Plebiscito por eleições já, por quê?
Desde 17 de abril, após a decisão infame da maioria da Câmara dos Deputados, está em andamento, um golpe de Estado. A questão, agora, é se a resistência democrática conseguirá sustá-lo ou se o consórcio golpista irá consumá-lo, na tramitação do impeachment fraudulento no Senado Federal.
Por Adalberto Monteiro*
Publicado 02/05/2016 15:39
Para o PCdoB, a resistência democrática deve canalizar as energias para conseguir o difícil, mas não o impossível, que é barrar o golpe no julgamento do Senado. A proposta de luta por um plebiscito por eleições diretas para presidente reforça esse objetivo. Não se trata de trocar uma luta por outra. Simultaneamente, a propaganda pelo plebiscito se realizará em ondas, que esperamos crescentes, de pressão de resistência democrática sobre o Senado para que a presidenta Dilma Rousseff seja absolvida no julgamento. Julgamento pelo qual iremos batalhar para que seja algo que ao menos se pareça com esse nome.
Espera-se para dia 11 de maio o fim da primeira etapa da fase do Senado. Senadores e senadoras contrários ao golpe, articulados com a resistência democrática tudo farão, e estão já realizando, para impedir a admissibilidade do impeachment. Os atos do 1º de Maio e de outras tantas manifestações já ocorridas e por acontecer fazem parte dessa jornada.
Os golpistas com Michel Temer à frente, já “nomeando” ministros e distribuindo cargos, irão já na etapa da admissibilidade buscar arrebanhar 54 votos – número necessário para aprovação do impeachment na fase definitiva, que é o julgamento. Pretendem, com isso, desestimular a resistência.
Do lado das forças democráticas, tudo está sendo feito para que no dia 11 de maio, contra a admissibilidade, se some algo em torno de um terço dos votos, o que sinalizaria chance de vitória da democracia contra o golpismo na etapa final do processo.
Cerca de trinta senadores e senadoras assinaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) propondo antecipação das eleições presidenciais. Um elenco de onze senadores enviou uma carta à presidenta Dilma Rousseff com o mesmo teor. Neste ponto, fica evidente o que foi afirmado na abertura deste texto. A proposta do plebiscito por “diretas já” dialoga com essa tomada de posição desse conjunto de senadores e aumenta a possibilidade de que tenhamos o número de votos necessário para barrar o impeachment.
Fica claro que se equivoca quem diz que a proposta é correta, mas que deveria ser apresentada somente depois do julgamento. Não! Exatamente, agora, ela deve ser lançada para influenciar já na votação do dia 11. Continuará útil depois para confrontar o presidente sem voto, isto é, o impostor Michel Temer. E seguirá útil para angariarmos os votos necessários ao impeachment na fase de julgamento.
Além disso, a proposta por Diretas Já pode alimentar a resistência democrática com novas energias, visto que pesquisas de opinião pública apontam que mais de 60% apoiam essa bandeira, além de agregar frações de campos políticos e sociais diversos.
Vem a pergunta: E se derrotarmos o impeachment no julgamento e a presidenta Dilma Rousseff, uma vez afastada, retornar ao posto, o que faríamos com a proposta do Plebiscito por Diretas Já?
Mesmo que tentar responder a essa pergunta já seja enveredar por um temerário futurismo, vamos lá. Respaldada por essa vitória histórica, retirado, pela luta do povo, o impostor Michel Temer do Palácio do Planalto e devolvida a cadeira presidencial à presidenta Dilma Rousseff, ela, com a legitimidade de seus 54 milhões de votos, fiel que é aos interesses maiores da Nação, poderia propor a convocação do plebiscito. O povo no alto de sua soberania seria chamado a decidir qual o melhor caminho para se restaurar e estabilizar o sistema democrático brasileiro.
*Jornalista, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios