Ibope: Avaliação da gestão Temer é trágica nas cinco maiores capitais
Matéria muito curiosa hoje no G1 aparece com o título “Aprovação ao governo Temer varia de 8% a 19% nas capitais, aponta Ibope”. O inusitado da matéria está em que ela privilegia e dá destaque aos dados que podem ser benéficos a Temer, o que produz uma enorme distorção.
Por Bajonas Teixeira
Publicado 04/09/2016 16:32
A mágica começa com o privilégio dado ao Ótimo/bom e o esquecimento, muito sintomático, do outro lado da tabela, onde se lê as palavras “Ruim/Péssimo”. Por demais acrobática ou contorcionista, a leitura da Globo destaca, por exemplo, que 8% dos entrevistados em Salvador avaliam o governo Temer como Ótimo/Bom.
Ocorre que na outra extremidade do espectro, se localizam 53% da população de Salvador que entende que o governo Temer é Ruim/Péssimo. Com muita singeleza e neutralidade, o texto da Globo resume a situação:
“A avaliação do governo do presidente Michel Temer (PMDB) como ‘ótimo’ e ‘bom’ varia de 8% a 19% nas capitais, segundo pesquisas Ibope realizadas nesta semana e na semana passada. (…)
Já em Salvador e em Aracaju, 8% dos eleitores classificam sua gestão como ótima ou boa – o menor índice entre todas as cidades.”
A leitura correta dos dados, destacando o que neles é mais digno de nota, tem que se prender exatamente ao inverso do peixe vendido pela Globo. A interpretação dos dados com isso pintará um retrato totalmente diverso:
– Nas cinco capitais de maior população do país, a rejeição (Ruim/Péssimo) ou a indiferença (as avaliações que optaram pelo “Regular”) ao governo Temer, variam entre 77 e 82%.
– Nas três maiores capitais do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), os que avaliam o governo como Ótimo/Bom estão na média de 12.5%, que é baixíssima. Já os que avaliam como Ruim/Péssimo chegam a elevada média de 43.3%.
– Somadas, as três maiores capitais do país apresentam 79.6% de indiferença ou rejeição ao governo Temer.
– Nas duas maiores capitais do Nordeste, repete-se a mesma coisa: indiferença ou rejeição de 79.5%.
Tudo indica, pelo desmonte brutal das políticas sociais que estão sendo implementadas pelo governo, pela destruição que pretende operar sobre as leis e estruturas já históricas de direitos do trabalhador no país, e das mudanças na previdência e nas aposentadorias, que passam a estar desvinculadas do salário mínimo, que os números acima só podem continuar subindo, e vertiginosamente.
Não há no horizonte nada que indique uma inversão de sinais, que permita crer que os “indiferentes” tenderão a avaliar, num futuro próximo ou distante, o governo Temer como Ótimo/Bom. Ao contrário, esse número só terá estímulos para crescer. A mesma coisa para aqueles que ficam no “não sabe/não respondeu”, que na tabela acima não foram computados. Esses também tenderão a saber e a responder em breve, e negativamente.
Enfim, assim que o milagreiro Temer fizer os cegos enxergarem, a coisa vai ficar muito pior para seu governo.
A situação é mais trágica por não se tratar do enterro de um governo de oito anos, como no caso de FHC, que saiu com a taxa de aprovação (Ótimo/Bom) em 8%. O caso de Temer é de um governo que já inicia, que dá seus primeiros passos, como um governo ruim em final de dois mandatos. Enfim, Temer é o novo muito envelhecido e que, tudo indica, não terá tempo para tentar se repaginar.