No país das Genis, cultura do estupro dilacera mulheres
Sob o fruto da ideologia patriarcal, as mulheres padecem no Brasil. Seja em uma corrida de táxi na madrugada, por andar sozinha em uma rua deserta ou pelo tamanho do seu vestido, elas ainda são vítimas de uma cultura de objetificação, que atravessou séculos e ainda exerce os seus valores no país.
Por Laís Gouveia
Publicado 30/05/2016 15:23
Desde os senhores de engenho que estupravam suas escravas, com o argumento de que eram um bem adquirido, à jovem adolescente que foi violentada no Rio de Janeiro por 33 homens “pois mereceu, quem mandou ir ao baile funk”, o país reproduz a violência de gênero, que silencia e dilaceram milhares, todos os dias.
Para se ter ideia das dificuldades encontradas pelas mulheres no Brasil, o debate no meio jurídico da não tão distante década de 70, era se o marido poderia ser sujeito ativo por cometer estupro contra a sua esposa, uma vez que era dever dos conjugues manter relações sexuais.
Apenas em 2009, com a Lei n° 12.015, o estupro deixou de ser a ação privada contra os costumes e passou a ser um crime contra a dignidade e liberdade sexual.
Os anos se passaram, as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, saíram às ruas reivindicando direitos, conquistaram leis de proteção aos crimes sexuais, mas a cultura do estupro permanece ativa.
Confira os dados do estudo realizado pelo Ipea, sobre os índices de estupro no Brasil:
Quem deveria ser exemplo, reforça a cultura do estupro
Outrora nanicos, os representantes conservadores conquistaram bons resultados nas últimas eleições, gerando bancadas com maior musculatura e poder de barganha para impor a agenda do retrocesso no país.
O presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), conseguiu aprovar um Projeto de Lei que dificulta o aborto para mulheres que são estupradas. Além dos Projetos de Leis, a postura de certos parlamentares choca. Deputado mais votado no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro (PSC) disse à deputada Maria do Rosário (PT) que ela não deveria ser estuprada, pois ela não merecia, além de defender publicamente torturadores que violentaram mulheres com ratos durante a ditadura militar. Dando sequência à onda de valorizar a cultura da violência, o ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) não ficou para trás e recebeu na semana passada, em seu gabinete, o ex-ator pornô Alexandre Frota. Também líder do grupo de extrema direita “Revoltados on Line”, Frota relatou um estupro em programa de TV. O público riu, o apresentador Rafinha Bastos, idem.
E a sociedade reproduz…
Não seria estranho, em um contexto de naturalização da violência, que certas práticas se tornassem corriqueira. Recentemente, vários carros foram adesivados com a imagem da presidenta afastada Dilma com as pernas abertas. Primeira mulher eleita presidenta do Brasil, Dilma sofreu ataques que beiravam a perversidade. Nenhum presidente do sexo masculino foi ofendido de puta, safada, feia e burra ou tiveram suas imagens relacionadas a situações grotescas e constrangedoras, (quem não se lembra da mandioca), Dilma foi.
#AgoraQueSãoElas
Em contraponto ao extremismo e ao conservadoríssimo político que contamina relativa parcela da população, vemos surgir uma geração de mulheres donas dos seus corpos e vão às ruas, denunciar qualquer tipo de imposição machista, que gritam quando são abusadas, que possuem sororidade umas com as outras e não suportam mais serem minorias nos espaços de poder, ou subestimadas no mercado de trabalho.
Do movimento Meu primeiro assédio ao Chega de Fiu Fiu, essa nova geração empoderada, diz um basta contra o sistema patriarcal e da esperança de que nada será como antes.