Conheça os jovens que denunciam o golpe e lutam contra o retrocesso
Eles somam 51 milhões de brasileiros¹, tem opiniões próprias, a rebeldia consequente de contestar padrões e a sede por mudanças. Nesta quinta-feira (22), data que é celebrado o dia da Juventude, o Portal Vermelho conversou com jovens, de diversos seguimentos, que lutam por um Brasil mais justo e humano. Filhos da geração que foram às ruas contra a Ditadura Militar, eles relatam como enxergam a ruptura do regime democrático no Brasil e como enfrentar o período de retrocessos.
Publicado 21/09/2016 13:48
Por Laís Gouveia
Confira os depoimentos abaixo:
Renan Alencar- Presidente da União da Juventude Socialista (UJS)
“A UJS celebra seus 32 anos na mesma data que é comemorado o dia da juventude. A entidade foi protagonista na luta pelo fim da ditadura militar, o período neoliberal, ajudou a derrubar o presidente corrupto Fernando Collor de Mello, contribuiu para a vitória de Lula, Dilma e hoje luta em defesa da democracia, por consequência, para que não sejam retirados os nossos direitos. Somos Contra a PEC 241 que tenta limitar os gastos em saúde e educação ao longo dos 20 anos e rechaçamos a privatização de estatais estratégicas, assim como a Reforma da Previdência e suas alterações na CLT, que irá prejudicar a vida do trabalhador. Por isso, vamos todos às ruas nesta quinta-feira (22) somando as centrais sindicais contra a retirada de direitos”.
Maria das Neves- Diretora de Jovens da União Brasileira de Mulheres (UBM)
"Há uma nova geração de feministas no Brasil, florescemos com a primavera feminista, combatendo o PL 5069, e Eduardo Cunha, nos revelamos nas redes e nas ruas contra o patriarcado, a cultura do estupro e o golpe machista e misógino de Michel Temer. Nós, mulheres, temos liderado nas ruas a resistência contra o golpe e o conservadorismo. ‘Nem recatadas e nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar’. É o grande desafio da nossa geração é a retomada democracia, só nela avançaremos na conquista de mais diretos para as mulheres, como a legalização e descriminalização do aborto, igualdade salarial, debate de gênero nas escolas, creches e o fim da violência doméstica e de gênero. Não seremos silenciamos pelo fundamentalismo religioso ou as fardas, cacetetes e gás de pimenta. Lutaremos! Machismo mata, feminismo liberta!".
Paulo Henrique- Coordenador de Juventude do Movimento sem Terra (MST)
“O golpe que foi dado pela burguesia está atingindo diretamente a vida da juventude no campo e na cidade, além da retirada de diretos na educação, saúde, moradia e reforma agrária. Os jovens brasileiros sempre tiveram um importante papel nas lutas sociais por mudanças, não vamos nos calar diante essa ameaça neoliberal conservadora. Nós, da Juventude sem Terra, dos vários assentamentos e acampamentos que o MST está organizando, apontamos como principais desafios políticos: Fortalecer a unidade da juventude campo e cidade. Vamos nos somar as mobilizações da classe trabalhadora no próximo período, seja nas paralisações ou nas greves e fazer a luta pela educação pública e do campo.
Não vamos admitir uma educação conservadora em nossas escolas. Realizaremos agitações e propagandas denunciando os inimigos do povo. Organizaremos nossos jovens em cada assentamento e acampamento nesse país”.
Dhyego Lymma- Diretor da Juventude da União Nacional LGBT- UNALGBT
“A juventude LGBT teve muitos avanços nesses últimos 15 anos, e hoje, com o golpe confirmado, o futuro de nossos jovens está ameaçado pelo governo ilegítimo, que a cada dia retira mais direitos. E por isso, nos jovens LGBT's, precisamos ocupar as ruas por nenhum direito a menos, fora temer e diretas já, para que possamos garantir a democracia do nosso país”.
Josué Rocha- Coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST)
“Vivemos um momento de retrocessos anunciados. O governo golpista de Michel Temer prepara um pacote que ataca diretamente a juventude com cortes na educação e reforma no ensino médio. Sem falar no aumento do desemprego que atinge principalmente os mais jovens e o avanço da repressão policial que se expressa principalmente nas periferias. A resposta que devemos dar, passa por um combate a esse governo ilegítimo e seus ataques. Num momento em que os espaços políticos tradicionais são questionados em todo o país, a juventude tem apontado o caminho. A política deve sair dos gabinetes e da conciliação e tomar as ruas e as ocupações como os secundaristas fizeram em diversos estados.
Anne Carol- Diretora da União da Negros pela Igualdade (Unegro)
A juventude unida é forte, somos o futuro dessa nação, quem tem o poder de mudança somos nós. Vivemos um período conjuntural extremamente difícil, pois querem nos calar. Mas temos força para lutar e vencer. Celebrar a juventude é importante, porque nela reside a importância transformadora da sociedade, somos a revolução.
Daniel Souza- Presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve)
"O golpe de estado é parte de um projeto mais amplo de manutenção de privilégios da “casa grande” e a redução de direitos das maiorias empobrecidas em nosso país, como os direitos da juventude. Um desses direitos colocados em questão é a participação social. Uma das marcas nesse último ciclo político guiado por uma frente popular, que tinha no Partido dos Trabalhadores uma referência, é a centralidade da participação. Ou melhor: não há governo sem participação social forte, com espaços de consulta, formulação e monitoramento de políticas e programas. Algo bem diferente do governo de Michel Temer, que esvazia – na sua compreensão de estado e governo – o sentido do Conselho Nacional de Juventude. Nessa lógica, não é relevante é necessário a presença da sociedade civil na construção de políticas públicas, em todo conflito e dissenso da pluralidade de vozes que marca esse espaço. O atual governo prefere a fala única, o consenso forçado, a “pacificação” do país e a embolorada “ordem e progresso”. Uma afronta ao direito à participação garantido no Estatuto da Juventude, marco legal aprovado e sancionado em 2013. No entanto, como horizonte e virada do jogo entre a juventude, é necessário ir além do #ForaTemer. É preciso denunciar o golpe, pressionar para que Michel Temer saia e ensaiar projetos políticos amplos, plurais e imaginados desde a radicalização democrática e o enfrentamento das desigualdades. É o ato de sair das reações e respostas pontuais para a disputa de projetos políticos radicalizados, propositivos e à esquerda, que logo evidenciam o legado e as ambiguidades dos últimos anos e, também, escancaram os retrocessos e violações de direitos, da "ponte para o futuro”, que tocam diretamente a vida da juventude".
1- Segundo o senso do IBGE