Publicado 05/06/2016 09:17 | Editado 04/03/2020 16:24
Há um provérbio português que diz “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”. Inicio com ele este artigo, alertando para a necessidade do meu time do coração ter muita cautela com o caso do jogador Wescley, acusado pela namorada, que está grávida, de violência sexual, psicológica e física e, agora, investigado por estupro, tortura e agressão.
Para ser coerente com o que penso e escrevi em artigo anterior, intitulado Estupro é Estupro e ponto final, no qual abordei o caso do estupro coletivo no Rio acontecido há poucos dias, digo que o Ceará Sporting Club não deve, em hipótese nenhuma, sequer cogitar a contratação do referido jogador enquanto perdurarem dúvidas com relação à denuncia apresentada na Delegacia Especializada da Mulher.
Como um Clube de tamanha tradição no cenário futebolístico cearense e nacional e com uma torcida das maiores do Brasil, que tem como primeira frase do seu hino “teu passado é todo coberto de glórias”, pode correr o risco de ter em suas hostes um jogador que, não nego, de bom nível, mas com acusações gravíssimas que pairam sobre sua cabeça?
Uma antenada e responsável diretoria tem o dever de se antecipar aos fatos; tem também que sentir o coração da nossa grande nação alvinegra, não só de nós, homens, que somos a maioria, mas, nesse caso em particular, principalmente, das nossas queridas torcedoras que, apesar de amarem e desejarem reforçar nosso time, sentem que o momento é de formar fileiras no combate à violência contra a mulher, onde ela existir.
Quando as noticias da acusação e da possível contração do jogador vazaram pela imprensa, senti na minha própria pele o sentimento das torcedoras ardorosas do Vozão que tenho em casa: minhas três filhas. Elas me questionaram de imediato: "Como é, paizinho? O nosso time vai dar essa mancada? Sabemos que o Wescley é um bom jogador e o nosso desejo é subir para a primeira divisão mas acima disso vem a luta de mulheres e homens em prol da cultura da não violência contra as mulheres".
Não estou fazendo um pré-julgamento da acusação, se verdadeira ou falsa, mas, como escrevi em artigo anterior, as mulheres vítimas de violência sexual devem ser acolhidas e não questionadas. Cabe à polícia e à justiça realizarem o seu trabalho para definir as responsabilidades. O nosso Clube que adote o provérbio: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Sei que posso até ser incompreendido por alguns torcedores, não sou o dono da verdade tampouco a palmatória do mundo, mas não posso me omitir nesse momento. Por isso, peço a nossa valorosa diretoria que, em nome do bom senso e de tudo que escrevi, reflita bem na repercussão da sua decisão, na nossa torcida, na dos outros clubes e, ainda, a nível nacional.
O atleta pode até ser orientado na sua defesa, pode até ficar mantendo a forma física no clube, mas, enquanto perdurarem dúvidas do seu comportamento dentro de "quatro paredes", o nosso glorioso manto sagrado não deve ser maculado.
Aqui termino lembrando a letra do nosso hino, de José Patápio da Costa Jatahy:
Teu passado é todo coberto de glórias / Dia a dia tu conquistas mais vitórias /
Tua bandeira alvinegra desfraldada / Teu time em campo tem vitória assegurada.
Campeão da popularidade / Tua torcida hoje é toda cidade /
É um grande povo a te estimular / É o Vovô Ceará vai ganhar.
És o time das grandes campanhas / Sempre aqui ou lá fora tu ganhas /
Com teus craques em campo a brilhar /
Ceará tua glória é lutar.
*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará, alvinegro de quatro costados e também sócio torcedor do Vozão.
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