Dilma à revista Time: Tenho a convicção de que vou vencer
Em entrevista à revista estadunidense Time, a presidenta Dilma Roussef falou sobre o golpe de Estado em curso no Brasil, os preparativos para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e sobre sua luta para obter os votos necessários no Senado para estancar o processo golpista e voltar a ocupar a presidência, da qual foi afastada em um processo político baseado em falsidades.
Publicado 28/07/2016 14:20
Ela foi entrevistada em Brasília pelo jornalista Matt Sandy. Confira a entrevista:
Como está a luta contra o impedimento?
Eu estou sendo julgada por um não-crime. O que está acontecendo no Brasil não é um golpe militar, mas um golpe parlamentar. É um golpe de um processo que está afetando as instituições, erodindo a partir de dentro, contaminando tudo. Então eu acredito que esta luta requer uma arma. Nós vivemos numa democracia e respeitamos a democracia. A arma nesta luta é o debate, a explanação e o diálogo.
Você precisa de 27 votos no Senado para evitar o impedimento. Você conseguirá?
Eu tenho lutado por isso… e tenho a convicção de que posso vencer.
Qual é seu plano caso retorne ao poder?
É essencial que façamos uma reforma do sistema político… Nós precisamos de um plebiscito para que o presidente eleito, que tomará posse em janeiro de 2019, possa conduzir o país de uma forma melhor… ao mesmo tempo, nós temos um desafio maior: o Brasil precisa voltar a crescer. E precisa crescer novamente de uma forma que não vá contra os interesses de milhares de brasileiros que deixaram a pobreza e que entraram na classe média.
Você acredita que o impedimento foi sexista?
Na verdade foi misoginista. O fato de que uma mulher se tornou presidente da República dá vazão a pensamentos sobre as mulheres muito comuns, muito estereotipados. Consideram por um lado as mulheres histéricas. Se não são histéricas, são frias, calculistas e cruéis. Eu fui pintada como uma mulher fria, dura e cruel, por um lado. E em outros momentos fui pintada como uma pessoa histérica.
E você continuará a lutar?
Seguramente sim. Minha vida inteira foi uma experiência de aprendizado, aprendizado de que não há outro caminho para viver sem luta, em todas as circunstâncias. Eu aprendi a lutar desde cedo, eu combati e sofri a dor da tortura. Eu também acho que com a ajuda da medicina moderna, nós podemos lutar contra o câncer. E eu lutarei contra o impedimento de forma sistemática.
O que você acha sobre as preocupações com a segurança durante os Jogos Olímpicos?
Existe uma grande estrutura de segurança no Brasil dedicada aos Jogos Olímpicos. E essa estrutura para os jogos não foi construída ontem, ou anteontem. Foi montada em cima de vários testes. Um deles foi a Copa do Mundo de Futebol de 2014, e ficou provado que não houve o menor problema de segurança.
E sobre a ameaça do vírus Zica?
O Brasil está passando por uma época, em termos de temperatura, que é muito atípica. Isso significa que teremos muito menos mosquitos hospedeiros do vírus Zica. E também, eu gostaria de dizer, que fizemos uma enorme campanha pública… você pode estar tranquilo de que não haverá um risco à saúde pública a partir do mosquito hospedeiro do vírus Zica.
Foi um erro realizar os Jogos Olímpicos dois anos depois da Copa do Mundo?
Não vejo isso como um erro. Porque, de uma forma, estamos ganhando bastante na economia com isso. Quando você prepara o país para uma Copa do Mundo que envolve 12 sedes, você cria uma infraestrutura… todo o equipamento de segurança e toda a tecnologia envolvida na área de telecomunicações do evento para o mundo inteiro, o centro de mídia. Nós aprendemos com isso. E, vou te dizer, eu acho que foi muito mais fácil organizar os Jogos Olímpicos já tendo realizado pouco antes a Copa do Mundo.
Há alguns anos, antes das Olimpíadas serem marcadas para o Rio de Janeiro, muitas pessoas afirmavam que o Brasil tinha um papel muito mais proeminente no mundo. Agora o Brasil está falando para si próprio. Você acha que o Brasil pode e deve voltar a ter um papel importante no mundo?
Eu acho que o Brasil tem todas as condições de realizar um papel maior… todos os países do mundo atravessaram crises, bem antes de nós. Os Estados Unidos tiveram uma crise severa entre 2007 e 2010. A União Europeia correu o risco de perder sua moeda, também mergulhada em uma grave crise. A crise atingiu agora os mercados emergentes… Mas não foram os países emergentes que criaram a crise. Foi uma crise do sistema financeiro internacional, e como sabemos, foi a maior crise desde 1929.
Você tem responsabilidade pela crise econômica brasileira atual?
Nós tentamos desde 2009 ter uma política anticíclica que evitaria a crise da economia global atingir o Brasil. Nós tivemos sucesso em 2011, 2012, 2013 e 2014. Em 2015 a crise econômica foi acelerada, eu acredito, pela crise política desatada no país. A crise política colocou o país na recessão.
Qual é a importância da Operação Lava Jato para o futuro do Brasil?
O Brasil não tem o monopólio da corrupção. Em todos os países, inclusive os Estados Unidos, há uma luta sistemática contra a corrupção. Mas essa luta contra a corrupção não é feita somente a partir de uma investigação, a luta contra ela é feita pela melhoria do controle e da fiscalização sobre as instituições e pela melhoria da legislação.
Você comparecerá à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos?
Eu fui eleita com 54,5 milhões de votos… eles me convidaram para participar da abertura dos jogos a partir de uma posição secundária… eu não vou aceitar um papel que não corresponda ao meu status presidencial.
Você estará orgulhosa do Brasil quando os Jogos começarem?
Eu tenho e sempre terei orgulho do Brasil, porque eu acho que nós demonstraremos mais uma vez que somos capazes de vencer nas arenas, campos e pistas, assim como fora delas.