Guadalupe Carniel: Quanto vale o peso da camisa?
Nessa terça-feira (24) foi decidido o futuro da camisa celeste. Nada a ver com campeonatos, reestruturação, planejamentos. Após debates nos jornais, ruas, bares, definiu-se os rumos da camisa dos orientales por uma longa votação. A Puma saiu e entrou a Nike.
Por Guadalupe Carniel*
Publicado 25/08/2016 18:14
O que ocorreu foi que o contrato com a Puma que parecia que nunca seria alterado, se encerraria neste ano. Ela iria renovar, mas a Nike chegou com melhor proposta. A Tenfield está há 18 anos à frente do futebol uruguaio. A empresa controla os direitos de imagem da seleção, controla cotas de TV e ainda faz intermediação entre os patrocinadores e desejaria que a Puma se mantivesse como patrocinadora.
Na quarta-feira, a AUF fez uma assembleia para definir os rumos com os clubes (os da primeira divisão, alguns da segunda, terceira e um representante dos clubes do interior). O resultado da votação foi apertado: com 10 votos a 9, a Nike venceu com a proposta de US$ 3,4 milhões (cinco vezes mais que o contrato da Puma) por sete anos.
Entraram nessa disputa as estrelas da celeste, como Luiz Suárez, Diego Godín (patrocinado pela Puma) e Cavani (patrocinado pela Nike e que levou a oferta da empresa à AUF). Os jogadores ameaçaram deixar a seleção e, se ficassem, não liberariam seus direitos de imagem, se não fechassem com a Nike ou se a Puma não aumentasse a proposta. Segundo os jogadores a ideia é que com mais dinheiro investido no futebol uruguaio, os jogadores mais novos fiquem no país. Além disso, exigem dignidade, transparência e respeito.
A Tenfield alega que a disputa da Puma e Nike foi injusta pelo abismo que separa as quantias e tem vinte dias para fazer uma nova oferta.
Esse tipo de notícia me entristece profundamente. Claro, a ideia de quebra de um monopólio de quase duas décadas é louvável, assim como mais dinheiro entrando também. Mas quem garante que ele será realmente investido no futebol uruguaio? O que realmente será feito? Os clubes do interior terão alguma coisa?
Sou da época que a camisa pesava, ainda mais a dos orientales, pela garra charrúa. O seu peso era medido pelas conquistas, glórias, história, equipes aguerridas que jamais se entregavam e deixavam até a alma em campo, principalmente em jogos de Libertadores, e não por um mero patrocinador. Hoje em dia os valores se inverteram e manda quem tem dinheiro. Infelizmente, vale mais atualmente o nome do patrocinador do que o escudo.