Mesmo com trensalão e merendão, Moraes diz: Em SP "não tem escândalo"
Compondo um ministério com pelo menos 7 investigados na Lava Jato e recém-saído de um governo coberto de suspeitas de corrupção em esquemas como trensalão e merendão, o ministro da Justiça do gabinete de Michel Temer, Alexandre de Moraes, disse que não há investigações sobre esses casos porque “não têm escândalos”.
Publicado 16/05/2016 10:25
A resposta foi dada em entrevista publicada nesta segunda-feira (16) na Folha. S. Paulo, em que Moraes, tenta explicar o fato de não ter investigações sobre os esquemas de corrupção no governo tucano. Segundo ele, "a diferença em relação ao governo federal é que o governo de São Paulo é honesto” e um governo de notáveis honestos “é menos investigado porque não tem escândalos”.
A jornalista Mônica Bergamo insistiu e apontou o trensalão e merendão como escândalos e ele minimizou: “Se há alguém que, aqui e ali, tem um desvio, o próprio governo investiga, como no caso da merenda, e demite. É diferente de um governo que endemicamente pratica a corrupção”, disse.
Sobre o fato de investigados na Lava Jato serem nomeados ministros, Alexandre de Moraes se mostrou pouco indignado. Disse que não vê “contradição por parte do presidente Temer” e novamente deu uma explicação ensaboada.
“Quem investiga, investiga um fato. E não pessoas. Se houver fatos que levem a pessoas, não importa se são do partido A, B, ou C – elas serão responsabilizadas. Essa é a determinação do presidente Temer, e ele sabe que esse é o meu modo de proceder. Eu jamais permitiria que o MP ou a PF escolhessem investigados”, disse.
De acordo com Moraes, apesar do PMDB ser citado por diversos delatores e ter nomes do comando do partido envolvidos em esquemas de corrupção, isso não é relevante: “Quem conhece o funcionamento do governo federal sabe que o governo era o PT”.
Para fazer valer o princípio tucano de controle das investigações para que não se tornem escândalo, o ministro fez questão de informar que Temer não devea nomear obrigatoriamente, para a chefia da Procuradoria-Geral da República, o mais votado em uma lista tríplice por integrantes da carreira.
Desde o governo do ex-presidente Lula, o indicado para o cargo era o primeiro da lista mais votado entre os procuradores. O último foi o procurador Rodrigo Janot. A Constituição não prevê a eleição interna na Procuradoria, mas a conduta era elogiada por membros do Ministério Público por garantir maior autonomia ao órgão.
Ele também voltou a falar sobre o tratamento que dará ao movimento sociais. Citou São Paulo como exemplo “de tranquilidade e segurança nas grandes manifestações”. A realidade é bem diferente. Sob o seu comando, a atuação da Polícia Militar segue padrões de truculência e agressão principalmente contra os jovens e professores.
Ele também insiste no discurso que criminaliza as ações dos movimentos. ”Qual é o limite entre o direito de manifestação e a repressão a organizações que não estão se manifestando? É a prática de crime. Então todos têm o direito de se manifestar, sem armas, de forma pacífica e com prévia comunicação às autoridades, à Polícia Rodoviária e à PF”, diz.