Nicolelis: Desinformação é mais do que má prática do jornalismo
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, considerado um dos 20 maiores cientistas do mundo pela revista Scientific American, afirmou que a prática da imprensa comercial de veicular informações parciais e pouco aprofundadas é na verdade uma estratégia política.
Publicado 27/08/2016 15:34
Questionado sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, ele defendeu a criação de uma frente única, nacional e apartidária que faça resistência e funcione como porta voz da versão dos movimentos sociais.
“Existem grupos que estão aprofundando a revolução digital por questões econômicas, reduzindo os custos do trabalho, mas também para dominação. É muito mais fácil dominar uma multidão que não é crítica. Para mim, a desinformação não é apenas uma má prática do jornalismo. Para mim, é uma estratégia”, disse nesta sexta-feira (26) durante o 4º Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde, realizado em São Paulo pela Fundacentro – autarquia subordinada ao Ministério do Trabalho.
Fazer ao contraponto aos meios de comunicação tradicionais é um dos caminhos para a resistência ao impeachment, na avaliação do cientista. “Confrontar um golpe dessa magnitude exige um movimento de resistência nacional e apartidário com um porta-voz para falar ao mundo o que ocorre aqui. Quem domina a mensagem domina a História e a perda da nossa mensagem nesse momento foi avassaladora.”
Professor titular da Universidade de Duke, nos Estados e Unidos e idealizador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), Nicolelis considera que o país vive um momento de “anestesia geral”. Para o cientista, as pessoas são muito influenciadas pela relação cada vez mais crescente com a tecnologia, que pode enfraquecer características humanas como as relações interpessoais e a criatividade. “Se isso (o impeachment de Dilma) tivesse ocorrido em 1978, estaríamos todos na rua. Segunda-feira Dilma poderá ser ouvida nesse processo kafkiano e ainda não sabemos se a Praça dos Três Poderes, em Brasília, vai estar ocupada.”