Mary Garcia Castro: Um berro
Desculpem o lugar comum, mas só lembro Neruda. “Esta noite poderia escrever os versos mais tristes”,; e meu bardo nativo, Gonçalves Dias: “Não chore meu filho, que a vida é luta renhida, viver é lutar. A vida é combate, que se os fracos abate, aos fortes, aos bravos, só pode exaltar.”
Mais uma data pátria a não comemorar.
Por Mary Castro*
Publicado 02/09/2016 15:07
Termina agosto com mais um desgosto. Em 31 de agosto de 2016, os homens togados, empoderados, encongressados, roubam meu voto e de mais 54 milhões e levam a democracia, em legitimado rito, golpe de brancos, de bancos, latifundiários, representantes do trabalho escravo, fundamentalistas, capitalistas, misóginos e com eles vêm a escola sem partido, a recusa de gênero no ensino, o ataque aos direitos trabalhistas, das mulheres, dos negros, do povo LGBT, dos povos originais, vem a reforma da previdência e o abate de tantas conquistas.
Foi-se a dita cidadania política, e com ela a civil e por ai a social E nós na rua, que tanto protestramos? E nós no face, e nós que seguimos os trilhos, que argumentamos, que nos comportamos, debatendo com surdos não mudos, que aprendemos? Jogo de carta marcada, que como bons cidadãos jogamos. E nós que não lemos a história de um pais que se constrói ou se destrói entre golpes, e, “ há mães caladas querendo seus filhos criados na lei do terror”.
O que esperávamos de um povo há tantos anos subjugados? E agora, militantes, ativistas, mulheres e homens das hostes da transgressão? Como bons cidadãos, nos curvamos ao arbítrio, à prepotência, ao conluio de poderes, de instituições viciadas, esperando, como esperamos que seja Lula o próximo, que não tenhamos mais eleições mas sim, indicações? Que se inaugure a ditadura neo-neo liberal, sem baionetas, ou quase, já que a policia nos persegue? Fiquemos com o bonito e honroso discurso de Dilma, mulher fênix, que reencarnou a guerreira militante quando se livrando das peias e dos trilhos, voltou ao povo e daí, sigamos. Que nosso verbo se faça carne.
É comum na nossa cultura vermelha, quando morre um dos nossos, à esquerda, o grito que agita: “Nenhum minuto de silencio, toda uma vida de combate”. Hoje morreu a farsa da democracia burguesa, hora de sair dos trilhos, de desobediência civil. Sou rua, nua, lua, sou grito, sou oposição, e não estou só, e em breve seremos mais, revertendo erros que levaram a desencantos. Hora de voltar às catacumbas, rever sem melancolia nossos erros, reestruturar o combate Sou a velha toupeira a minar esse sistema usurpador, por onde seja, sou comunista e mais uma batalha anima, somos de varias formas, mas firmes, OPOSIÇAO.
Em 31 de agosto, data a ser lembrada como do início da outra luta. Avante, camaradas!