A reação nas ruas contra o golpe e ForaTemer: "Não vai ter arrego!"
O dia em que a presidenta Dilma Rousseff foi definitivamente afastada através de um processo de impeachment fraudulento no Senado, milhares de pessoas indignadas com o golpe e contra o governo Temer, foram às ruas protestarem. As manifestações ocorreram ao longo da noite em quase todas as capitais do país, na maioria delas, houve forte repressão da polícia que usou de violência para dispersar os manifestantes.
Publicado 01/09/2016 13:42
Em São Paulo, no terceiro dia consecutivo de manifestação, logo após a decisão do Senado, milhares de pessoas se aglomeravam nos dois lados da pista da avenida Paulista, conforme a tarde ia caindo, mais e mais pessoas apareciam para mostrar sua indignação.
“Não vai ter arrego”, “Fora Temer”, por novas eleições e contra a mídia golpista foram as principais palavras de ordem entoadas pelos manifestantes que a noite seguiram em marcha pela Avenida Consolação. Depois das 20h, a Polícia Militar avançou contra os ativistas atirando bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
Nas redes sociais, há vários relatos de pessoas que se espantaram com a truculência da Polícia e questionaram o motivo da violência contra pessoas que só estavam reivindicando os seus direitos. A ardência nos olhos, a irritação, náuseas, tosse e asfixia na garganta, foram as principais queixas dos manifestantes e também de moradores vizinhos ao centro de São Paulo, que também sofreram com a fumaça tóxica.
Abaixo alguns relatos descreviam São Paulo como uma praça de guerra:
"Fomos covardemente atacados pela PM.
Fui rendida na parede com policiais atirando balas de borracha e bombas.
Não era pra dispersar, era para amedrontar.
Nunca me senti tão impotente.
Me senti covarde.
Não tinha como me defender.
Na verdade eles são os covardes.
Estava de peito aberto.
Sem armas e sem proteção.
Eles atiram porque estão protegidos com escudos,capacete e armas.
Sim, não temos o direito de protestar.
E agora é daqui pra pior.
Enquanto comemoram com fogos de artifícios, jovens estão recebendo bala e bomba na cara.
VOCÊS GOLPISTAS QUEREM NOS CALAR MAS NÃO VÃO.
NÃO VÃO NOS AMEDRONTAR." (Marcela Baladez).
Segundo informações publicadas pelo Jornalistas Livres, Deborah Fabri, que participava do ato contra o impeachment na noite desta quarta-feria (31), foi atingida por um estilhaço de bomba no olho esquerdo. "Quando encontramos Deborah, ela já estava ferida e era amparada por amigos e outros manifestantes. Ainda assim, ela conseguiu explicar que o estilhaço da bomba que atingiu seu olho, dilacerou a lente do óculos que usava. Deborah sentia pedaços de vidro dentro do globo ocular. Ao nos aproximarmos, ela dizia: “perdi meu olho, meu olho não está aqui”. De acordo com a publicação, a manifestante passa por cirurgia. (Foto: Roberto Seracinskis/Jornalistas Livres)
“Chegando no Largo Santa Cecília mais de duas mil pessoas começam a se juntar no entorno. Passamos a saber dos vários feridos, mulheres, senhoras e até crianças que acompanhavam os pais. O pessoal se revolta e decidem ir até a sede da Folha protestar contra essa a imprensa que alimentou o Golpe na Democracia. Em 20 minutos chega a PM despejando bombas. Um jornalista da imprensa alternativa é espancado pelos PM's.”
“Gente foi muito desproporcional o ataque da polícia. Encurralou uma parte dos manifestantes onde eu estava e não tinha para onde correr. Foi muita bomba dos dois lados da consolação. Tempos sombrios.”
“Hoje foi a segunda vez na semana que respirei muita bomba de gás. Hoje Leo estava comigo. Ficamos encurralados entre duas tropas de choque na Consolação (sempre ali…). Muita muita bomba. Minha preocupação era cobrir o rosto, porque é na cara que eles jogam, pra acertar. Isso eu já vi acontecer. Nos perdemos momentaneamente no meio da confusão, do corre-corre, tentando achar como sair dali. Foi um alívio vê-lo de novo, e vê-lo bem. Não nos machucamos, embora eu esteja com muita dor de estômago em virtude do gás tóxico. (…) Me assusta, mas não me impede, porque eu sei que é assim quando se reivindica algo justo na nossa "democracia": bomba na cara! Mas me deprime um pouco, porque eu só quero exercer minha liberdade de expressão de NÃO concordar com um governo golpista. Por fim chego em casa e tenho que ouvir vizinho munido de panela, gritando "viva a PM", do conforto da sua varanda. O mundo roda, mas nós brasileiros não conseguimos mudar. Vida que segue, ainda tenho trabalho para entregar hoje. (Eduardo Araújo, internauta)”.
"Um MASSACRE em SP da PM Paulista. Mais de 20 mil pessoas desciam a Consolação. Por volta de 1.500 soldados do Choque, Força Tática e PM's comuns vinham atrás acompanhando. Quase no fim da Consolação haviam uma barreira de mais de 500 soldados da Tropa, Força Tática Caminhões bloqueando a passagem. Neste momento os Policiais que vinham atrás começam a comprimir os manifestantes num trecho que não haviam saídas laterais. Percebi a situação, mas não acreditei que eles fariam aquilo. De repente começam a lançar no meio da manifestação uma chuva de bombas de gás. A correria é intensa. O povo tenta escapar e a única maneira era passando pelos cordões Policiais. Eles então começam a atirar a queima roupa balas de borracha e bombas de efeito moral. Bem em minha frente uma senhora tem o rosto dilacerado por estilhaços de uma bomba de efeito. O pessoal ajuda a senhora carregando nos braços. Os que passavam recebiam cacetetes na cabeça e nas costas. Várias pessoas pisoteadas. O povão que consegue passar acessa as ruas laterais e são perseguidos por carros e motos da PM. Vejo um jovem sendo atropelado por uma viatura. A fumaça de gás e bombas era intenso, não consigo enxergar número da viatura, É muito dificl correr e respirar. Os PM's alvejam jornalistas da imprensa alternativa devidamente identificados que tentam cobrir os fatos. E tentam tomar os equipamentos.em seus equipamentos. A revolta toma conta da massa que começa a montar barricadas por todo lado. Helicopteros da PM sobrevoa orientando as viaturas e motos policiais. Neste momento estou com um grupo 300 pessoas encurraladas justamente na Rua Maria Antônia (parece até ironia da história) Várias caçambas de entulho de reformas nos condomínios de alto padrão do entorno são utilizadas pra bloquear as ruas. A Rua Maria Antônia arde em chamas. Os moradores dos apartamentos assistem tudo do alto de suas varandas gourmets. A PM rompe o bloqueio e os manifestantes descem a Rua Veridiana correndo vemos mais um atropelamento, desta vez uma pickup branca. Não dá pra anotar placa com a PM no encalço. A moça atropelada chegou a cair no chão, o carro pegou de lado, mas ela se levanta e sai correndo mancando. Chegando no Largo Santa Cecília mais de duas mil pessoas começam a se juntar no entorno. Passamos a saber dos vários feridos, mulheres, senhoras e até crianças que acompanhavam os pais. O pessoal se revolta e decidem ir até a sede da Folha protestar contra essa a imprensa que alimentou o Golpe na Democracia. Em 20 minutos chega a PM despejando bombas. Um jornalista da imprensa alternativa é espancado pelos PM's. Voltamos pra Santa Cecília. Pelas redes sociais ficamos sabendo que na Praça Rosevelt e Praça da República a PM agridem manifestantes e revistam todos os transeuntes que acham suspeitos. Junto com um grupo do ABC pegamos o metrô e viemos embora. O que PM cometeu foi um verdadeiro Crime Contra a Humanidade. São Paulo, 31 de Agosto de 2016, 52 anos depois de 1964. (Depoimento do Marcelo Buraco).
Em Ribeirão Preto também houve manifestação e agressão policial. Uma mulher é arrastada pela PM.
Brasília
Na Capital Federal não foi diferente, a Polícia Militar reprimiu com extrema violência a manifestação contra a confirmação do golpe. Bombas de efeito moral, gás de pimenta, prisões arbitrárias e espancamentos deram a tônica da atuação policial na noite de 31 de agosto.
A caminhada começou na Esplanada, em frente ao Ministério da Justiça. Na altura da rodoviária, os policiais atacaram com gás de pimenta e cassetetes. Fotógrafos e cinegrafistas também foram ameaçados.
Na capital fluminense, o ato reuniu uma multidão no Centro da cidade. O grupo saiu da Cinelândia em direção à Assembleia Legislativa. Bairros da Zona Sul, da Zona Norte e da região central da capital fluminense registraram panelaços durante todo o pronunciamento de Temer em cadeia de rádio e televisão.
Em Vitória (ES), foram mais de mil manifestantes que seguiram em marcha até a praça do pedágio da Terceira Ponte, segundo relatos, a cavalaria os aguardava. O grupo realizou uma assmebleia sentados ao chão, "quando sem nenhum motivo o batalhão começou a disparar bombas e balas de borracha. Apesar das incansáveis tentativas de resistência, a cavalaria perseguiu a manifestação dispersando o ato Fora Temer", informou o Mídia Ninja.
As informações foram que houve manifestantes feridos vítimas das bombas e tiros de bala de borracha. Entre eles um idoso de 70 anos.
Belo Horizonte
Na capital mineira uma multidão tomou o centro da cidade. Os manifestantes fizeram um protesto pacífico e gritaram palavras de ordem contra o golpe difarçado de impeachment no Senado. E ainda contra o retrocesso nos direitos do trabalhador, os manifestantes mineiros gritaram "ForaTemer".
Recife
No Recife, manifestantes e representantes de diversas entidades civis ocuparam por cerca de duas horas uma das principais vias do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães, percorrendo, em seguida, outro importante corredor viário da cidade, a Avenida Conde da Boa Vista, até a Praça do Diário.
Em Salvador (BA), milhares de manifestantes usaram o apito para protestarem contra Temer. Os manisfestantes também entoaram palavras de ordem dizendo que a luta vai continuar. "Não pode parar, daqui pra frente é resistir e ocupar".
(Vídeo: Duda Libório)
Florianópolis
O ato Fora Temer em Florianópolis ficou marcado pela grande movimentação nas ruas. Milhares de pessoas se uniram em defesa da democracia e pelo Fora Temer.