Temer ameaça medalhistas com corte do Bolsa Pódio criado por Lula
As Olimpíadas do Rio 2016 encerram com um saldo positivo para o Brasil que, além do sucesso na realização do evento, bateu recorde de medalhas. Esse resultado refletiu o grande investimento público no esporte feito pelos governos de Lula e Dilma.
Publicado 22/08/2016 15:37
Das 33 modalidades olímpicas, 17 tiveram um desempenho melhor do que em 2012, sendo que em 13 delas o Brasil nunca teve resultados tão bons.
A canoagem, em que o medalhista Isaquias Queiroz garantiu três pódios, é um exemplo dessa conquista inédita. Baiano de Ubaitaba, Isaquias é um dos 17 mil atletas olímpicos e paralímpicos beneficiados pelo programa em todas as regiões do país.
“Essa medalha tem um significado especial por ter vindo de um projeto social, mas me dá tristeza ver que isso acabou no Brasil. Os EUA são uma potência no esporte porque lá existe incentivo do governo”, disse o atleta, de 22 anos, que foi o primeiro brasileiro a ganhar três medalhas na mesma Olimpíada.
Entre 2012 e 2016, o Governo Federal injetou cerca de R$ 413 milhões em todos os níveis do Bolsa Atleta — um investimento 126% superior ao feito para Londres, em 2012 (R$ 183 milhões).
Dos 465 atletas brasileiros participantes dos jogos, 77% foram beneficiados pelo programa, incluindo atletas ligados às Forças Armadas. E mais: das 18 medalhas conquistadas pelo país, apenas no ouro da seleção masculina de futebol e no bronze de Maicon Siqueira, do taekwondo, não há dinheiro do Bolsa Pódio.
Ex-ministro do Esporte no governo Lula e Dilma e deputado federal pelo PCdoB, Orlando Silva (SP), destacou em recente entrevista ao Portal Vermelho destacou a importância da expansão dos programas e da realização do evento no Brasil.
“Para o Brasil, a Copa do Mundo e a Olimpíada fez com que antecipássemos investimento que, mais cedo ou mais tarde, teriam que ser feitos nas cidades que receberam os eventos. No Rio de Janeiro houve uma revitalização forte do centro. Mexeu muito na estrutura de transporte urbano da cidade e do ponto de vista esportivo, nós preparamos muitos treinadores e atletas. Temos novas instalações e mais equipamentos. Portanto, seja na dimensão econômica, política, cultural ou esportiva, são grandes oportunidades”, destacou.
Apesar desse resultado diretamente alcançado pelos investimentos recordes feitos nos governos Lula e Dilma, que colaborou para que o país atingisse sua melhor participação em Jogos Olímpicos na história, o presidente interino Michel Temer (PMDB) nem esperou encerrar os jogos para sinalizar a intenção de cortar o orçamento do programa, assim como outros das áreas sociais.
A decisão do gabinete dos sem voto repercutiu mal e o secretário provisório de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Luís Lima, tentou apagar o incêndio. Disse que a Bolsa Atleta, que desde 2005 financia competidores da base ao alto rendimento, deve ser mantida. “Deve”, ou seja, não dá certeza de o apelo dos atletas ser atendido.
“A vontade é de manter o programa. Sabemos da importância desse apoio. Em outubro, vamos discutir as novas diretrizes e, se tudo der certo, um novo edital será lançado para renovarmos o incentivo para o novo ciclo”, afirmou.
Pelo menos 220 esportistas de alto rendimento devem deixar de receber a Bolsa Pódio, a mais alta categoria da Bolsa Atleta, cujo valor varia entre R$ 5 mil e R$ 15 mil por mês.
“O programa é fundamental para que os atletas se mantenham no topo”, disse o medalhista Felipe Wu, prata no tiro esportivo. “Recebi a última parcela prevista agora, mas espero que não termine. Faço um apelo para que mantenham. Todos os atletas gostariam muito que o benefício fosse renovado”, completou.