Jesualdo Farias: Os intocáveis

Por *Jesualdo Farias

Bandeira do Brasil

No atual quadro político do País, são muitas as ameaças ao estado democrático de direito. Ouso afirmar que preceitos que regem esta conquista da nossa redemocratização recente estão sendo feridos. Isso é grave. E parece que, para boa parte da população brasileira, tudo está bem, já que, após o golpe parlamentar, foram resolvidos todos os problemas que levaram multidões às ruas e pessoas a amassarem milhares de panelas em bairros nobres das grandes cidades.

Algumas informações para o entendimento do processo, em curso, de consolidação do golpe contra a presidente eleita vêm surgindo com a revelação de delações e de gravações de conversas entre políticos envolvidos em escândalos. Essas informações poderiam ter mudado o curso do golpe, caso tivessem sido reveladas antes do dia 17 de abril passado.

Quantos ministros ainda terão que cair para que “as ruas” voltem a bradar pelo combate à corrupção e pelo respeito à democracia? Quantos ministérios importantes ainda terão que serem extintos e, com eles, políticas públicas que representam conquistas sociais históricas, para que se tenha a certeza das reais intenções deste governo interino? Por quanto tempo prevalecerá a impunidade de políticos citados na Lava Jato e nos escândalos ora investigados pela justiça? Por quanto tempo a imprensa que apoiou o golpe alimentará esta farsa?

Ressalte-se que muitos dos envolvidos em escândalos ainda ocupam cargos no executivo e no legislativo e estarão na linha de frente da consolidação das próximas etapas do golpe parlamentar. Isso não é uma suposição, é um fato derivado dos conteúdos das gravações de conversas de próceres da República tramando interferências no Ministério Público Federal e no Supremo Tribunal Federal para aliviar as investigações em curso.

Enquanto isso, a patética sessão do dia 17 de abril, da Câmara dos Deputados, que aprovou o golpe, foi presidida pelo excelentíssimo senhor deputado federal Eduardo Cunha. Somente depois, ele foi impedido de exercer as funções de deputado federal e de presidente da Câmara pelo STF. É mole?

*Jesualdo Farias é Professor titular da UFC

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