na opinião da universitária, a medida cria uma cota para estudantes de escolas particulares.
O aumento de pessoas de baixa renda na Ufrgs tem causado uma mudança no perfil do estudante. Entretanto, com a nova proposta, Andressa considera que se tornará ainda mais difícil que estudantes de escolas públicas de periferia entrem na universidade. "Os candidatos à reserva de vagas, atualmente, são os alunos de colégios militares e de escolas mais centrais de Porto Alegre, que têm um ensino voltado diretamente para o acesso ao vestibular. Ainda temos poucos moradores da periferia que entram na instituição", pontua.
A jovem considera que a Ufrgs tem priorizado o chamamento dos candidatos por acesso universal, e não os por cotas, que seria o previsto em lei. Isso configura, para a estudante de Psicologia, um movimento racista dentro da universidade. "A Ufrgs não se preparou para receber o aluno que vem da escola pública, o da periferia, o indígena e o negro. Quando há 60% de universitários egressos de escola pública, isso implica auxílio-estudantil. Aí, em um contexto no qual há um corte nacional de 40% do orçamento para as universidades federais, tu precisas optar pelo que consideras uma prioridade: se é dar auxílio ao estudante pobre ou reformar o banheiro do reitor, por exemplo", cita.
Em nota assinada pelo reitor Carlos Alexandre Netto, a Ufrgs defendeu que não há intenção da instituição em retroagir em sua política de ações afirmativas. "A reitoria desta universidade luta e é inflexível em relação a qualquer ato que possa representar recuo nos avanços já obtidos. A opção da Ufrgs é transparente e imutável: o sistema de cotas não é passível de retrocessos", garante.
Netto explica, ainda, que, desde a apresentação inicial do Parecer nº 239/2016, verificou-se, através do pedido de vistas de dois conselheiros, a necessidade de aprimoramento do texto. A emenda será apresentada na reunião de amanhã.