Lula continua afiado: "Das panelas dos coxinhas saiu o golpista Temer"
Na presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de centenas de representantes de sindicatos, movimentos sociais e populares, um ato em defesa das empresas públicas realizado na noite desta segunda-feira (6) na Fundição Progresso, na Lapa, região central do Rio de Janeiro, reafirmou a disposição de resistir ao prosseguimento do governo interino de Michel Temer.
Publicado 07/06/2016 13:40
Com palavras de ordem como "ocupar e resistir, até o Temer cair", o ato de lançamento da campanha "Se é Público é Para Todos" alertou para a necessidade de impedir os retrocessos que a equipe em exercício no poder central já começa a implementar em empresas e políticas públicas e também nas conquistas sociais obtidas nos últimos 13 anos. O ato fez também um chamamento para o "dia nacional de lutas contra o golpe", programado para a próxima sexta-feira (10).
Lula convocou todos à luta política e afirmou que tanto ele quanto a presidenta afastada, Dilma Rousseff, intensificarão suas agendas pelo Brasil nos próximos dias: "Que eles não pensem que vão destruir aquilo que nós construímos. O Temer acaba de dar um golpe não apenas na Dilma, mas na decisão tomada pelo Senado, que apenas o colocou como presidente interino. Ele não tinha o direito de fazer o que fez. Cortou até o almoço da Dilma. Vamos comer marmitex, se for o caso, mas eles não vão impedir que a gente ande por esse país fazendo as denúncias que temos que fazer".
O ex-presidente disse que "o povo não pode baixar a cabeça" nem permitir que o Brasil dê um passo atrás em seu amadurecimento político. "Até a gente chegar ao governo, foi muito tempo. Muita gente morreu antes de nós, muita gente foi torturada antes de nós", disse. Agora, segundo Lula, chegou a vez de os setores populares e democráticos ocuparem as ruas: "Haverá sempre nesse país mais gente de cabeça erguida do que coxinha. Os coxinhas agora estão com vergonha porque eles foram para a rua bater panela, mas o que caiu da panela não foi um risoto, foi o Temer. Eles sabem que o ministério que está montado é o ministério do Eduardo Cunha", disse.
Em um discurso no qual listou várias políticas bem-sucedidas – como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Pronatec, Fies e Luz Para Todos, entre outros – Lula também fez uma autocrítica. "Conseguimos provar que esse país pode ser diferente, mas sei que não fizemos tudo, sei que estamos em dívida com a sociedade brasileira. A Dilma cometeu equívocos, e nós queremos que ela volte exatamente para corrigir os erros que nós cometemos e para nós fazermos as coisas bem-feitas neste país.".
Aclamado pela plateia como futuro candidato à Presidência, Lula afirmou que "é muito cedo para discutir 2018" e disse que "tem muita gente boa e jovem" que pode ser candidato. Em um dado momento, no entanto, pareceu admitir a possibilidade: "Estão me acusando de tudo quanto é nome, divulgado meus telefonemas e as bobagens que eu falo, como se eles não falassem as mesmas bobagens. É medo de eu voltar", disse, para delírio do público.
Coisa pública
No ato organizado pelo Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, Lula defendeu a participação do Estado na condução de políticas de inclusão social: "Somente o Estado é capaz de levar na casa do pobre aquilo que o rico nunca levou nem nunca vai levar. Somente o Estado democrático pode fazer justiça nesse país, um Estado que ouve e conversa com a população e é capaz de compartilhar as decisões com o povo", disse. Segundo o ex-presidente, ainda há muito terreno para se conquistar: "Fizemos a maior revolução social do mundo sem dar um único tiro, sem matar uma única pessoa, apenas estendendo ao pobre desse país o direito a ter uma migalha daquilo que é o resultado do que ele produziu".
Lula disse que os governos petistas apostaram na criação de um "serviço público de qualidade para todos os 204 milhões de brasileiros", e citou como exemplo de uma política de inclusão levada a cabo pelas instituições financeiras o crédito consignado: "Isso permitiu, em pouco menos de cinco anos, colocar R$ 200 milhões na mão do povo pobre", disse, antes de apontar outras mudanças: "O Banco do Brasil não sabia atender o produtor rural, e nós educamos o BB para atender o produtor com o pé no chão, aquele que anda de sandália, com a unha preta cheia de terra. Saímos de R$ 2 bilhões de financiamento ao setor para R$ 30 bilhões no ano passado. O BNDES só tinha R$ 30 bilhões para financiar o desenvolvimento desse país, e nós chegamos a mais de R$ 200 bilhões em financiamento. A Caixa financiou o Minha Casa Minha Vida".
No centro da crise política que culminou com o afastamento de Dilma, a Petrobras também foi citada: "Quando eu cheguei ao governo, a Petrobras era uma empresa desacreditada, não investia em pesquisa, nós só tínhamos petróleo para mais 30 anos. O maior orgulho da minha vida como presidente da República, como cidadão brasileiro, foi a descoberta do pré-sal. Decidimos que o pré-sal seria o passaporte para o futuro desse país, por isso criamos o sistema de partilha, falamos que o petróleo é do povo brasileiro e será usado para garantir o futuro do país, investir na educação para tirar um atraso de cinco séculos, investir em ciência e tecnologia. Eu me orgulho de ter sido o presidente que mais investiu na recuperação da indústria naval".
Segundo Lula, o sucesso da empresa incomodou os setores da sociedade que preferem manter o Brasil submisso ao interesse das grandes potências econômicas. "A elite nunca aceitou a Petrobras, desde o tempo de Monteiro Lobato. Assim que nós descobrimos o pré-sal, os americanos criaram a 4ª Frota para vigiar o Oceano Atlântico. É preciso que a gente tenha claro que os interesses contra nós são muitos, porque nós temos 12% da água doce, a maior floresta do planeta terra. Tudo isso incomoda", afirmou.
Ao voltar ao poder após o golpe, a direita brasileira, disse Lula, tentará voltar a aplicar o receituário que governou o Brasil até o governo de Fernando Henrique Cardoso. "A elite brasileira, incompetente para governar esse país, achava que tudo iria se resolver se vendessem as empresas e desobrigassem os governantes de governar. Venderam nossas empresas, criaram agências reguladoras. Eu queria provar que o país pode dar certo, acabar com a história de o pobre é o problema. Para isso era necessário ter instituições fortes."
Participam do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas as centrais sindicais CUT, CTB, UGT, CSP-Conlutas, Intersindical e Nova Central, além da Fenae (federação dos empregados da Caixa), da FUP e Contraf (confederação dos bancários da CUT).