Ação midiática da PF, após encontro de ministro com Moro
Causou surpresa, nesta quinta-feira (23), entre parlamentares, políticos e dirigentes partidários do PT e demais legendas aliadas da presidente Dilma Rousseff, a coincidência de acontecimentos que precederam a prisão, no início da manhã, do ex-ministro Paulo Bernardo, que atuou no Planejamento e nas Comunicações nos governos Lula e Dilma, e a condução coercitiva do ex-ministro da Previdência Carlos Gabas para tomada de depoimentos.
Publicado 23/06/2016 16:35
Os atos não foram conduzidos pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), conforme foi anunciado inicialmente, mas pela Operação Custo Brasil, um dos desdobramentos.
Foram expedidos 65 mandados judiciais entre prisões, tomadas de depoimentos e buscas e apreensões de documentos no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco. A ação apura pagamento de propina para funcionários públicos e agentes políticos do Ministério do Planejamento entre 2010 e 2015, em esquema que envolvia contratos do Executivo com uma empresa de tecnologia, a Consist.
A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo afirmou que o Ministério do Planejamento se limitou a fazer um acordo de cooperação técnica com a referida empresa e que a questão nem sequer precisou passar pela aprovação do ministro, uma vez que o assunto foi totalmente tratado pela área de Recursos Humanos do ministério. A prisão de Bernardo também foi considerada ilegal pelos seus advogados, que argumentam não existir, no caso, o preenchimento de requisitos legais que a justifiquem.
Já o ex-ministro Carlos Gabas disse que nada tem a ver com a questão e pretende esclarecer tudo. De acordo com Gabas, durante a sua gestão na pasta, o Ministério da Previdência não teve qualquer ligação com a empresa citada na operação.
Conforme a denúncia em apuração, a Consist teria pago propinas após vencer uma licitação para prestar serviços de informática no âmbito de acordo entre o Ministério do Planejamento, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp) para gestão de margem consignável em folha de pagamento dos servidores públicos federais.
Alívio para peemedebistas
O problema da operação em si, para petistas e parlamentares anti-impeachment, é o fato de a ação ter sido realizada logo após várias denúncias envolvendo políticos do PMDB, do PSDB e do PSB nos últimos dias. E poucos dias depois de o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ter ido ao Paraná, para uma conversa com o juiz federal Sérgio Moro. Peemedebistas presentes no Congresso esta manhã, inclusive, chegaram a comentar que estavam se sentindo aliviados com a mudança do foco das denúncias dos caciques do PMDB outra vez para o PT.
Os principais portais de notícia publicaram imagens de policiais federais fortemente armados em frente ao prédio do diretório nacional da legenda, em São Paulo. O fato já divide o tempo de telejornais da Globonews com a lembrança dos 20 anos da morte de Paulo César Farias, o PC, tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello encontrado morto ao lado da namorada.
Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), o PT sempre defendeu que as ações da Lava Jato tenham continuidade e todos os casos sejam apurados, mas ele afirmou que os integrantes da legenda consideram estranho quando ações desse tipo são realizadas após a divulgação de fatos comprometedores envolvendo caciques tucanos e peemedebistas.
O secretário de Comunicação do PT, João Bravin, chamou de “fascista” a ação da PF na sede da legenda e questionou a diferença de tratamento em relação às buscas e apreensões decretadas no partido e ao que é dispensado às outras legendas. “Por que as autoridades não vão, da mesma forma, à sede de outras siglas?”, indagou.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que a prisão de Paulo Bernardo consiste em uma forma de constranger um ex-ministro do governo anterior. A ação, segundo ele, está sendo vista pelos parlamentares como uma maneira encontrada pelo governo interino de fazer nova "espetacularização" nas ações da Polícia Federal para tirar o foco das denúncias contra peemedebistas.
“Enganam-se os que acham que o episódio vai enfraquecer os trabalhos da comissão do impeachment, pois cada vez mais tem sido comprovada a ausência de crime por parte da presidenta Dilma Rousseff. E não serão esses tipos de ataque que vão constranger e atrapalhar a atuação dos petistas na defesa da presidenta”, acrescentou o senador.
A turbulência provocada pelas denúncias e informações reveladas na última semana teve início por meio de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, de conversas mantidas por ele com os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-MA). E culminou com denúncias citando o próprio presidente em exercício da República, Michel Temer, e o presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Denúncias contra o PSB
Como se não bastasse, nos últimos dias foi anunciado um esquema de lavagem de dinheiro que está sendo apurado, cujas primeiras informações envolvem a campanha política do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, morto num acidente aéreo em 2014, quando concorria à presidência da República (o caso está sendo apurado em separado e não faz parte das investigações da Lava Jato – consiste na Operação Turbulência, também da PF).
As informações podem vir a comprometer, ainda, a vice de Campos na época, a ex-senadora Marina Silva, hoje da Rede, que assumiu a disputa em 2014. Um dos envolvidos no caso, o empresário Paulo Cesar de Barros Morato, que estava sendo procurado para que fosse efetuada sua prisão, apareceu morto na noite de ontem em Olinda (PE), em situações estranhas. A polícia não esclareceu até agora se ele foi vítima de assassinato ou se cometeu suicídio – Morato é suspeito de ter coordenado ação que resultou na lavagem de dinheiro em montante da ordem de R$ 18 milhões.
Também ontem os holofotes da política voltaram-se outra vez para o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que passou a ser réu em mais uma ação penal.
A Polícia Federal deu informações sobre a Operação Custo Brasil no final da manhã, na sede da superintendência em São Paulo. Mas deixou os petistas com os pés atrás pelo fato de as ações terem sido realizadas tão pouco tempo depois de repercussões tidas como negativas para aliados do governo interino de Michel Temer.
Em pouco mais de 30 dias de governo, três ministros já tiveram de deixar o cargo e pelo menos cinco aliados da gestão Temer foram alvo de manifestações públicas por meio de gritos, xingamentos e acusações de “ladrões” e “golpistas”: o ministro José Serra (PSDB-SP), o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), o deputado Beto Mansur (PR-SP), o hoje ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e, mais recentemente, o senador José Aníbal (PSDB-SP).