Acordo nuclear com o Irã completa um ano: país está otimista

Sem terminar com todos os receios dos ocidentais e com um persistente bloqueio bancário estadunidense, o Irã faz hoje um balanço otimista do primeiro aniversário do acordo nuclear assinado com seis potências mundiais.

Reunião que selou o acordo entre o G5+Alemanha e o Irã sobre o programa nuclear do país do Oriente Médio

O Plano de Ação Conjunta Integral (PACI, nome oficial) é visto pelas autoridades de Teerã como uma oportunidade para a decolagem econômica, a abertura diplomática, a modernidade tecnológica e para elevar a confiança do país na arena internacional.

Semanas depois da assinatura do acordo em Viena, capital da Áustria, entre representantes do Irã e do Grupo 5+1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha), os setores econômicos, de investimento e comércio já previam cenários de esperança.

De acordo com porta-vozes do governo iraniano, apesar do PACI ter entrado em vigor seis meses depois de sua assinatura (16 de janeiro), ele criou uma "oportunidade para beneficiar o país com investimento externo e recuperar fundos [antes] congelados em bancos estrangeiros como parte das sanções internacionais".

A implementação do acordo implicou de modo instantâneo o fim de uma série de medidas punitivas aplicadas unilateralmente pelos Estados Unidos e em bloco pela União Europeia (UE) e pela ONU para pressionar Teerã a frear seu programa nuclear que, supostamente, o ocidente alegava ter fins militares.

O executivo de Teerã sempre negou essas acusações e definiu as sanções como práticas injustas e arbitrárias que buscavam fins políticos, e ao fazer o balanço, se parabeniza por ter edificado um cenário de maior solidez e impulso econômico e financeiro.

No entanto, prevalecem algumas sanções e, principalmente, a escassa vontade em círculos políticos estadunidenses para facilitar a execução de um acordo que, a priori, deveria reduzir as tensões em uma região tão conflituosa como o Oriente Médio e, especialmente, o Golfo Pérsico.

Ainda que no período se agravou o conflito iraniano-saudita no ponto da ruptura das relações diplomáticas, para a chefe de política exterior da União Europeia, Federica Mogherini, o acordo é "benéfico para toda a região e cria a oportunidade de melhorar a cooperação" entre todos.

Em relação ao petróleo, o Irã exporta agora mais de dois milhões de barris de cru diários, em comparação a um bilhão de barris vendidos durante a época das sanções, apontou o porta-voz do governo, Mohammad Bagher Nobakht, ao destacar que a renda pode ser facilmente usada para desenvolver o país.

As autoridades do estado persa enfatizam o fato de que no período pós-PACI viajaram à capital iraniana dezenas de presidentes, chefes de governo, líderes políticos regionais e internacionais e empresários dos mais diversos âmbitos para assinar acordos econômicos.

Desde o chamado Dia da Implementação (16 de janeiro) até agora, estima-se em mais de US$ 3,4 bilhões o valor dos convênios determinados diretamente no país por conceito de investimento estrangeiro.

Naquele dia, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) verificou que o Irã tinha honrado seus compromissos relativos ao tema nuclear e as sanções econômicas e financeiras aplicadas por essa causa ficaram sem efeito.

Mas a alegria para a república islâmica será muito maior quando os bancos estrangeiros tomarem passos mais efetivos em prol da cooperação bilateral com seus similares iranianos. Nesse ponto, a Europa tem tarefa pendente e os Estados Unidos, muitas mais.

Ainda que na UE há medidas pendentes a serem definidas, o maior obstáculo para o acordo vem de Washington, que pressionado pelo Congresso norte-americano continua intransigente sobre os vetos a determinadas transações.

Por outro lado, o ministro iraniano de Comunicação e Tecnologia da Informação (CTI), Mahmoud Vaezi, considerou hoje que a implementação do PACI "preparou a atmosfera adequada para obter acesso a tecnologia moderna no setor das comunicações".

Diferente de tempos anteriores, as necessidades iranianas no setor não se limitam a telefonia e internet, mas se pretende aproveitar a dinâmica dessa esfera para ajudar nas esferas de educação, agricultura, indústria, criar infraestruturas de desenvolvimento e outras, explicou.

Para o Irã, o compromisso com o PACI é essencial e nesse sentido enfatiza a necessidade de que Washington, o mais reacionário de seus seis interlocutores, avance com ações que demonstrem vontade política para eliminar travas ainda vigentes.

Os diplomatas que negociaram o entendimento de Viena há um ano alertam que há que permanecer vigilantes, justamente para evitar que o acordo seja reversível. O Irã, por enquanto, se parabeniza por ter mantido seu programa nuclear e conseguido seu objetivo medular: o fim das sanções.