Desculpe o transtorno, mas precisamos falar sobre o Brasil
No dia 19 de agosto o jornal Valor Econômico publicou em seu caderno de infraestrutura um artigo dizendo que o futuro da Amazônia pode depender de uma terceira via de desenvolvimento baseada na inovação tecnológica de ponta, no conhecimento tradicional e nos ativos da biodiversidade. Seria uma estratégia para explorar o que a floresta tem de disponível de forma sustentável e com alto valor agregado.
Por Marcela Rodrigues*
Publicado 27/09/2016 13:29
A estratégia, chamada "Quarta Revolução Industrial", foi o tema da reunião deste ano no Fórum Mundial de Davos, e trata de um movimento global em curso há mais de uma década, que revoluciona as sociedades por meio de inteligência artificial, robótica, genômica e nanotecnologias, por exemplo.
Mas está cada vez mais difícil vislumbrar a associação de ciência ao conhecimento tradicional para desenvolver a Amazônia e o Brasil de hoje. Investir em ciência, tecnologia e inovação exige um arcabouço de excelência na formação de recursos humanos e é o contrário que o atual governo propõe com medidas recentes.
Primeiro, a extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia, gerando insegurança jurídica para o marco legal que foi construído à duras penas com décadas de dedicação do setor. Agora, a Medida Provisória 746 que reformula o Ensino Médio prevê uma adequação do sistema público de educação ao congelamento dos gastos para os próximos vinte anos. Para tanto, desobriga o concurso público, acaba exigência de formação do professor, aumenta a carga horária sem infraestrutura nas escolas, sem recurso para ampliação das atividades curriculares, sem disciplinas de formação do senso crítico como artes, filosofia e educação física, reduzindo o ensino técnico à toda e qualquer qualificação profissional como uma capacitação empresarial, por exemplo.
A MP 746 torna obscura a relação entre o financiamento promovido pelo Estado e os entes privados. Abre a possibilidade de universidades privadas equivalerem disciplinas do ensino médio. Em suma, essas e outras medidas acabam com o esforço de nacionalização do sistema educacional reduzindo a discrepância da qualidade do ensino entre as regiões do Brasil tornando nossa escola formadora de mão de obra barata para a demanda do setor produtivo local além de criar duas escolas distintas no Brasil: a dos que podem pagar e certamente chegarão à universidade e a dos que precisam trabalhar e receberão sua carta de recomendação de excelente quebrador de castanha.
Claramente o norte e o nordeste serão os mais atingidos por esta MP, assim como a renegociação da dívida dos Estados e Municípios, a Proposta de Emenda à Constituição 241 e toda essa política nefasta do governo biônico de Michel Temer. Com estadistas visionários como os que temos, como o Ministro da Educação que se aconselha com o ator Alexandre Frota, a nossa quarta revolução industrial nem aconteceu, mas já é coisa do passado.