Felipe Bianchi: Adeus, Geral; mas voltaremos
Muitos, como este que vos escreve, deleitaram-se com a nostalgia pulsante da obra-prima de Ugo Giorgeti: Boleiros – Era uma vez o futebol… Na película, lançada em 1998, o cineasta narra de forma brilhante anedotas do mundo do futebol – craques que recorrem a pais de santo contra uma lesão aparentemente incurável, árbitros sem nenhum pudor ou mesmo ídolos glamourosos do passado caídos no esquecimento e na pobreza.
Por Felipe Bianchi*
Publicado 15/07/2016 14:02
Não será mais necessário rever o filme em questão, porém, para chorar as saudades do futebol. Só que não o do século passado. Agora são obras como Geraldinos e Adeus, Geral que vêm construindo não apenas um retrato do nosso futebol, mas fomentando o debate sobre a relação cada vez mais crítica entre o esporte mais popular do país e o torcedor.
Em Geraldinos, de Pedro Asbed e Renato Martins, constrói-se uma poderosa radiografia antropológica e social de um tipo banido do futebol: o cidadão economicamente vulnerável, mas espiritualmente pujante, que frequentava a extinta geral do velho Maracanã.
A narrativa da obra revela um grave cenário de exclusão social que atinge em cheio os apaixonados pelo ludopédio. E por mais que o cenário seja o Rio de Janeiro, é impossível, para quase qualquer torcedor brasileiro, não ligar os pontos e identificar semelhanças em sua própria realidade.
É disso, também, que trata o documentário Adeus, Geral, a ser exibido e debatido no dia 21 de julho, às 19 horas, na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Projeto de cinco alunos de Geografia, o filme tem ganhado projeção por ser mais uma gigantesca contribuição audiovisual à critica da elitização das arquibancadas no país.
Apesar de triste, pela realidade que é obrigado a retratar, o crescente movimento em torno do tema chama a atenção. O futebol está, sim, em disputa – brutalmente cooptado por uma lógica de mercado cega e, por vezes, burra, aponta o placar. Iniciativas do cinema, mas também de grupos e coletivos que se dispõem a dialogar e forjar massa crítica, porém, são fundamentais para virar o jogo.
Confira, abaixo, o chamado do Coletivo Futebol Mídia e Democracia para o debate com os realizadores do documentário.
Por questão de espaço, as inscrições são limitadas. Garanta já a sua participação pelo formulário disponível no bit.ly/adeusgeralemsp
Adeus, Geral (42 minutos, classificação livre)
Entendendo que o futebol é uma representação fiel de nossa realidade, surge o documentário “Adeus, Geral”, que teve seu início a partir de um trabalho escolar de Geografia sobre "muros sociais" e que, dessa maneira, busca explorar a elitização do futebol brasileiro, que exclui dos estádios as camadas mais pobres da população.
Produzido por 5 alunos do Ensino Médio, movidos pelo sentimento de expor as injustiças que esse muro social representa, deu voz a torcedores, jornalistas, técnicos e ex-jogadores para entender o que significa essa elitização.
Participam, com depoimentos, nomes como os jornalistas Juca Kfouri e Mauro Cezar Pereira, o técnico da Seleção Brasileira, Tite, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, o ex-jogador Alex e membros das principais torcidas organizadas de São Paulo.