Durante sessão, senadores desmontam tese de autores do impeachment
Deu-se início nesta sexta-feira (29) à sessão da Comissão Especial do Impeachment no Senado marcada para ouvir o advogado-geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, o ministro do Fazenda, Nelson Barbosa, e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, em defesa da presidenta Dilma Rousseff.
Publicado 29/04/2016 10:06
Esta será a quarta vez que Cardozo vem ao Congresso Nacional para rebater os argumentos da acusação que fundamentaram o pedido de impedimento assinado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal. Na Câmara ele participou de duas sessões da comissão especial que analisou o processo e também falou no plenário, no dia da votação que admitiu o andamento do processo contra a presidenta.
Na quinta (28) o colegiado ouviu Janaína e Reale Júnior, que sustentaram a continuidade do processo. A advogada, que negou ser filiada a partido político, afirmou: “Eu quero que as criancinhas, os brasileirinhos que estão me ouvindo, que eles acreditem que vale a pena lutar por esse livro sagrado que o PT não assinou. Por isso eles dizem que é golpe”.
Janaína insistiu na tese de que a transferência contábil feita pelo governo para pagar programas sociais tratava-se de crime de responsabilidade. Disse que o Senado não deve se ater aos créditos suplementares e ao repasse ao Plano Safra ao julgar o processo, contrariando a decisão do STF de que o processo de impeachment deveria se debruçar apenas a esses dois elementos da acusação.
“O que a doutora está falando é que temos que desconhecer tudo o que o Supremo decidiu, podemos fazer o que quiser”, sintetizou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Então, temos que desconhecer a Câmara, que votou a denúncia, embora com a barbaridade de falar de tudo o que é assunto para justificar, mas o Supremo fez a delimitação do objeto. Temos que seguir o Supremo”, completou.
Mesmo considerando os dois elementos delimitados pelo STF, os autores do pedido de impeachment não foram capazes de demonstrar a ocorrência de crime de responsabilidade por parte de Dilma. “Temos que discutir aqui a denúncia da presidenta da República. Crime, tipicidade, se teve conduta, se teve dolo”, afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Com todo respeito, mas o senhor falou de política, falou de crise econômica, mas não se ateve aos fatos.”
Lindbergh criticou a mistura de conceitos essenciais do Direito por parte de Reale Jr. Isso porque os decretos de créditos suplementares respeitaram a legislação brasileira e se destinaram à realização de benefícios à população. “São erros conceituais que tem a denúncia”, afirmou o senador.
“O senhor fala sobre superavit e excesso de arrecadação. Professor, esse excesso de arrecadação não é do governo federal, é um rubrica específica. Por exemplo: Justiça Eleitoral teve um concurso e muitos inscritos, então, ganhou um recurso e queria utilizar esse recurso adicional. Ela pediu um decreto de suplementar. Sabe outro exemplo? Hospital universitário.”
Além disso, Lindbergh reforçou que o governo Dilma sempre seguiu o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU). “A mudança do entendimento do TCU aconteceu em outubro de 2015, depois da emissão dos decretos”, lembrou. “E a legislação diz que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Quer dizer que a mudança da lei pode retroagir? O senhor confunde tudo.”
Por volta das 19 horas, Reale Jr. decidiu deixar a sessão sem ser questionado, alegando que já tinha vôo agendado. A decisão provocou reações dos senadores, que criticaram a falta de compromisso com a gravidade da crise política. “O senhor tem disposição para sugerir o impeachment, mas não para acompanhar o andamento do processo?”, chegou a questionar o senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
“A exposição dos que vieram apresentar a denúncia é extremamente desqualificadora do processo”, avalia Gleisi Hoffmann. “Porque nem o professor Reale falou juridicamente, nem essa moça [Janaína Paschoal] está falando, está perdida, sem foco. E temos que ouvir isso, achar que é um processo de denúncia e não há qualificação por parte de quem está apresentando a denúncia.”
A senadora questionou diretamente a advogada: “Qual o crime de uma presidenta assinar um decreto e fazer um crédito suplementar, me diga, por favor? Sabendo que esse crédito suplementar não tem impacto no resultado primário, porque ele é orçamentário, e orçamento é regime de competência”.
Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a falta de isenção e respeito às regras de um julgamento justo ficam claras com o fato de o relator do processo ser o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). “Não pode um relator ser do partido que fez a denúncia, e o senhor é do PSDB, o partido que fez a denúncia”, sintetizou.
O senador Telmário Mota (PDT-RR) perguntou se a advogada assinaria pedidos de impeachment contra os nomes de políticos que circulam em um governo golpista de Michel Temer. “Até o momento, não há que falar em pedido de impeachment para Temer”, respondeu Janaína Paschoal.
Assista à intervenção do senador Lindbergh Farias: