Espanha: Em busca da alternativa à esquerda
No início da campanha eleitoral que começou nesta quinta-feira (9) na Espanha, a coligação "Unidos Podemos" apela ao reforço da votação para quebrar o bloqueio a uma alternativa à esquerda.
Publicado 09/06/2016 19:54
Com a derrota da direita e o fim do "bipartidarismo" nas eleições de 29 de dezembro, alterou-se radicalmente a composição do Congresso dos Deputados.
Num parlamento com 350 assentos, o Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ficaram reduzidos a posições minoritárias (123 e 90 deputados respectivamente), o que inviabilizou a tradicional alternância no poder entre estes dois partidos.
À esquerda, o Podemos e seus aliados afirmaram-se como a terceira força eleitoral (69 deputados). À direita emergiu o partido Ciudadanos (40 deputados). A Unidade Popular/Esquerda Unida, devido a um sistema eleitoral perverso, com quase um milhão de votos ficou com dois deputados.
Face à impossibilidade aritmética de formação de um governo à direita, e ao preço político demasiado elevado a pagar pelo PSOE em se aliar com o PP, aquele partido ensaiou um simulacro de negociações com o Podemos, a Esquerda Unida e outras forças nacionalistas e independentistas, que garantiriam o necessário apoio à formação de um governo sem o PP, amplamente sufragado pelo eleitorado.
Porém, depressa se tornou claro que o líder do PSOE, Pedro Sánchez, estava mais interessado em procurar um entendimento à sua direita, do que em levar por diante a formação de um governo de ruptura com a política que vinha sendo seguida.
Estes receios confirmaram-se quando, em fevereiro, Sanchez anunciou um acordo com o Ciudadanos, quiçá pensando que o Podemos e demais partidos da esquerda seriam forçados a viabilizar a formação do executivo liderado pelo PSOE.
Mas ao esticar a corda, esta rompeu-se. Podemos e Esquerda Unida repudiaram o "casamento" do PSOE com o Ciudadanos e votaram contra a investidura de Sanchez.
Todavia, nem depois do naufrágio o líder do PSOE mostrou vontade de navegar noutras águas. Claramente, as manobras do partido apenas serviram para ganhar tempo e tornar inevitável a convocação de novas eleições.
Sem maiorias absolutas
A pouco mais de duas semanas do novo escrutínio, marcado para o próximo dia 26, o quadro político não apresenta alterações significativas na correlação de forças.
De acordo com as sondagens, o eleitorado continua a dar a maioria dos votos aos partidos à esquerda do PP.
É certo que a formação da coligação "Unidos Podemos", que junta o partido de Pablo Iglesias à Esquerda Unida de Alberto Garzón, mantendo no seu seio várias formações regionais, veio consolidar as forças que defendem uma solução de ruptura.
Mas mesmo que a "Unidos Podemos" se torne a segunda força, a seguir ao PP e à frente do PSOE, como concluem algumas pesquisas, a formação de um governo sem o PP nunca poderá dispensar a participação do PSOE.
Ora, embora afirme excluir qualquer apoio ao PP, nada garante que após as eleições o PSOE não avance para um governo de "grande coligação", apresentando-a, após dois sufrágios, como a única solução de governabilidade.
Aliás, só essa intenção pode explicar o efetivo bloqueio a uma mudança política. Por outras palavras, se o PSOE desejava realmente um governo de alternativa ao PP por que razão desperdiçou a oportunidade para o concretizar, optando, em vez disso, por se aliar à direita com o Ciudadanos?
Esta estratégia oculta, no entanto, está longe de ser consensual nas fileiras do PSOE.
Na semana passada, o antigo presidente do partido, Felipe González, manifestou-se contra a possibilidade de uma "grande coligação". Em primeiro lugar, disse, "porque já não é grande, mas pequena". Além disso, "creio que já foi provada na Áustria e já foi provada na Grécia", acrescentou, aludindo à derrocada dos sociais-democratas e dos conservadores após governarem em coligação naqueles dois países.
Fonte: Avante!