Publicado 30/05/2016 08:42 | Editado 04/03/2020 16:24
Meus leitores, infelizmente não temos tempo bom. Na última semana, ficamos todos chocados com mais um grave crime sexual perpetrado contra as mulheres em nosso país. A notícia do estupro coletivo de uma menor de 16 anos na cidade do Rio de Janeiro abalou todo o mundo. Depois de refletir e ler a respeito do ocorrido, resolvi escrever sobre o triste tema. Outra motivação foi a revolta que tomou conta do meu ser ao ler na imprensa e redes sociais textos distorcidos e que procuraram imputar à vítima a culpa pelo crime sofrido. O post do cantor Lobão (e pensar que algum dia curti suas músicas) foi um deles. O infeliz publicou no Twitter que "não é de se surpreender esses lamentáveis casos de estupro”, “num país que se fabrica mini-putas", uma imbecilidade infinita.
Sempre tive uma relação muito forte com o sexo feminino. Fui o primeiro filho homem depois de minha querida mãe ter tido cinco meninas. Meu pai já estava para desistir de tanto esperar um varão. Para minha alegria, nasci de uma gravidez gemelar, com uma irmãzinha. Ao todo são seis irmãs. Tenho quatro lindos filhos, dos quais três são do sexo feminino, e mais uma netinha. Conheço bem a alma feminina. Sei que as mulheres devem ser valorizadas, tratadas com todo o carinho, respeito e amor.
Muito já se falou da cultura do estupro em nosso país, do machismo e até, pasmem, da culpa das mulheres pelas agressões sexuais sofridas, em uma completa distorção dos fatos. É realmente um absurdo tentar repassar para as vítimas o ônus dos crimes suportados, e aí encontrar um álibi ou licença para os homens perpetrarem crimes sexuais e até o estupro. Nesse caso concreto, que motiva meu artigo, nota-se que a postura da polícia e do delegado que investigava o crime mereceu uma reprimenda e o seu afastamento do caso merecidamente. O mesmo não acolheu a vítima como seria devido, mas sim a questionou, colocando dúvida na população. Ele não tem condições de conduzir casos semelhantes a esse. Durante o depoimento da vítima, fez perguntas que claramente tentavam culpá-la pelo estupro. A velha atitude machista.
O que leva um indivíduo a praticar ato tão abominável? Muitos fatores, desde distúrbios psicológicos, psiquiátricos, de caráter, a marginalidade, o machismo e até a certeza de impunidade podem ser citados como desencadeadores de tal atitude. Será que os marginais não têm mães, irmãs e mulheres em suas famílias? Não pensam na gravidade, em todos os aspectos, que vão desde cicatrizes psicológicas incuráveis, as quais na maioria das vezes acompanharão as vítimas por toda a vida; até a morte?
Não acho que os responsáveis apresentem qualquer tipo de distúrbio mental, os criminosos agiram acreditando que ficarão impunes. A crença na impunidade é alimentada por uma cultura machista que, muitas vezes, repito, culpa as vítimas e absolve os criminosos. Um dos jovens envolvidos na divulgação das imagens da adolescente alega que não sabia que a jovem tinha sido estuprada e muito menos que era menor. Nada justifica. Deve pegar pena máxima para o caso e já deveria estar preso, uma vez que é réu confesso.
Para o patético cantor Lobão e outros indivíduos do mesmo naipe, encaminho algumas matérias policiais que comprovam o meu ponto de vista, uma vez que para os imbecis de plantão, só desenhando mesmo.
"Se ela estivesse estudando isso não aconteceria!"
Menina estuprada em escola de São Paulo reconhece agressores
"Se ela estivesse na igreja isso não aconteceria!"
Jovem é estuprada dentro de secretaria de igreja em Brasília
"Se ela estivesse em casa isso não aconteceria!"
Morre jovem encontrada com sinais de estupro dentro de casa na Zona Norte
"Se ela estivesse trabalhando isso não aconteceria!"
Jovem é atacada e estuprada a caminho do trabalho
"Se ela tivesse um namorado fixo isso não aconteceria!"
'Meu namorado me estuprou por um ano enquanto eu dormia'
"Se ela fosse mais família isso não aconteceria!"
Adolescente com deficiência física é estuprada pelo tio em RR
"Se ela fosse menos 'puta' isso não aconteceria!"
Menina (de 1 ano e meio) morta em igreja foi violentada
"Se ela tivesse mais cuidado isso não aconteceria!"
Jovem é estuprada em estação do Metrô de São Paulo
Minha solidariedade e dos homens na melhor acepção da palavra a todas as mulheres. Aos estupradores, que não considero como homens, mas sim como animais, uma punição exemplar. Exigimos também uma justiça célere e mudanças na nossa legislação a fim de ampliar as penas e torná-las compatíveis com a gravidade dos crimes sexuais. Vamos todos juntos, homens e mulheres, gritar bem alto as hashtags: #EstuproNuncaMais #MachistasNãoPassarão #EstuproNãoÉCulpaDaVítima
*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.
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