Publicado 05/08/2016 10:36 | Editado 04/03/2020 16:24
O momento histórico que vivemos é muito inspirador e didático para uma análise da política do pão e circo no Brasil e as diversas facetas envolvendo o governo e a grande mídia golpista. Até alguns meses atrás, as manchetes e os comentários, predominantemente, estavam voltados para os temas: dificuldade financeira, desemprego, corrupção, violência, o caos reinante na gestão federal e reportagens apresentando uma total falta de condições do nosso país em sediar uma Olimpíada.
Para nivelar os conhecimentos do tema em questão e fazer uma contextualização histórica, vamos voltar à Roma Antiga. Na época, para atenuar a insatisfação contra os governantes e conter possíveis revoltas, o primeiro imperador romano, Otávio Augusto, que governou de 27 a.C. a 14 d.C., criou a política do pão e circo. A medida consistia em oferecer alimento e diversão à população.
O desemprego era o principal problema e tinha como uma das suas causas a escravidão. Os camponeses migravam para as cidades romanas em busca de melhores condições de vida, mas o crescimento urbano desenfreado acarretava inúmeros outros problemas sociais. Como os governantes não tinham uma política voltada para as classes populares, a solução era tentar ludibriar o povo que, na sua grande maioria, era carente, com o embuste de oferecer pão e circo.
De forma institucional, quase todos os dias, o governo promovia lutas de gladiadores e, na entrada dos estádios, eram distribuídos pães gratuitamente. Com isso, as chances de revoltas diminuíam, já que a classe menos favorecida acabava se esquecendo dos problemas e das dificuldades da vida. Era a estratégia do imperador Otávio Augusto: divertidos e alimentados, não teriam porque reclamar.
Milênios se passaram, entretanto o conceito da política do pão e circo continua vivo, com uma nova roupagem: televisão, futebol, manipulação de informações. As dificuldades para a economia, o desemprego, a violência e outros problemas sociais, além da corrupção, continuam os mesmos e até agravados em alguns setores. Mesmo assim, a pauta da grande mídia mudou da água para o vinho. Agora, o Brasil é lindo, prende terroristas, tem segurança, gera empregos, a crise é internacional, as nossas instalações são perfeitas para as Olimpíadas e vamos ganhar a maioria das medalhas.
A política do pão e circo hoje é patrocinada por um governo golpista que não tem credibilidade, propostas e nem políticas sociais. Temer, como o Imperador Otávio Augusto da Roma antiga, oferece para o povo, com o apoio da grande mídia golpista, tendo à frente a Rede Globo, o pão e o circo. A finalidade é massificar nos meios de comunicação informações supérfluas que têm como única finalidade servir de pano de fundo para esconder o golpe do impeachment e a venda do nosso patrimônio a toque de caixa para as grandes empresas multinacionais. O pão é a informação distorcida e o circo os eventos desportivos e festivos.
O famigerado Jornal Nacional é o carro chefe, o Coliseu da Roma Antiga, o veiculador mor do pão e circo. No noticiário diário praticamente não se fala mais da crise, que foi inflacionada por ele há alguns meses. São dezenas de canais e centenas de reportagens ufanistas. A crise continua, as manifestações contra o golpe e a política reacionária do governo também, mas essa pauta não interessa.
Torcemos sim, para que os jogos olímpicos sejam um sucesso, afinal, eles foram conquistados pelo nosso povo e por um governo democraticamente eleito. A pergunta é por que dois pesos e duas medidas? A resposta é simples: avançamos em tudo: tecnologia, ciência e conhecimento, mas os governantes tiranos como Otávio Augusto continuam os mesmos.
Para concluir, em meio a tanta emoção olímpica, eu me pergunto onde foi parar a corrupção, o desemprego, a violência, a situação precária do Sistema Único de Saúde, os serviços públicos ineficientes, a débil economia… Onde estão? Será que os gladiadores do governo golpista de Temer resolveram ou o gato comeu?
*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Ceará e um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.
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