Novo livro de David Harvey desnuda 17 contradições do capitalismo
Um dos mais conceituados pensadores marxistas da atualidade, David Hervey, acaba de lançar sua última obra no Brasil. O livro17 contradições e o fim do capitalismo chega ao país nesta segunda-feira (19) com tradução inédita da Boitempo Editorial.
Publicado 16/09/2016 17:33
Nesta obra Harvey coloca em xeque questões já “consolidadas” pela sociedade ocidental moderna onde o capitalismo é aceito como algo “tão natural como o ar que se respira”. O geógrafo britânico destrincha as contradições internas deste motor econômico que se mostra cada dia mais frágil.
Escrito em linguagem acessível, 17 contradições e o fim do capitalismo coroa o “Projeto Marx”, que orienta a obra de Harvey há vinte anos, repensando Karl Marx em época de mutação e crise do capitalismo. A decisão de focar a análise nas contradições se deve em parte aos escritos do filósofo alemão, que enfatizou diversas vezes que crises do tipo que o mundo viveu em 2007-2008 são manifestações superficiais de contradições internas do capital. O objetivo de Harvey é inverter o uso da ideia de contradição como ponto final da reflexão e torná-la o início da conversa, em particular sobre o que seria uma política anticapitalista e como poderíamos entender as crises.
Ao longo dessa análise sistêmica, Harvey constata que, embora a forma de manifestação de algumas contradições tenha se desenvolvido desde a época de Marx, a estrutura das contradições do capital é surpreendentemente constante. Além disso, tais contradições são interligadas e interagem (às vezes se apoiam) mutuamente; e revelam um retrato muito mais descentralizado do capital do que se costuma pintar.
“A exposição ganha complexidade à medida que parte para as contradições mutáveis, abrindo as contradições do capital para a interação com as do capitalismo e avaliando suas formas no tempo e no espaço. Como geógrafo, o autor dá justo destaque ao desenvolvimento desigual das regiões e aborda como o Estado legitima e apoia a acumulação por espoliação”, diz o economista e professor da Unicamp, Pedro Paulo Zahluth Bastos.
Por fim, Harvey aborda as contradições perigosas, que podem provocar uma degradação progressiva da terra e um empobrecimento em massa, aumentando radicalmente a desigualdade social e a desumanização de grande parte da humanidade. Ao final do livro, vemos um dos mais influentes marxistas da atualidade sintetizar sua experiência de compreensão das dinâmicas do capital em dezessete “ideias para a prática política”, um explosivo manifesto humanista revolucionário com orientações efetivas para quem busca desafiar o regime capitalista de uma vez por todas. Para cada contradição do capital revelada e destrinchada, Harvey rebate com uma proposta formulada de maneira clara e direta. Não é à toa que considere este o “livro mais perigoso” que já escreveu.
Sobre o autor
David Harvey é um dos marxistas mais influentes da atualidade, reconhecido internacionalmente por seu trabalho de vanguarda na análise geográfica das dinâmicas do capital.
É professor de antropologia da pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (The City University of New York – Cuny) na qual leciona desde 2001. Foi também professor de geografia nas universidades Johns Hopkins e Oxford.
Sua obra foi apontada pelo Independent como uma das mais importantes de não-ficção publicadas desde a Segunda Guerra Mundial. Dele, a Boitempo publicou O enigma do capital, os dois volumes de seu guia de leitura Para entender O Capital, Os limites do capital, Paris, capital da modernidade e seu mais novo livro, 17 contradições e o fim do capitalismo.