Cebrapaz debate golpes políticos e intervenções bélicas
Para analisar os golpes da atualidade, o avanço das forças de direita e extrema-direita e as intervenções militares das potências imperialistas no mundo, realizou-se um concorrido debate na última sexta-feira (29) no auditório Adão Preto da Assembleia Legislativa estadual do Rio Grande do Sul.
Publicado 01/08/2016 20:33
Durante mais de duas horas, transcorreu uma viva discussão sobre os temas mais candentes das conjunturas internacional e nacional. No público, lideranças importantes da esquerda gaúcha, como Raúl Pont, candidato a prefeito de Porto Alegre, em aliança com o PCdoB, Raúl Carrion, ex-deputado estadual e presidente da Fundação Maurício Grabois, a jurista Mara Loguércio, além de acadêmicos, lideranças de movimentos populares e ativistas democráticos e progressistas.
A atividade foi organizada pelo Cebrapaz, em parceria com a Fundação Maurício Grabois, o Comitê pela Democracia e Advogados pela Democracia. Com coordenação de Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais e coordenador do núcleo do Cebrapaz no Rio Grande do Sul, participaram da mesa Analúcia Danilevicz, professora de Relações Internacionais, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS, Álvaro Oxley, Doutor em Direito do Estado (Sociologia do Direito) e também professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o diretor nacional do Cebrapaz, jornalista José Reinaldo Carvalho, também especialista em Política e Relações Internacionais.
Reinaldo iniciou sua intervenção destacando que o marco histórico para compreender a ofensiva das forças de direita, os golpes e as intervenções imperialistas da atualidade é a queda do campo socialista, que considerou uma contrarrevolução. Assinalou que ao longo das últimas décadas surgiram regimes de direita nos países do Leste europeu, que pautaram suas ações pelo revanchismo anticomunista e facilitaram o ressurgimento de forças fascistas.
O jornalista referiu-se à emergência das forças de direita na atualidade na Áustria, França, Alemanha, Reino Unido, Grécia e nos Estados Unidos, com a candidatura de Donald Trump. E deteve-se no cenário latino-americano, onde a contraofensiva das forças imperialistas e oligárquicas resultou em tentativas de golpe na Bolívia, Equador e Venezuela e nos golpes em Honduras, no Paraguai e no Brasil.
Na análise sobre a emergência das forças de direita, o diretor do Cebrapaz recordou a derrocada do governo de Slobodan Milosevic na Sérvia (2000), e as chamadas revoluções coloridas na Geórgia (2003), Ucrânia (2004 e 2010/11) e Quirguistão (2005). E a instrumentalização da chamada primavera árabe pelas potências ocidentais. De grande relevo na realização dos golpes de direita é o papel da mídia, de ONGs, think tanks e agências do governo estadunidense. “Geralmente nesses golpes convergem as ações da CIA, da Usaid, da mídia e de organizações como a Open Society Foundation, do megamilionário George Soros, o National Endownment for democracy, a Freedom House, o International Republican Institute (do Partido Republicano dos Estados Unidos) e o Canvas – Centro para Conflitos e Estratégias não violentas”.
De acordo com o dirigente do Cebrapaz, a ascensão das forças de direita não pode ser analisada fora do contexto do exercício das políticas neoliberais e das intervenções bélicas das potências imperialistas ocidentais e de seu braço armado, a Otan, em países como a antiga Iugoslávia, o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria. Para ele, essas potências agridem a democracia, a soberania nacional, o direito internacional e os direitos dos povos, representando grave ameaça à paz mundial.
Analúcia Danilevicz inciou sua fala criticando os analistas das questões internacionais, que não partem da análise da sociedade, por falta de base teórica. Concordando com o ponto de vista defendido pelo jornalista José Reinaldo de que o marco histórico para analisar os desenvolvimentos atuais da situação mundial é o fim do campo socialista, acentuou que este representava Estados nacionais que eram frutos de revoluções sociais, sociedades que criaram valores, referências, e construíram um novo modelo.
A professora Danilevicz chegou mesmo a dizer que setores da esquerda, ao não pensarem nisso, perderam a sua própria matéria prima e por isso devem uma autocrítica. “A direita emerge porque a esquerda está ausente”, diz a acadêmica. Ainda sobre o fim do campo socialista, considera que este “abriu um vazio não para o novo, mas para algo que já estava esgotado, o capitalismo”.
Ao analisar a conjuntura internacional, Danilevicz considera a existência de um cenário caótico, em que se abre espaço para o surgimento de todo tipo de golpes e intervenções e em que o modelo da democracia liberal está em crise.
Referindo-se ao golpe no Brasil, a professora considerou que o país emergiu nos últimos anos e na sua interação com o exterior difundiu valores não liberais, os valores da solidariedade e da cooperação Sul-Sul. Lembrou que os Estados Unidos reativaram a Quarta Frota da sua Marinha de Guerra depois da descoberta das grandes jazidas do pré-sal no Brasil.
Por seu turno, o professor de Direito Álvaro Oxley denunciou a tradição antidemocrática das classes dominantes, o colonialismo cultural, o papel nefasto e golpista da mídia e de instituições jurídicas que se consideram acima da lei.