Publicado 09/06/2016 11:37 | Editado 04/03/2020 16:24

No atual quadro político do País, são muitas as ameaças ao estado democrático de direito. Ouso afirmar que preceitos que regem esta conquista da nossa redemocratização recente estão sendo feridos. Isso é grave. E parece que, para boa parte da população brasileira, tudo está bem, já que, após o golpe parlamentar, foram resolvidos todos os problemas que levaram multidões às ruas e pessoas a amassarem milhares de panelas em bairros nobres das grandes cidades.
Algumas informações para o entendimento do processo, em curso, de consolidação do golpe contra a presidente eleita vêm surgindo com a revelação de delações e de gravações de conversas entre políticos envolvidos em escândalos. Essas informações poderiam ter mudado o curso do golpe, caso tivessem sido reveladas antes do dia 17 de abril passado.
Quantos ministros ainda terão que cair para que “as ruas” voltem a bradar pelo combate à corrupção e pelo respeito à democracia? Quantos ministérios importantes ainda terão que serem extintos e, com eles, políticas públicas que representam conquistas sociais históricas, para que se tenha a certeza das reais intenções deste governo interino? Por quanto tempo prevalecerá a impunidade de políticos citados na Lava Jato e nos escândalos ora investigados pela justiça? Por quanto tempo a imprensa que apoiou o golpe alimentará esta farsa?
Ressalte-se que muitos dos envolvidos em escândalos ainda ocupam cargos no executivo e no legislativo e estarão na linha de frente da consolidação das próximas etapas do golpe parlamentar. Isso não é uma suposição, é um fato derivado dos conteúdos das gravações de conversas de próceres da República tramando interferências no Ministério Público Federal e no Supremo Tribunal Federal para aliviar as investigações em curso.
Enquanto isso, a patética sessão do dia 17 de abril, da Câmara dos Deputados, que aprovou o golpe, foi presidida pelo excelentíssimo senhor deputado federal Eduardo Cunha. Somente depois, ele foi impedido de exercer as funções de deputado federal e de presidente da Câmara pelo STF. É mole?
*Jesualdo Farias é Professor titular da UFC
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