Publicado 24/06/2016 14:57
Para o ciclo junino são consagrados três santos do mundo católico durante o mês de junho. São eles: Santo Antônio, São João e São Pedro, que alegram as festas juninas. O mais popular em Portugal e no Brasil é Santo Antônio. Santo português, nascido em Lisboa no ano de 1195, é o preferido pelas mulheres como Santo casamenteiro. É também o Santo que sempre dá um jeitinho nas coisas e causas perdidas. Salienta Pereira da Costa:
São João e São Pedro também são venerados no ciclo junino. São João é o primo de Jesus Cristo, nascido no dia 24 de junho, pregador da alta moral, áspero, intolerante e ascético. Segundo Câmara Cascudo
Assim temos o hábito de acender fogueiras durante o ciclo junino, hábito vindo da Europa, quando as populações do campo festejavam a proximidade das colheitas e faziam sacrifícios para afastar os demônios da esterilidade, pestes de cereais, estiagens. Nos cultos agrícolas também acendiam-se fogueiras que foram divulgados pelo domínio do folclore e da etnografia européia.
Essa devoção ao culto de São João vinda de Portugal se espalhou pelo Brasil inteiro. Muitas adivinhações também são feitas na véspera de São João.
São Pedro também tem o seu espaço no ciclo junino. Discípulo, Santo chaveiro, primeiro papa, é festejado no dia 29 de junho juntamente com São Paulo. Padroeiro dos pescadores o Santo é festejado com uma procissão marítima.
E nesses festejos, ao som dos fogos e da fumaça das fogueiras, não podem faltar as comidas típicas que tornam as festas mais saborosas. Milho cozido, milho assado, canjica, pamonha, bolo de milho, ah! Que cheiro bom. Quem nunca mexeu uma canjica com colher de pau não sabe o verdadeiro gosto que tem a festa de São João. E o pé-de-moleque, a cocada, pipoca, beiju, bem-casado, bolo de macaxeira, manuê de milho, fazem o sabor natural da festa junina.
Nos arraiais acontecem as quadrilhas, de origem européia, dançadas nos salões dos palácios por volta do século 18, nos bailes da corte. Aquadrilha acompanha a zabumba, o triângulo e o sanfoneiro que dá o ar de sua graça no xén én én do forró. Eitá!! Que tá bom demais! Há também no início da quadrilha, o casamento matuto que consiste numa representação jocosa, onde as pessoas utilizam um linguajar característico do povo da roça e com um ar de malícia fazem o público se divertir com o espetáculo teatral. É presente também a língua francesa na marcação dos passos da quadrilha. O xote,o baião, o xaxado, coco e a polca, fazem os ritmos dos festejos juninos. Contamos também com a presença dos bacamarteiros nos festejos juninos, que segundo Olímpio Bonald Neto:
Os bacamarteiros enfeitamas festas juninas exibindo os seus bacamartes que contém cargas com pólvora seca, emitindo um estrondo em homenagens aos Santos padroeiros ou cerimônias cívicas e políticas.
Existe também o acorda povo, que é uma procissão realizada na noite de São João, para acordar São João. Por isso quando alguém dorme muito, o dito popular acusa: "dormiu igual a São João".
Porém, as quadrilhas vêm se transformando. Clóvis Cavalcanti em seu artigo, São João "estilizado", revela sua preocupação:
Recentemente, as associações dos compositores cantadores e músicos de Caruaru, protestaram porque não estão tendo espaço para tocar na festa de São João, onde os forrós eletrônicos vem ganhando cada vez mais espaço. Nossas raízes folclóricas estão se moldando na cultura de massas. Antes, a diferença era que trazia e fazia o brilho das quadrilhas com a criatividade e originalidade dos integrantes que participavam da mesma. Hoje, o ciclo junino, mesmo perdendo esse "sabor específico" e ganhando o "cheiro da tecnologia" não deixará de ser evidenciado, mas não podemos descaracterizar o que é nosso. É uma pena que estejam transformado a simplicidade dos festejos juninos em um grande festival. Sou a favor do forró pé de serra no chão batido, da fogueira no quintal, do cheiro da canjica ainda no fogo, da fumaça que chega a arder nos olhos, do chapéu de palha, da saia de chita , das músicas de Luiz Gonzaga ao som da sanfona, da zabumba e do triângulo, das bandeirinhas que enfeitam os arraiais, do chinelo de couro e da chuva que ajuda a encher os salões para todo mundo dançar o forró. Essa lembrança do interior, que vem com o ciclo junino desperta um sentimento de "originalidade" nos nordestinos. Esse sentimento só é permitido porque é tempo de São João!
Referências
BONALD NETO, Olímpio. Bacamarteiros. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Inpso, 1976. (Folclore, 8).
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1954. 930 p.
CAVALCANTI, Clóvis. São João "estilizado". Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Inpso, 1999. (Folclore, 262).
CISNEIROS, Laurinha. Pratos típicos juninos. [Folheto, s.n.t.].
COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Folclore pernambucano. Recife: Arquivo Público Estadual, 1974.
SILVA, Leny de Amorim. Acorda povo São João chegou! Recife: Editora do Autor, Avellar Gráfica, 1993. 134 p.
SOUTO MAIOR, Mário. Ciclo junino. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Inpso, 1977. (Folclore, 34).