"Venda de ativos é ruim para Petrobras e pior ainda para sociedade"

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, declarou nesta quinta (16) que já recebeu ofertas de compra da BR Distribuidora, braço da petroleira na distribuição de combustíveis. Questionado se a ideia é vender uma participação ou o controle da empresa, fugiu da resposta. Para o diretor de Administração e Finanças da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Aldemir Caetano, abrir mão de um ativo lucrativo e estratégico como este é ruim para a Petrobras e pior ainda para a sociedade.

BR Distribuidora

Em entrevista à Globonews, Parente mostrou a que veio. Escalado por um governo provisório para fazer estragos duradouros no patrimônio público, ele disse que a Petrobras deve, sim, acelerar seu processo de venda de ativos. A meta da gestão é arrecadar US$ 14 bi nessas operações em 2016.

Segundo ele, se não houver o desinvestimento, a companhia não conseguirá reduzir sua dívida, avaliada em cerca de US$ 130 bilhões, nem será capaz de suportar o desenvolvimento de novas descobertas de petróleo. Parente, contudo, não deu detalhes sobre o modelo de venda da BR Distribuidora ou sobre a avaliação das propostas. Afirmou apenas que é necessário analisar se elas “estão valorizando esse ativo”.

Os petroleiros têm se colocado de forma incisiva contra a venda de ativos, desde a gestão da presidenta Dilma Rousseff. Para a FUP, a privatização da BR e da Liquigás – também anunciada por Parente – acelera o desmonte da Petrobrás.

De acordo com Caetano, a venda de ativos já preocupava os petroleiros desde o ano passado, mas, com a chegada do governo interino de Michel Temer (PMDB-SP), as perspectivas pioraram muito.

“Agora, com o golpe de Estado e tendo um presidente ilegítimo, que coloca na direção da Petrobras um privatista com histórico de desserviços prestados à companhia, ficamos ainda mais preocupados. Porque o caráter do atual presidente [Parente] é entreguista”, criticou.

Logo após a nomeação de Parente, a FUP emitiu nota na qual afirmava que o novo presidente da estatal era “um ex-ministro de FHC que chancelou processos de privatização e tem em seu currículo acusações de irregularidades e improbidade na administração pública”.

Segundo a FUP, Parente – conhecido como o “ministro do apagão” na gestão tucana e que no passado integrou o conselho de administração da Petrobras – fechou contratos de parceria com o setor privado para construção de usinas termoelétricas, entre 2000 e 2003, que teriam gerado "prejuízos de mais de US$ 1 bilhão à Petrobras, que se viu obrigada a assumir integralmente as termoelétricas para evitar perdas maiores”.

Lucros

De acordo com Caetano, não tem sentido desfazer-se de um ativo lucrativo, como a BR Distribuidora. De acordo com o demonstrativo de desempenho econômico-financeiro da empresa, em 2014, a distribuidora obteve lucro líquido de R$1.123 milhão. Em 2013, os ganhos bateram recordes históricos, chegando a R$ 2.132 bilhões.

Já no ano passado, apesar de ter tido lucro bruto de R$7.262 milhões, o lucro líquido foi profundamente afetado pela situação financeira de empresas do setor elétrico que atuam basicamente na Região Norte. Segundo o balanço da distribuidora, o atraso no pagamento, por parte dessas empresas, dos combustíveis consumidos da Petrobras Distribuidora em um montante de R$ 2.863 milhões, foi um dos fatores que levaram a um resultado negativo, apesar do bom desempenho operacional da companhia.

Custos operacionais baixos

Além do potencial lucrativo, aponta Caetano, a BR Distribuidora tem relevância estratégica para a Petrobras, uma vez que tê-la como subsidiária significa custos mais baixos e a garantia da distribuição para todo o Brasil.

“É importante, enquanto empresa, que a petroleira tenha uma subsidiária que é distribuidora. Porque aí o produto dela tem a garantia de que chegará de Norte a Sul do país. E, quando você é dono da empresa, os custos operacionais são bem mais baixos. Se vende a BR, vai ter que depender de outras distribuidoras e não vai ter os custos mais baratos, como é hoje, tendo sua própria empresa”, avalia.

Função social

O petroleiro analisa ainda que, caso a venda se concretize, a distribuidora perderá seu caráter social, pois, privatizada, deverá ser orientada exclusivamente para buscar o lucro.

“A sociedade perde. Porque a BR é lucrativa nos grandes mercados. Mas a Petrobras abastece também os rincões do Amazonas, do Acre, de Rondônia – locais de difícil acesso geográfico e logístico. Essas operações específicas não dão o resultado econômico que uma grande empresa espera, mas garante derivados de petróleo para o abastecimento da população regional. Uma empresa privada não vai ter esse compromisso de abastecer a sociedade como um todo. Seu compromisso é com o lucro”, lamenta.

Ele prevê que talvez até se garantisse o abastecimento nas capitais, “pelo volume de consumo, mas, no interior, não teriam o interesse de abastecer”, prevê. “Perderia toda a função social”, completa.

Segundo texto publicado no site da FUP, a distribuidora é avaliada em 10 bilhões de dólares e tem cerca de 7.500 postos de serviços, “constituindo a maior e única rede de postos de combustíveis que atende todo o território nacional. Além disso, a subsidiária conta com mais de 10 mil grandes clientes entre indústrias, termoelétricas, companhias de aviação e frota de veículos leves e pesados”.

Falta diálogo

Caetano aponta diferenças entre a gestão anterior e a atual. Segundo ele, o ex-presidente da estatal, Aldemir Bendine, cogitou desfazer-se de ativos como uma das formas de resolver a dívida da Petrobras. Mas esteve aberto ao diálogo e chegou a acatar várias propostas dos petroleiros, como o alongamento do perfil da dívida, a possibilidade de empréstimos junto ao Banco de Desenvolvimento Chinês e a busca de financiamento via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“Várias coisas eles acataram. O atual presidente não tem nenhum tipo de diálogo com o movimento sindical. E tem um perfil privatista. Agora querem vender pura e simplesmente. Então a situação piora. O que já era grave, ficou gravíssimo”, encerra.

Diante desta situação, o governo deve preparar-se para enfrentar resistência. "Se Temer e Pedro Parente acham que ganharão a batalha, entregando ao mercado uma empresa fundamental para a economia brasileira como é a Petrobras, provam que desconhecem a história de luta dos petroleiros. (…) A categoria não vai permitir nem o desmonte da empresa, nem a subtração de direitos conquistados com tanta luta", diz texto no site da Federação Única dos Petroleiros.