Publicado 12/06/2016 12:57
Geddel afirmou ao jornal O Globo que “o governo não precisa de uma estatal para “autopromoção”, sendo suficiente ter uma estrutura para os registros históricos, por exemplo.
Essas declarações absurdas, somadas ao ato oficial de “extinção” da verba publicitária da mídia alternativa e blogueiros, levam à conclusão de que o silêncio no jornalismo está chegando a galope, por decreto.
Ainda bem que, por enquanto, temos as redes sociais.
Elas noticiam uma multidão de manifestantes esquentando a temperatura em ruas de todo o país. Saíram nesta sexta-feira (10) e estão saindo cada vez mais, em massa, movidos por ideais e não pelo bolso, garanto.
A maioria dos cidadãos que quer governo democrático “já repactuou” (deixou diferenças de lado) e deu um exemplo do que poderá ser a “repactuação” entre o povo e governo, defendida pela presidenta afastada, Dilma Rousseff, em entrevista transmitida pela EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) na noite anterior.
O povo nas ruas une-se em torno de três bandeiras: “Fora Temer”, “Não ao golpe” e “Nenhum direito a menos”.
Dilma, “a mulher que implodiu a república das bananas”* saiu-se muito bem na conversa espontânea e consistente com o jornalista Luís Nassif, transmitida após uma proibição prévia. O adiamento na exibição mostra que a autocensura e a elevada pressão externa já estão sacramentadas nas redações.
As redações progressistas estão sendo atacadas como subversivas, autoras da “narrativa que vai
derrubar o Brasil”. O pior (O que pode ser pior do que retroceder 30 anos nos direitos constitucionais?), “lamenta” um colunista da revista Época, é que até o The New York Times (além de outros grandes veículos da imprensa internacional) está comprando a “mentira” do golpe.
“Façam seu trabalho direito, correspondentes internacionais”, alerta esse colunista ensandecido, que chama de “tradicional” a imprensa em que está inserido. Afirma categórico, no referido artigo contra a notícia do golpe na mídia internacional, que ser tradicional não é pejorativo, como os “modernos” apregoam (modernos, na sua concepção, são intelectuais decadentes que recebem dinheiro para dar opiniões favoráveis ao governo Dilma Rousseff).
Aqui eu poderia dizer (já que existe possibilidade de alguém da “mídia tradicional” não entender o que está acontecendo) que colunistas como esses não sabem o tamanho do mal que fazem. Mas desculpá-los, com essa justificativa assemelhada ao perdão cristão, pode me levar a ser confundida com os “cristãos” que estão defendendo o Dia Nacional contra a Cristofobia.
A proposta, pré-aprovada, é do vereador Eduardo Tuma (PMDB), da capital paulista. Tuma defendeu que “evangélicos não sejam impedidos de discutir política durante os eventos religiosos”, já que orientações políticas feitas por outras religiões não sofrem críticas de nenhuma natureza. Nas suas próprias palavras:
“Inventaram, porque não tem amparo legal, (o termo) “abuso do poder religioso”. Ou seja, o sujeito pode ir ao templo de qualquer religião e pode declarar ali sua orientação política. Agora, se o sujeito for numa igreja, vê tolido (!!!!) seu direito de expressão só porque é igreja. A igreja, hoje, é perseguida. “Abuso do poder religioso”, isso não tem previsão legal”, argumenta o vereador.
Cá entre nós: sou burra ou o vereador trocou “tolher” por “toler”? Ou foi o jornalista que escutou e escreveu errado?
“Toler” talvez seja um neologismo para se tornar “tolo”, ou “néscio”, como gosto mais. A palavra “néscio” agrupa todas as definições possíveis para ignorante e aparece profusamente em citações religiosas. Uma delas, budista, transcrevo abaixo. Traz bom tema de reflexão diante do que se vive no Brasil:
“O néscio pode associar-se a um sábio toda a sua vida, mas percebe tão pouco da verdade como a colher do gosto da sopa. O homem inteligente pode associar-se a um sábio por um minuto, e perceber tanto da verdade quanto o paladar do sabor da sopa.”
*A definição, “mulher que implodiu a República das Bananas”, é de uma prima minha, que mora na Europa há 40 anos, gostei; se a Dilma não oferecesse resistência ao golpe, recusando-se a renunciar, talvez ainda estivéssemos assistindo a um espetáculo de fachada no governo e ela já estaria longe, talvez se preparando para campanha de deputada, prefeita… Mas Dilma é guerreira e idealista, provou.